Fotos que circulam nas redes sociais e que tem como endereço a carceragem da Cadeia Pública de Guarapuava transformam os possíveis suicídios em suspeita de homicídios de presos. Os autores seriam os próprios presos. As causas porém são desconhecidas.
Uma das fotos mostra a última vítima Valderi Knopik, de 30 anos, com uma corda de varal em volta do pescoço e presos comemorando com gestos de mãos. A identificação de Valderi nas fotos foi possível pela descrição do Instituto Médico Legal (IML) sobre o corpo (shorts branco), conforme apurou o Portal RSN.
Mas esses fatos vão muito além das mortes já ocorridas sendo quatro no total somente neste ano, numa sequência de poucos dias entre uma e outra, nos últimos dois meses: 7 de março, 24 de março, 25 de abril e 28 de abril. Uma dessas mortes foi na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG). Familiares de Leonardo Martinelli, de 26 anos, não acreditam que ele tirou a própria vida.
Nos casos da Cadeia Pública, familiares de presos denunciaram ao Portal RSN que as mortes estão sendo anunciadas publicamente nos dias de visitas, aos sábados. “As ameaças vem do fundão e se intensificam a cada semana”, disse um familiar. Segundo a fonte que pediu para não identificada por medo de represálias à pessoa da sua família que está presa, o segundo morto por enforcamento, Samuel da Cruz Wass, de 23 anos, pediu socorro pouco tempo antes de morrer.
Era dia de visita e ele gritava dizendo que iam matá-lo. Pedia que o tirassem dali. Nós ouvíamos os gritos desesperados e o barulho de pancadas. Eram mulheres, crianças que visitam seus presos e aqueles gritos ensurdecedores pelos corredores. Ele dizia que estava sendo espancado e que morreria, sem que alguma coisa fosse feita. Depois só vimos a notícia de que ele foi encontrado enforcado na cela.
Na semana seguinte, segundo o familiar de preso, dois rapazes que viram a morte de Crisley estavam apavorados porque seriam os próximos a ter a morte decretada. “Um deles passou mal e pediu para ser retirado da cela. Quando conseguiu sair o outro aproveitou e foram levados para o ‘seguro’ [espaço reservado para estupradores]”.
Esse homem solicitou a transferência para a cadeia de Cascavel numa troca de presos. “Tem alguém de Guarapuava que está preso lá e quer vir para cá”.
Segundo a fonte, a transferência já foi autorizada judicialmente, porém, o homem continua em Guarapuava. “Ele está no corró [cela ou xadrez existente em delegacias de polícia], sem receber sacola com comida, sem visitas”.
Outro ponto descrito pelo familiar ao Portal RSN, é que já existem seis pessoas transferidas do “fundão” para a cela do “seguro” por estarem sentenciados. “Essa cela tem capacidade para 12 e já tem cerca de 40 presos”.
Até o último sábado (27) outro preso chegou ao “seguro”. Conforme informações dadas ao Portal RSN, trata-se de um jovem que estaria com a morte decretada. “Depois que o SOE [Serviços de Operações Especiais] saiu – após a operação bate grade do último dia 25 de abril – um grupo foi até a bocão do ‘seguro’ e disse que caso não matem esse rapaz lá dentro, eles vão invadir a cela”.
Pessoas que visitam presos do chamado “fundão” contam em conversas que há rumores de nova rebelião. De acordo com o delegado-chefe da 14ª Subdivisão Policial, Rubens Miranda Júnior, as mortes estão sendo investigadas. A função cabe à polícia, já que a delegacia não possui nenhuma inserção na carceragem, órgão subordinado diretamente ao Departamento Penitenciário do Paraná (Depen). O Portal RSN pediu um posicionamento ao Depen, mas até o fechamento dessa reportagem não recebeu uma reposta.