22/08/2023
Cotidiano

Crianças quilombolas brincam fazendo arte

Elas se contentam com muito pouco. Um pedaço de bolo, um copo de refrigerante, uma brincadeira de roda, um jogo de futebol com uma bola improvisada, dançando ou tocando, ou num banho de cachoeira em dias de muito calor. É assim que as crianças que vivem na comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha de divertem quando estão fora da sala de aula.

"Nossas crianças são felizes na simplicidade da vida que levam", comenta Ana Maria Alves da Cruz, presidente do Instituto Afro-brasileiro Belmiro de Miranda.  "Eu costumo dizer que nossos filhos custam muito para o município, embora não tenhamos esse reconhecimento. Nossas crianças estão longe dos perigos da rua, perto dos pais e tem uma convivência saudável", exemplifica.

Muitas delas começaram cedo na vida artística. Vivian Kellen "Dinlê" Ribeiro, conheceu a arte aos 5 anos de idade. "Fui incentivada pela minha irmã, Viviane "Odara" a entrar no Kundun Balê. Hoje estou com 9 anos e quero dedicar a minha vida ao Kundun. Me realizo dançando e aprendendo os ensinamentos que recebo e ainda sou premiada nacionalmente", afirma referindo ao I Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro Brasileiras conquistado pelo Kundun. O prêmio é oferecido pelo Ministério da Cultura/Fundação Palmares/Cadon com patrocínio da Petrobras.

Maria Eduarda "Akan" Alves da Cruz, tem 12 anos. Foi a primeira percussionista do Kundun, aos 8 anos de idade. "Não me vejo fazendo outra coisa. Quando assisto na televisão que existem crianças viciadas em drogas, passando fome nas ruas, me sinto muito feliz porque descobri a música e sou artista", afirma.

O Kundun Balê, companhia de música e dança afro do Quilombo Paiol de Telha é composto por crianças, adolescentes, jovens, mães e pais quilombolas. Além de Akan e Dinlê possui as crianças: Juliano "África" (8 anos- percussionista), Pedro Artur "Akin" (6 anos bailarino), Henrique (7 anos-percussão), Igor (5 anos-percussão).

RESGATE

Como já é tradição no Dia das Crianças a líder quilombola Ana Maria da Cruz oferece  uma festa às crianças da comunidade. Nessa data o dia também começa muito cedo na comunidade quilombola. Um grupo de mães ligado ao Kundun Balê se reúne na casa de Ana Maria para "montar" o bolo. As massas são feita pela própria Ana Maria na véspera da festa. Os doces para o recheio são feitas pelas próprias mães. "Tudo tem que estar muito enfeitado, muito bonito e muito gostoso", comenta Rosa "Djaia" Soares Camargo da Cruz. Embora já não tenha mais filho pequeno, Rosa se dedica de corpo e alma à festa. "Os filhos da gente são eternamente crianças", afirma.

E é justamente um dos filhos de Rosa, Leonardo "Kunta", 21 anos, quem organiza junto com outros bailarinos do Kundun e graduando de educação física, as brincadeiras que vão tomar conta da tarde deste terça-feira. "Vamos recuperar cantigas de rodas e brincadeiras que já não se fazem mais", antecipa.

Cristina Esteche

Jornalista

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