22/08/2023


Brasil Guarapuava Política

Médico cubano desabafa: “o que vou fazer para dar um teto à minha família?”

Durante cinco anos, Jorge trabalhou na UBS no bairro Primavera em Guarapuava

médico cubano

Jorge Felix Batista (Foto: Larissa Ortiz/RSN)

O médico cubano Jorge Felix Batista, cuida da saúde de pessoas há 34 anos, dos quais cinco em Guarapuava. Vindo de Havana pela política que havia entre o Brasil e Cuba, no programa ‘Mais Médicos’, o rompimento pelo atual Governo Federal, porém, trouxe problemas.

Se os municípios sofrem com a falta de médicos, Jorge está na outra ponta: casado com guarapuavana, pai de dois filhos, morador no Bairro Primavera onde trabalhava, com residência permanente no Brasil, o médico está desempregado e desesperado.

Sempre fiz um bom trabalho, sou elogiado pelos pacientes que pedem pra que eu volte a trabalhar. As pessoas me param na rua dizendo que estou fazendo muita falta. Mas não estou conseguindo emprego. Posso estar com os bolsos vazios, mas o coração está cheio de amor.

Jorge está impedido de atuar como médico, porque fora do programa ‘Mais Médicos’, ele precisa fazer o revalida – exame nacional de revalidação de médicos brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil, que obtiveram diploma de graduação em instituições estrangeiras reconhecidas no país de origem. Porém, o exame não é ofertado desde 2017.

Enquanto aguarda o revalida, Jorge se propõe a trabalhar como motorista, cuidador ou em qualquer outra função. “Estou desesperado. Tenho uma família para cuidar e hoje não tenho dinheiro nem pra comprar fraldas para os meus filhos”, disse entre lágrimas.

Para tentar ganhar algum dinheiro, o médico vende chinelos e pulseiras magnéticas, mas “o ganho é pouco, pois tem dias que não vendo nada”. Com carteira de trabalho e documentação legalizada, o médico está apto a exercer qualquer atividade, mas não está tendo oportunidades. Ele também reclama do preconceito contra os médicos cubanos.

Aqui na cidade tem médicos de outros países e são tratados normalmente, mas nós cubanos somos vistos com desprezo. Não temos nada a ver com política, com partidos de direita ou de esquerda. Só queremos trabalhar, dar dignidade à família que constituímos aqui e com pessoas que são guarapuavanas.

Segundo Jorge, hoje apenas a esposa está trabalhando para manter a casa. Porém, como o emprego é temporário, o contrato termina no dia 30 de maio. “E daí o que vou fazer para dar um teto à minha família? Estou desesperado. Me proponho a trabalhar em outro município aqui perto de Guarapuava”.

Jorge conta que trabalha em qualquer coisa, mas quer voltar a fazer o que mais ama e o que sabe fazer de melhor: exercer a medicina.

Quando olho para o meu jaleco pendurado me dá vontade de chorar. O melhor que sei fazer na vida é ser médico. Mas enquanto isso não acontece aceito outra atividade, mas preciso trabalhar.

Cristina Esteche

Jornalista

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