22/08/2023
Educação

Projetos ensinam que política não é politicagem

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Pinhão – Nos tempos que correm é frequente ouvir da boca de muitos jovens, frases como: "A política é chata!", ou "Isso é um desperdício de tempo!", ou "Não vai adiantar nada!", entre muitas outras. Com o objetivo de aproximar os jovens da política, o professor de História do Colégio Estadual Santo Antônio, Jorge Nei Neves e o advogado Francisco Carlos Caldas promovem debates e discussões sobre política social e partidária.
“A escola é o ambiente propício para atentar ao bem comum do seu cidadão, da coletividade e da comunidade, portanto dentro da instituição escolar, a política, sem viés partidário pode ser objeto constitucional do currículo”, disse o professor. O projeto Participação Política e Liberdade Democrática integra um Programa da Secretaria Estadual de Educação. “O projeto foi ofertado aos alunos como uma disciplina optativa, todos que se inscreveram no projeto foi por vontade própria. Não há avaliações, nem notas, simplesmente vontade de aprender”, explicou Jorge.
Atualmente 20 alunos participam do projeto, comparecendo a quatro aulas por semana. Nesses encontros eles debatem as mais variadas formas de políticas. “A noção que os jovens têm da política é aquela repassada pela mídia, é a corrupção, escândalos, enfim, eles possuem uma visão totalmente negativa da política. A nossa intenção é mostrar que política é mais que somente politicagem, é algo mais complexo que cerca a nossa vida o tempo todo. Queremos criar nessa juventude uma idéia nova, fazendo que eles falem e discutam política”, frisou o professor.
Como trabalha com jovens, um dos objetivos do projeto é também dar ênfase ao movimento estudantil. “O Grêmio Estudantil representa um espaço onde os alunos podem participar da gestão escolar, os alunos precisam entender que não estão separados da escola, eles são parte integrante e é a sua participação que fará a diferença”, disse ele. Nas aulas, os estudantes estão aprendendo toda a trajetória do movimento estudantil no Brasil, desde a ditadura militar até os caras pintadas que levaram o presidente Collor ao impeachment. “Nossa juventude já ocupou um espaço maior nas decisões políticas do país. A juventude tem que voltar a ser mais participativa, exigindo seus direitos, acompanhando os acontecimentos, ajudando a construir a cidadania. Nosso poder vai além do voto, e temos que aprender a utilizá-lo”, ressaltou Jorge.
Os estudantes Agner Felipe Ramos, 15 anos e Claudinéia de Oliveira, 11 anos, começaram a freqüentar as aulas a convite de amigos, e agora já sentem uma mudança em suas opiniões sobre política. “Eu achava que falar de política era muito chato, agora estou gostando bastante e meu conceito de política mudou. Agora eu sei que política é bom e importante”, disse Agner. E a pequena Claudinéia afirma, “È bem legal ter aula de política, eu gosto muito”.
“Educar politicamente para a cidadania é principalmente educar um sujeito participativo para ser um sujeito crítico, no sentido de participante da democracia. Essa é a verdadeira educação para uma nova cidadania. Educar é uma ação que propõe a convivência social, a cidadania e a tomada de consciência política, fazendo de cada sujeito um autor de transformação social”, finaliza o professor Jorge.
Escolinha de Política
O advogado Francisco Carlos Caldas, desde 2008, desenvolve o projeto Escolinha Informal de Política e Cidadania. A Escolinha de Política realiza encontros na terceira quinta-feira do mês, das 19 às 20 horas no prédio do PMDB, porém Francisco Carlos enfatiza que o projeto é apartidário. “A escolinha não é agregada ao PMDB, apenas utilizamos o espaço físico. O objetivo é disponibilizar um espaço onde todas as pessoas aprendam sobre política e cidadania”, explica ele.
A escolinha é aberta a toda a comunidade, é gratuita e nem tem restrição de idade. “A gente vê que apesar de toda a massa de informação que temos hoje em dia, e que aparentemente as pessoas estão bem informadas sobre política, isso na pratica não se concretiza. O analfabetismo político ainda é muito grande, e muitas vezes os próprios políticos são mal informados. Sentimos que a população tem uma carência de se tornar mais politizada”, ressaltou Francisco.
O advogado frisou que as palestras são em uma linguagem bem popular para facilitar o entendimento. Assuntos como as funções dos vereadores, o papel dos partidos políticos, responsabilidade fiscal e regularização de imóveis, já foram discutidos. Estão previstos para os próximos encontros temas como ética, liberdade, licitações públicas, desenvolvimento sustentável, crimes ambientais, entre outros. “Os temas são os mais variados possíveis, e são sugestões dos participantes, porque nosso objetivo é fazer com que o cidadão participe. Nos interessa levar o cidadão a pensar e refletir sobre os fatos que acontecem no dia a dia”, explicou.  
Sobre a juventude, Francisco Carlos lembra que os jovens pinhãoenses já foram mais ativos. “Com o grande número que temos de universitários aqui em Pinhão era de se esperar uma participação mais efetiva da nossa juventude, mas isso não ocorre. Em 1985, um fato que me marcou muito, foi uma passeata realizada como forma de indignação contra o jornal Hora da Verdade. Os jovens saíram às ruas mostrar sua indignação e fazer o seu protesto, foi algo contagiante. Atualmente vemos uma juventude mais apática”, conclui.
Francisco Carlos e o professor Jorge parecem concordar que desde os chamados “Caras Pintadas”, que foram personagens fortes para a retirada de Fernando Collor de Mello da Presidência da República, não vemos mais nenhum grande movimento político desses cidadãos brasileiros. Os jovens precisam voltar a se interessar por política, principalmente a política de seu país que vem sofrendo muito com ministros, senadores, deputados e prefeitos corruptos que praticam seus golpes contra a nação e ficam impunes sobre os atos que cometeram. A manifestação é um ato democrático que o brasileiro tem que se acostumar a praticar. Manifestar não é pegar em armas e sair por aí dando tiros, mas sim mostrar de forma pacífica e intensa a nossa vontade de mudança, por um país mais justo.
 
Foto: Agner Felipe Ramos e Claudinéia de Oliveira, os estudantes dizem que estudar sobre política é legal
 
Foto e texto: Edinéia Schoemberger/Fatos do Iguaçu

Cristina Esteche

Jornalista

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