Olhando de fora, nem parece um presídio. Mas é. E mesmo sendo um apenado, estar aqui também não é para todos. Além da tarefa diária dentro da penitenciária, escolher quem pode ser um interno na PEG UP não é tarefa tão simples como pode parecer. Cada um dos 136 presos tem uma história, dentro e fora da unidade.
Conforme Américo Dias Pereira, diretor da penitenciária, é um trabalho difícil, porque ele começa desde a seleção, como explica no vídeo abaixo.
ALMOXARIFADO
Depois de assinar o aceite concordando com as regras da unidade, o interno selecionado passa pelo almoxarifado. E a gente vai entender que lugar é esse. De maneira simples, podemos dizer segundo os dicionários que o almoxarifado é “um importante setor das empresas, sejam públicas ou privadas, e consiste no lugar destinado à estocagem em condições adequadas de produtos para uso interno”.
Mas na minha percepção, na penitenciária estadual, o almoxarifado é mais que um lugar para estocar produtos de uso interno. Este setor também foi um dos primeiros que conhecemos, já que percorremos o caminho trilhado pelo interno na unidade. Da chegada até a saída. E é no almoxarifado que o preso receberá o material necessário para uso durante todo o tempo que ele permanecer na PEG UP.
NÚMEROS
Ao entrar na sala, uma imagem me chamou a atenção. No alto da sala, sacos numerados com roupas, esperavam o próximo preso. Aqui dentro eles são números. Apenas números. Mesmo passados 30 anos, me lembrei da época que fui militar e servi o exército. Na camiseta verde-oliva havia meu número.
Assim, lá dentro, eu era o Sd 855. Inicialmente pelo menos, era chamado pelos superiores pelo número. A diferença é que não estava preso, mas cumpria com a obrigatoriedade do serviço militar. De forma parecida, ao chegar aqui o preso recebe um número. É o número do saco de novas roupas.
Isso porque no almoxarifado, ao ingressar na unidade, o interno deixa guardados suas roupas e objetos pessoais. Tudo o que não é permitido ou não será usado dentro da penitenciária estadual, ficará esquecido em um embrulho, dentro do almoxarifado.
ARMÁRIO
“Esse material vai para o armário e só será visto novamente no dia em que o preso sair da unidade. Assim, o material é colocado em uma embalagem e leva o número do preso”, afirmou um agente penitenciário.
Em seguida, o interno recebe um saco numerado, com todo o material que usará a partir daquele dia. O kit entregue fica sob a responsabilidade dele e é composto por colchão, lençol, duas fronhas, três cobertores, um kit higiene, duas calças, duas camisetas, um calção, duas blusas, um chinelo, um forro de colchão, uma caneca, uma colher e duas toalhas.
Entretanto, todo dia 15 e 30 de cada mês, são feitas novas entregas do kit higiene pela unidade prisional. Eles recebem sabão, sabonete, creme dental, papel higiênico, escova de dente e barbeador. Os familiares também podem trazer esses produtos, mas sempre às quartas. São roupas, rádio, pilha, lençol.
AGENDAMENTOS
Porém como toda pessoa, surgem demandas no cotidiano. Um exemplo. O desodorante do preso terminou. Então ele faz um agendamento para o almoxarifado. Tudo dentro da penitenciária é feito por agendamento.
E a identificação é o número do preso. Entretanto, os pedidos (no caso colocado como exemplo – um novo desodorante) são enviados nas fronhas, que também têm o número de identificação do interno.
Dentro da fronha vem o papel (agendamento) solicitando o desodorante. Mas para que o pedido seja atendido pelo almoxarifado, precisa estar dentro da fronha também, o frasco de desodorante vazio para ser entregue. Desta forma, o agendamento sempre vem acompanhado do material de troca.
DISCIPLINA
A disciplina é regra a ser seguida à risca. Mas para quem está determinado em fazer do período de reclusão, um momento de aprendizado e reflexão, isso não é problema. Isso é fácil de perceber quando se conversa com os internos.
Um deles é um comerciante de 30 anos. Em poucas palavras ele resumiu o sentimento de estar em uma unidade de progressão. “Aqui é diferente. Aqui somos tratados como pessoa. Você vira uma pessoa de volta”.
E é essa pessoa que ele pretende ser, ao cumprir a pena e de cabeça erguida, cruzar o portão da frente da penitenciária para recomeçar uma vida nova, como afirma no vídeo abaixo.
INGRESSO DE INTERNO
Para entrar na PEG UP o interno passa por uma avaliação preliminar. “O que separa a sociedade dos internos ou a liberdade dos internos é esse alambrado”.
Conforme o chefe de segurança da penitenciária, Gilmar Jorge Budniak, tem-se todo o cuidado na escolha do preso que vai vir para a Penitenciária Estadual – Unidade de Progressão. “Fazemos a entrevista, fazemos a seleção, de perfil quanto ao crime, não pode ser hediondo, quanto a procedência do interno dentro da unidade por onde ele passou e não responder a falta”.
Além disso, de acordo com Budniak, ao chegar aqui, o preso recebe um termo de ciência e aceite.
“Após ser previamente avaliado pela Comissão de Classificação da PEG UP, o preso precisa assinar um termo dando ciência que tem conhecimento que precisará trabalhar, estudar e ter comportamento disciplinado na unidade”, como explica mais no vídeo.
Além disso, ao ingressar na unidade, Budniak diz que o preso declara ser conhecedor que a penitenciária é uma unidade de progressão, e por isso tem segurança mínima.
“Ele [o preso] sabe que a segurança é mínima. Pra fuga é mínima, mas ela existe. O que separa é só a tela”, como explica no vídeo abaixo Budniak.
REGRAS
Por isso, existem regras básicas que devem ser cumpridas diariamente dentro da PEG UP, além do trabalho e estudo, e do bom comportamento. É a postura dos internos em relação aos agentes e ao público externo.
Os internos não podem abordar ninguém que não seja da segurança. Sempre que estão caminhando, devem permanecer com os braços cruzados atrás do corpo. E o tratamento deve ser respeitoso e cordial: sim senhor, não senhor. Além disso, não são presos perigosos. Esse jamais poderão vir pra cá.
O diretor da PEG UP, Américo Dias Pereira, explica abaixo, o propósito da unidade de Guarapuava.
Conforme o advogado criminalista e professor de direito penal Loêdi Lisovski, a ressocialização é uma via de mão dupla, como ele explica no vídeo abaixo.
Na quarta reportagem da série “Liberdade Vigiada”, você vai saber como é trabalhar dentro de uma fábrica na unidade.
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