Há quatro anos sem reposição inflacionária, funcionários da Ferroeste em Guarapuava e Cascavel paralisam as atividades a partir da meia-noite desta segunda (29) para terça (30), Dia do Ferroviário. São 80 servidores que trabalham em Guarapuava e outros 100 em Cascavel, perfazendo um percurso de 248 quilômetros entre as duas cidades, com cerca de cinco viagens, indo e vindo, escoando a safra de grãos.
De acordo com ferroviários, esta será a primeira vez que haverá paralisação. “É que a situação ficou muito grave. Imagine você prestar um concurso público com um salário muito bom e esse valor ir sendo consumido, sem nem mesmo a reposição inflacionária”, disse um ferroviário ao Portal RSN. Ele pediu para não ser identificado por medo de represálias.
Outra reclamação é o fato de que de 2017 para cá a diretoria passada, “escolheu a dedo” 10 a 15 pessoas para conceder 10% de aumento em detrimento dos demais. Mas a reclamação maior por parte da categoria, é o que chama de “descaso” por parte do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias (Sindifer).
Em nota, o Sindifer pediu que os ferroviários aguardem o resultado do julgamento do dissídio 2015/2016 que está em trâmite na Delegacia Regional do Trabalho (DRT), antes de qualquer mobilização. Segundo o secretário do Sindifer, Anderson Andreata, a paralisação corre o risco de ser julgada irregular já que é uma iniciativa isolada, sem deliberação da categoria em assembleia.
Ele reconhece a falta de reposição dos dissídios 2015/106, 2016/2017 e 2017/2018 e diz que o sindicato está fazendo reuniões com a diretoria da Ferroeste, com o governado Ratinho Júnior quando era candidato. “Temos empenhado todos os nossos esforços, mas temos que enxergar por todos os ângulos e fazer as coisas legalmente”, afirmou ao Portal RSN.
Já o diretor de Produção da Ferroeste, Gerson Almeida, disse que embora a empresa seja de economia mista, e não esteja incluída no limite prudencial do Governo do Estado, fazendo a sua própria gestão, ainda depende do aval do Conselho de Empresas Estatais duais (CCEE) para liberação financeira. Segundo o diretor, é importante salientar que após o ano de 2015, foi criado por lei o Conselho de Empresas Estatais, o CCEE o qual, é responsável dentre outras competências, nas análises de pedidos de reajustes salariais, estando a Ferroeste incluída dentro destas empresas.
“A primeira ação tomada na nova diretoria e na gestão do governador Ratinho Júnior, foi levar estas pendências e estes pedidos para análise deste conselho pedindo total prioridade. Ressaltamos que houve uma crise em nível Brasil, fazendo com que os estados precisassem se adequar as novas realidades econômicas, o que impediu estes reajustes no intuito de manter em dia os salários, 13º e demais benefícios dos empregados. Nossos pedidos já estão junto a este Conselho e juntamente com o sindicato , estamos procurando uma solução rápida”.
Segundo Almeida, o maior desafio da atual gestão é resgatar o “orgulho de ser rodoviário”, condição que passa pela recuperação salarial. “Precisamos dar condições para o trabalhador trabalhar feliz”.
Gerson Almeida diz que trabalhou durante 12 anos na ferrovia e que é preciso resgatar o que se perdeu ao longo dos anos. Em relação á paralisação, Almeida diz que como Sindicato, informou que não apoia a paralisação, “nosso pessoal está muito engajado com a empresa, salvo uma pequena minoria. Cada caso será analisado isoladamente pela diretoria da Ferroeste. Não temos, nem pretendemos em momento algum aplicar medidas punitivas, porém todos tem um histórico a ser analisado”.
Com um faturamento de R$ 9 milhões nos três primeiros meses deste ano, considerado “muito bom” pela diretoria da empresa, mesmo assim a Ferroeste é uma empresa deficitária, cujo déficit veio acumulando ao longo dos anos. “E mesmo com todo este déficit nossos funcionários sempre foram prioridades, prova que conseguimos manter mesmo com toda a situação econômica do país salários e benefícios em dia”.
Segundo Gerson Almeida, projeções boas geram expectativas boas, “de forma que é muito mais fácil justificarmos os nossos pedidos de reajustes que são merecedores pelo nosso time em uma situação econômica favorável, do que solicitar um reajuste com déficit financeiro acumulado ao longo dos anos. Isso nos dá a certeza que conseguiremos resolver este impasse logo para colocar nossa ferrovia no patamar que ela merece”.