22/08/2023


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Sacos numerados com roupas, esperam o próximo preso na PEG UP

Série "Liberdade Vigiada" do Portal RSN mostra como é o processo de entrada de um preso dentro da Penitenciária Estadual de Guarapuava

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Penitenciária Estadual de Guarapuava abriga 136 presos não hediondos (Foto: Gilson Boschiero/RSN)

Olhando de fora, nem parece um presídio. Mas é. E mesmo sendo um apenado, estar aqui também não é para todos. Além da tarefa diária dentro da penitenciária, escolher quem pode ser um interno na PEG UP não é tarefa tão simples como pode parecer. Cada um dos 136 presos tem uma história, dentro e fora da unidade.

Conforme Américo Dias Pereira, diretor da penitenciária, é um trabalho difícil, porque ele começa desde a seleção, como explica no vídeo abaixo.

ALMOXARIFADO

Depois de assinar o aceite concordando com as regras da unidade, o interno selecionado passa pelo almoxarifado. E a gente vai entender que lugar é esse. De maneira simples, podemos dizer segundo os dicionários que o almoxarifado é “um importante setor das empresas, sejam públicas ou privadas, e consiste no lugar destinado à estocagem em condições adequadas de produtos para uso interno”.

Mas na minha percepção, na penitenciária estadual, o almoxarifado é mais que um lugar para estocar produtos de uso interno. Este setor também foi um dos primeiros que conhecemos, já que percorremos o caminho trilhado pelo interno na unidade. Da chegada até a saída. E é no almoxarifado que o preso receberá o material necessário para uso durante todo o tempo que ele permanecer na PEG UP.

(Foto: Gilson Boschiero/RSN)

NÚMEROS

Ao entrar na sala, uma imagem me chamou a atenção. No alto da sala, sacos numerados com roupas, esperavam o próximo preso. Aqui dentro eles são números. Apenas números. Mesmo passados 30 anos, me lembrei da época que fui militar e servi o exército. Na camiseta verde-oliva havia meu número.

Assim, lá dentro, eu era o Sd 855. Inicialmente pelo menos, era chamado pelos superiores pelo número. A diferença é que não estava preso, mas cumpria com a obrigatoriedade do serviço militar. De forma parecida, ao chegar aqui o preso recebe um número. É o número do saco de novas roupas.

Isso porque no almoxarifado, ao ingressar na unidade, o interno deixa guardados suas roupas e objetos pessoais. Tudo o que não é permitido ou não será usado dentro da penitenciária estadual, ficará esquecido em um embrulho, dentro do almoxarifado.

(Foto: Gilson Boschiero/RSN)

ARMÁRIO

“Esse material vai para o armário e só será visto novamente no dia em que o preso sair da unidade. Assim, o material é colocado em uma embalagem e leva o número do preso”, afirmou um agente penitenciário.

Em seguida, o interno recebe um saco numerado, com todo o material que usará a partir daquele dia. O kit entregue fica sob a responsabilidade dele e é composto por colchão, lençol, duas fronhas, três cobertores, um kit higiene, duas calças, duas camisetas, um calção, duas blusas, um chinelo, um forro de colchão, uma caneca, uma colher e duas toalhas.

Ao chegar na penitenciária, o preso o recebe as roupas que vai usar na unidade (Foto: Gilson Boschiero/RSN)

Entretanto, todo dia 15 e 30 de cada mês, são feitas novas entregas do kit higiene pela unidade prisional. Eles recebem sabão, sabonete, creme dental, papel higiênico, escova de dente e barbeador. Os familiares também podem trazer esses produtos, mas sempre às quartas. São roupas, rádio, pilha, lençol.

AGENDAMENTOS

Porém como toda pessoa, surgem demandas no cotidiano. Um exemplo. O desodorante do preso terminou. Então ele faz um agendamento para o almoxarifado. Tudo dentro da penitenciária é feito por agendamento.

E a identificação é o número do preso. Entretanto, os pedidos (no caso colocado como exemplo – um novo desodorante) são enviados nas fronhas, que também têm o número de identificação do interno.

