22/08/2023
Economia Guarapuava

Dezembro registra a maior alta no valor da cesta básica em Guarapuava

Pesquisa do Nepe/Decon/Unicentro, mostra que o valor da cesta básica composta de 13 itens (DIEESE) apresentou um aumento acumulado de 12,49%

CESTA BASICA

Itens da cesta básica (Foto – Pixabay)

O ano termina em Guarapuava tendo dezembro como o mês com o maior índice de alta no valor da cesta básica. A conclusão é do Núcleo de Estudos e Práticas Econômicas (NEPE) do Departamento de Ciências Econômicas (Decon) da Unicentro.

De acordo com a pesquisa, o valor da Cesta Básica de Alimentos de Guarapuava (CBAG) composta de 13 itens (DIEESE) apresentou um aumento acumulado de 12,49%. Este é o maior aumento mensal desde maio/2018, quando aconteceu a greve dos caminhoneiros, cujo índice naquele mês foi de 10,43%. A cesta inclui cereais, pão, legumes, frutas, laticínios, carnes e óleo

Assim sendo, em dezembro deste ano o consumir guarapuavano precisou desembolsar R$ 374,97 para comprar a cesta básica de alimentos. Em  valores absolutos, ele teve que pagar R$ 41,63 a mais para comprar o mesmo conjunto de alimentos que em novembro custou  R$ 333,34.

CARNE BOVINA PUXOU PARA CIMA

De acordo com Luci Nychai, economista do Nepe/Decon/Unicentro, após dois meses de consecutivas quedas do valor da CBAG, em dezembro ela apresentou um aumento considerável. Conforme a pesquisa, puxado principalmente pelo aumento dos preços da carne bovina (24,39% em relação a novembro/2019) e pelos hortifrúti como tomate (35,74%) e banana (28,20%).

“Esses produtos também foram os que mais impactaram no aumento acumulado do valor da CBAG  no ano de 2019 que foi de 23,56%”.

Conforme a  a economista Luci, em 2019 o aumento dos preços de produtos como a banana e o tomate sofreu influência das condições climáticas, da redução da área plantada, da quantidade ofertada e da alta do dólar.

Porém, o preço da carne bovina vem causando, principalmente a partir de outubro, estragos no orçamento das famílias guarapuavanas e de todo o Brasil. ”

“Em dezembro/2019 o preço médio da carne bovina aumentou 24,39% em relação a novembro/2019. A proteína bovina continuou sofrendo os impactados do aumento das exportações para China somado ao aumento sazonal de demanda interna nesta época do ano”.

ENTENDA A ALTA DA CARNE

Carne bovina (Foto – Pixabay)

De acordo com Luci, alguns pontos são importantes para que a população entenda o que vem acontecendo com os preços da carne bovina.

“Primeiro, a China aumentou substancialmente a importação de carnes brasileiras devido a problemas fitossanitários internos”.  Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o setor comemorou volume recorde de exportações em 2019. Foram  1,83 milhão de toneladas, uma alta de 11,3% na comparação com 2018.

Conforme o Ministério da Economia, só em novembro deste ano, as exportações de carne bovina aumentaram 45% em comparação com o mesmo mês em 2018.

PARA A CHINA

Todavia, o Brasil exporta carne bovina para 154 países, mas a China, sem dúvida, foi quem puxou a fila do bom desempenho em 2019.

Assim, no acumulado entre janeiro e novembro/2019, o Brasil exportou para o país asiático 410.444 toneladas representando um crescimento de 39,5% em relação ao registrado em igual período de 2018. Ou seja, a cada 100 quilos de carne brasileira embarcada para o exterior, 24,5 quilos foram destinados aos chineses.

Dessa forma, a alta nas exportações da carne bovina brasileira se intensificou a partir de outubro/2019 e tem a ver, em parte, com o problema sanitário que atingiu a criação de suínos na China.

Porém, outro fator relevante é que o Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina e o principal exportador mundial. A Austrália é o segundo maior, mas vem enfrentando problema de seca afetando a produção de gado. Os EUA mesmo, sendo o maior produtor de carne bovina vêm enfrentando uma guerra comercial com a China, maior consumidora de proteínas animais

Conforme a economista, o segundo ponto a ser considerado, é que o preço da arroba do boi gordo disparou provocado pela recuperação da demanda interna  e pela especulação causada pelo aumento das exportação.

Bezerro (Foto- Pixabay)

Porém, o terceiro ponto é que a oferta de bezerros não acompanhou a demanda dos produtores e o preço deles também aumentou. Já o quarto ponto é que, mesmo com uma previsão positiva de aumento da demanda interna de carne bovina para 2019 os frigoríficos minimizaram o risco de desabastecimento, priorizando as exportações que pagam até 15% a mais.

De acordo com Luci, ainda que, com o preço da carne bovina mais cara, os consumidores adotam uma rota de substituição aumentando a demanda por frango, carne suína e ovos. Isso acaba provocando, consequentemente, o aumento no preço destes produtos.

TABELA 1

Variação acumulada dos preços médios no varejo das proteínas em Guarapuava de janeiro a dezembro/2019.

Tipos de proteínas Preço Médio janeiro/2019

(R$)

Preço Médio dezembro/2019 (R$) Variação

Acumula

no ano (%)

Carne Bovina (kg)

(Fraldinha, Patinho, Coxão mole, Coxão duro, Alcatra, lagarto, musculo, acem, costela)

22,74 36,33 59,76
Carne Suína (Kg)

(Bisteca, Paleta, pernil)

12,40 16,49 32,98
Carne de frango

(Frango inteiro resfriado, file, sobrecoxa)

10,06 11,88 18,08
Ovos branco (dúzia) 3,99 5,23 31,00

Fonte: NEPE/DECON/UNICENTRO

CONSUMO DE OVOS AUMENTOU

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), 2019 foi marcado pelo aumento no consumo interno de ovos, chegando a 212 unidades ‘per capita um aumento de 9% em relação a 2018. Assim, o consumo médio per capita de frango que é de 42 kg/ano por pessoa e o de carne suína que é de 15,9 kg/ano/por pessoa, também  teve seu consumo aumentado em 2019, principalmente a partir de outubro.

Assim, em dezembro/2019 o guarapuavano precisou desembolsar  37,57% do salário mínimo (R$ 998,00) para fazer frente à Cesta Básica de Alimentos (CBAG).  Só para fins de comparação, na Austrália esse desembolso é de 6,7%, Irlanda (7,3%), Grâ-Bretanha (7,7%), Países Baixos (8,9%), Espanha (9,1%), Luxemburgo (9,8%), Alemanha (9,8%).

De acordo com a economista, o novo salário mínimo brasileiro federal aprovado para 2020, no valor de R$ 1.031,00, ficou muito aquém do poder aquisitivo capaz de atender as necessidades vitais básicas individuais e da família.

São necessidades básicas como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. Assim, para fazer frente a essas despesas, o salário mínimo deveria ser de R$ 3.521,12, segundo estimativas do Nepe/Decon/Unicentro

Conforme a professora, o Brasil paga um dos menores salários mínimos em comparação  com pesquisa realizada em outros 50 países.  Em Luxemburgo o salário mínimo é R$ 8.104,00; Austrália (R$ 7.900,00); Irlanda (R$ 6.968, 00) e nos Países Baixos (R$ 6.712,00) para uma taxa de conversão do dólar de R$ 4,00.

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Cristina Esteche

Jornalista

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