A sala de aula é normal. Tem lousa, carteiras, alunos e professor. Se me vendassem e me trouxessem para cá sem avisar, não diria num primeiro momento que estou em uma penitenciária.
Claro que depois de um tempo, observando melhor, perceberia o uniforme, os números, os cabelos raspados. Mas a diferença também fica apenas no externo dos alunos, antes de entrar na sala de aula tomam um café. Ninguém fica encarcerado, nem algemado. E nem precisa.
Isso porque aqui eles estão presos a um sentimento interior comum: Aprender.
Se de um lado, há sede pelo conhecimento – que ainda dará direito a remição de pena – do outro, esse alunos de todas as idades encontram profissionais que colocam o coração no que se comprometeram em fazer.
Aliás ser professor é uma tarefa árdua. Eu bem sei disso. Mas não existe sensação melhor do que ensinar, ver o aluno progredir e se formar. Mas vamos voltar pra sala de aula dentro da PEG UP.
Aqui, penso que o desafio desses professores é ainda maior. Conhecemos a professora Marilza Weider Moreira. São 22 anos dedicados a arte de ensinar uma língua estrangeira: o inglês.
“Dos 22 anos de magistério, 10 são dentro do sistema prisional. Leciono para a fase II do ensino fundamental, de 6ª a 9ª séries, e também para o ensino médio”.
O ENSINO QUE LIBERTA
Entretanto, a professora Lourdes Vilczak dos Santos é alfabetizadora da fase I. Assim, ela leciona desde a alfabetização até a 5ª série. O tempo que ela tem em frente a uma sala de aula, muitos aqui não tem de vida.
São 36 anos, dos quais 20 anos dentro no sistema prisional. Lourdes conta no vídeo abaixo, que ensina um dos princípios básicos da cidadania: ler e escrever. E se emociona.
Na alfabetização, fazem parte do currículo da fase I, conteúdos como português, matemática, história, geografia, ciências, arte e educação física. No dia de nossa visita, havia sete alunos na turma.
Na parede da sala de aula o trabalho dos alunos da fase I chamou a atenção. Entre várias atividades propostas, o trabalho de pintura trouxe o tema liberdade, e o que é a liberdade para os alunos. Durante entrevista exclusiva ao Portal RSN, a professora falou sobre a temática proposta aos alunos.
Conforme Lourdes, os trabalhos também foram uma forma de comemoração aos 10 anos do Ceebja Nova visão. Em meio a entrevista, perguntei à professora se ela tinha medo de ficar sozinha em sala de aula com os internos. E ela respondeu:
Essa mesma educação está transformando a vida de um dos presos com quem conversamos. Ele estuda artes, matemática e geografia. “Eu trabalho, estudo e faço leitura. Isso me ajuda bastante na minha formação e também com a remição”.
Por fim, a experiente professora Lourdes afirmou que ensiná-los é um desafio.
OPORTUNIDADE DE FORMAÇÃO
A pedagoga Maxcimira C. Z. Mendes conta que em experiências anteriores a PEG UP, quando a unidade ainda era semiaberto, foram vários os apenados que tiveram oportunidades formativas. Desde aprender a ler e a escrever. Conforme a pedagoga, os presos chegavam na unidade analfabetos, e saíram daqui com a leitura e com a escrita.
Tivemos também apenados que concluíram seus estudos pela frequência no Ceebja. E também pelos exames. Foi um ganho extraordinário. Tivemos apenados que participaram de cursos técnicos em instituições educacionais de Guarapuava e saíram daqui com uma profissão. E relatos desses apenados e pelos dados locais de informação, eles não voltaram a reincidir no crime. Porque saíram daqui com uma profissão.
Maxcimira também acredita que a educação pode ser um vetor de transformação da vida dessas pessoas, como afirma abaixo.
Conforme Maxcimira, houve o momento em que alguns apenados saíram daqui e puderam cursar uma faculdade.
“Assim, enquanto estavam aqui frequentavam e quando saíram deram continuidade, concluíram seus estudos, em diversos cursos do ensino superior desde engenharia civil até ciências contábeis”.
De acordo com o advogado criminalista e professor de direito penal Loêdi Lisovski, a nova possibilidade de oferta de curso superior a partir de 2020 para apenados da unidade, contribui para a formação profissional de carreiras autônomas.
Os apenados não mais dependerão de contratação. Poderão desenvolver suas atividades e obter seus ganhos de forma independente.
A professora Adriana Silvia Roth afirma que é de fundamental importância atendê-los como você atenderia qualquer outra pessoa.
Além disso, as aulas têm despertado em muitos o gosto adormecido pela leitura. Em cada livro, eles encontram uma lição para a vida.“Sabe, eu sempre fui de ler. Tenho facilidade em leituras sobre empreendimento. Os livros têm ajudado, tenho aprendido muito. Ajuda a pensar mais na família”.
Na oitava reportagem da série “Liberdade Vigiada”, você vai saber como funciona a remição de pena pelo estudo da leitura.
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