O trabalho de pesquisa da guarapuavana Antonielle Beatriz Baldissera, doutoranda da Universidade Federal do Paraná (UFPR) será uma grande contribuição no tratamento de câncer de mama. Porém, o corte de recursos proposto pelo Governo Federal prejudicará a pesquisa.
Resumidamente, o objetivo do seu trabalho é utilizar a sertralina, que é usada para tratar ansiedade e depressão, combinada com quimioterápicos, para reduzir a formação e tamanho de diversos tumores, além de reduzir características que tornam uma célula tumoral maligna. “Nós trabalhamos com melanoma, mama e hoje estamos estudando o neuroblastoma. E já observamos e publicamos dados que mostram que a sertralina combinada com o quimioterápico usado para melanoma diminui a formação de tumores”. Segundo Antonielle, que é formada em Ciências Biológicas, o que se busca é um tratamento que não seja tão agressivo para o paciente, diminua o tumor e seja condizente com a realidade do país.
São pesquisas como a de Antonielle que deixarão de existir, caso a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) insista na suspensão de bolsas. Somente na Universidade Federal do Paraná (UFPR) 127 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado foram afetadas.
Embora não seja suspensa a bolsa de apenas R$ 2200 que Antonielle e outros doutorandos recebem para as pesquisas, o trabalho que já tem poucos recursos pode ser comprometido.
“A gente já trabalha bastante com muito pouco. No nosso laboratório e na grande maioria não tem técnico, então além de todo nosso trabalho, a gente ainda tem que preparar todo material de trabalho, desde uma solução básica até vidraria. Além disso, todos os materiais que utilizamos para realizar a pesquisa, muitas vezes são reutilizados pois a verba que temos já é pouca”.
Segundo a doutoranda, diferente do que a maioria das pessoas pensam, fazer ciência no Brasil é muito difícil. “Além da falta de valorização, muitas vezes fazemos inúmeros sacrifícios para que o experimento aconteça, já chegamos até no ponto de reutilizar ponteira de plástico para economizar e por não ter como comprar mais. Então, com certeza, mais um corte desses, afeta sim a nossa pesquisa”.
De acordo com Antonielle, as pessoas tem uma visão muito surreal das universidades e principalmente do que é feito dentro delas.
“Quem faz pesquisa é porque realmente gosta e tem vontade de mudar as coisas, porque não tem prestígio algum, além de receber uma bolsa que não tem reajuste desde 2013, a gente não faz só a pesquisa e vai embora. A gente faz limpeza do laboratório, com exceção do chão, limpeza de material, preparação de diversas soluções, corremos atrás de orçamento e damos aula”.