Dentro da fronha vem o papel (agendamento) solicitando o desodorante. Mas para que o pedido seja atendido pelo almoxarifado, precisa estar dentro da fronha também, o frasco de desodorante vazio para ser entregue. Desta forma, o agendamento sempre vem acompanhado do material de troca.

Preso que passou por outras unidades prisionais do Paraná, fala da diferença da PEG UP (Foto: Gilson Boschiero/RSN)

DISCIPLINA

A disciplina é regra a ser seguida à risca. Mas para quem está determinado em fazer do período de reclusão, um momento de aprendizado e reflexão, isso não é problema. Isso é fácil de perceber quando se conversa com os internos.

Um deles é um comerciante de 30 anos. Em poucas palavras ele resumiu o sentimento de estar em uma unidade de progressão. “Aqui é diferente. Aqui somos tratados como pessoa. Você vira uma pessoa de volta”.

E é essa pessoa que ele pretende ser, ao cumprir a pena e de cabeça erguida, cruzar o portão da frente da penitenciária para recomeçar uma vida nova, como afirma no vídeo abaixo.

INGRESSO DE INTERNO

Para entrar na PEG UP o interno passa por uma avaliação preliminar. “O que separa a sociedade dos internos ou a liberdade dos internos é esse alambrado”.

Conforme o chefe de segurança da penitenciária, Gilmar Jorge Budniak, tem-se todo o cuidado na escolha do preso que vai vir para a Penitenciária Estadual – Unidade de Progressão. “Fazemos a entrevista, fazemos a seleção, de perfil quanto ao crime, não pode ser hediondo, quanto a procedência do interno dentro da unidade por onde ele passou e não responder a falta”.

Além disso, de acordo com Budniak, ao chegar aqui, o preso recebe um termo de ciência e aceite.

Preso precisa assinar o documento concordando com as regras da penitenciária (Foto: Gilson Boschiero/RSN)

“Após ser previamente avaliado pela Comissão de Classificação da PEG UP, o preso precisa assinar um termo dando ciência que tem conhecimento que precisará trabalhar, estudar e ter comportamento disciplinado na unidade”, como explica mais no vídeo.

Além disso, ao ingressar na unidade, Budniak diz que o preso declara ser conhecedor que a penitenciária é uma unidade de progressão, e por isso tem segurança mínima.

(Foto: Reprodução/Pixabay)

“Ele [o preso] sabe que a segurança é mínima. Pra fuga é mínima, mas ela existe. O que separa é só a tela”, como explica no vídeo abaixo Budniak.

REGRAS

Por isso, existem regras básicas que devem ser cumpridas diariamente dentro da PEG UP, além do trabalho e estudo, e do bom comportamento. É a postura dos internos em relação aos agentes e ao público externo.

Os internos não podem abordar ninguém que não seja da segurança. Sempre que estão caminhando, devem permanecer com os braços cruzados atrás do corpo. E o tratamento deve ser respeitoso e cordial: sim senhor, não senhor. Além disso, não são presos perigosos. Esse jamais poderão vir pra cá.

Quem pula o alambrado não volta mais para a unidade prisional (Foto: Gilson Boschiero/RSN)

O diretor da PEG UP, Américo Dias Pereira, explica abaixo, o propósito da unidade de Guarapuava.

Conforme o advogado criminalista e professor de direito penal Loêdi Lisovski, a ressocialização é uma via de mão dupla, como ele explica no vídeo abaixo.

Na quarta reportagem da série “Liberdade Vigiada”, você vai saber como é trabalhar dentro de uma fábrica na unidade.

Leia outras notícias no Portal RSN.

Gilson Boschiero

Jornalista

Possui graduação em Jornalismo, pela Universidade Metodista de Piracicaba (1996). Mestre em Geografia pela Unicentro/PR. Tem experiência de 28 anos na área de Comunicação, com ênfase em telejornalismo e edição. Foi repórter, editor e apresentador de telejornais da TV Cultura, CNT, TV Gazeta/SP, SBT/SP, BandNews, Rede Amazônica, TV Diário, TV Vanguarda e RPC. De 2015 a 2018 foi professor colaborador do Departamento de Comunicação Social da Unicentro - Universidade do Centro-Oeste do Paraná. Em fevereiro de 2019, passou a ser o editor chefe do Portal RSN.

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