Ele chegou a PEG UP em fevereiro de 2019. Foi condenado em 24 de novembro de 2015 por tráfico de drogas em Guarapuava. Mas antes, já tinha ficado um ano de dois meses na cadeia pública e dois anos na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG).
Assim, ele contou que foi condenado a 14 anos e dois meses por tráfico, lavagem de dinheiro e porte de arma. Mas em 2009 foi preso por assalto e ficou no antigo semiaberto.
Como já passou por vários modelos de carceragem, o preso falou com exclusividade ao Portal RSN, sobre as diferenças de uma unidade para outra e o que já viu dentro das carceragens.
Na cadeia pública não tem benefício. Sem remição. Já a PIG é melhor. Mas tem pouca remição. Só com trabalho mesmo e a gente fica encarcerado. Aqui [PEG UP] melhorou bastante a convivência.
O homem que entrevistei é empresário. Tem 38 anos. Atualmente está separado da mulher, mas contou que tem um filho de 10 anos. No vídeo abaixo ele conta como foi ficar na cadeia pública de Guarapuava.
Entretanto, o momento mais dramático da entrevista foi quando ele falou das mortes dentro do cadeião de Guarapuava.
Da cadeia pública, o preso foi para a Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG).
“Já melhorou 50% na PIG, já tem remissão. E é três internos por barraco. Na 14ª tem lugar que é para 6 e tá em 16. Mas no dia 4 de fevereiro vim pra cá, trabalhar na Kadesh.”
Ele resume um dia dentro da Penitenciária Estadual de Guarapuava – Unidade de Progressão.
Meu dia a dia na verdade eu só vou dormir no barraco [alojamento]. Saio 7h30 venho trabalhar na Kadesh, trabalho e almoço aqui na Kadesh. Temos um pátio na hora do almoço, ficamos no pátio cerca de 40 minutos tomando sol. Saio 3h30 e vou para o alojamento. Quando é 4h venho pra aula, e volto só sete horas da noite pro barraco [alojamento]. Só dormir mesmo.
Apesar de já ter sido condenado duas vezes, o empresário diz ter aprendido com os erros.
OUTRO DEPOIMENTO
Um outro depoimento chamou a atenção, principalmente quando o preso começou dizendo:
Eu não sou do crime e nem membro faccionado.
E olhando dentro dos olhos do homem que me fez essa afirmação, confesso que vi honestidade. Ele é empresário, tem 50 anos e foi condenado a 11 anos e um mês por tentativa de homicídio.
O crime foi em 2012 em general Carneiro. Ele contou que vendeu um maquinário de serraria para um rapaz, e acabou não recebendo. Na época o valor era R$ 25 mil. O preso disse que cobrou várias vezes. Um dia o devedor disse: “Não assinei nada, não assino nada e não pago nada”.
Ele conta que nesse instante os dois entraram em luta corporal. Porém, o devedor estava com uma faca. E do confronto, o rapaz saiu ferido no rosto. Após o confronto, o devedor ficou no chão.
Eu poderia ter feito algo mais [dando entender que poderia ter até matado o rapaz], mas não quis por vontade própria. Ele estava no chão e eu disse para ele: vá para o hospital, crise suas filhas e seja honesto.
Depois disso ele foi condenado e preso, como explica no vídeo a seguir.
Conforme informou, o preso contou que ainda tem uma indústria madeireira e emprega cerca de 10 funcionários. Porém está desde 28 de março de 2019 na PEG UP. Quando sair espera ser uma pessoa melhor.
“Ser bem melhor do que fui por conhecimento que ganhei na leitura de livros, das pessoas com quem eu conversei, com os guardas que nos procuram passar através de pessoas que vem aqui fazer palestras. Além disso, no fim de semana tem o padre, o pastor que vem”.
Eu perguntei para ele se alguma vez ele pensou em fugir, pular o alambrado que separa a prisão da vida lá fora, já que todos ficam soltos na unidade.
Segundo o advogado criminalista e professor de direito penal, Loêdi Lisovski, em algumas situações o apenamento se torna injusto e inadequado. Isso ocorre justamente pelo fato de que o apenado não precisa ser ressocializado.
“Mas é o sistema de sanções que vigora, no qual se aplica a máxima: ao mal do crime, o mal da pena, independente da pessoa. Em alguns casos, a pessoa nunca mais praticará um crime. Mas adentrando ao sistema, corre o risco de ser corrompido. Enfim, são os ônus das suas condutas”.
Por fim, na última reportagem da série “Liberdade Vigiada”, a percepção que tive ao sair da penitenciária.
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