Quem passa pela Avenida Manoel Ribas, uma das principais via de Guarapuava, já se habituou com a presença de prostitutas. Lá estão elas, seja durante o dia, com intensificação logo que a noite cai. Entretanto, a presença de travestis predomina, mesmo durante a pandemia. Aliás, não se tem informação se há fiscalização nesse ramo de atividade.
Porém, de acordo com a informação de um policial, a prostituição em si não configura crime. “Porém, algumas atividades que envolvem a prostituição são criminosas”. Uma delas é a exploração por parte de cafetinas e cafetões.
De acordo com denúncia recebida pelo Portal RSN feita por uma travesti, em Guarapuava a exploração domina o ramo. Porém, essa condição leva à prática de crimes como roubo, extorsão, entre outros delitos. “Não aceito isso que está acontecendo na minha cidade. As travestis que vêm de fora ‘queimam’ a cara de quem é do bem, que não fazem nada de errado”. Ela se refere a ocorrências policiais envolvendo travestis.
‘PIVÔ’
A autora da denúncia, cujo nome está sendo preservado por questões de segurança, disse que o ‘fio da meada’ está na exploração de uma travesti que domina os ‘pontos’ na avenida Manoel Ribas. “Ela [cafetina] montou uma pensão só pra trans onde ficam as quem vêm de fora”.
De acordo com a denunciante, sempre são entre oito e nove travestis que ficam na casa, no Centro da cidade. “Elas são obrigadas a ficar lá para poderem trabalhar na avenida. E aí acabam fazendo dívidas e começam a assaltar para poder pagar as diárias da pensão e outras dívidas que têm com a dona do pensionato”.
Segundo a denúncia, a travesti combina um valor do ‘programa’ com o cliente, mas na hora de receber cobram outro. “Como o cliente não aceita, elas assaltam”.
EXTORSÃO
Conforme a polícia civil, nesta terça (22), houve a prisão de uma travesti por extorsão a um cliente. “Elas descobrem a identidade do cliente e começam a exigir dinheiro. A ameaça é que tem vídeo feito durante o ‘programa’ e que vão divulgar”.
Durante a denúncia, a guarapuavana assegura que a maioria das “marginais” são de fora. “Nós de Guarapuava não trabalhamos na Manoel Ribas porque não pagamos pra ela [cafetina]. Quem é daqui e trabalha lá, precisa pagar. Não é justo que nós que somos daqui tenhamos que pagar por erro das travestis de fora que vêm e aprontam na cidade. Eu não sou marginal. Trabalho, pago impostos. Sou correta e sou uma cidadã de bem”.
Entretanto, segundo a polícia, há o conhecimento da existência do pensionato. Porém, não há nenhuma denúncia registrada.
EXCLUSÃO DO MERCADO DE TRABALHO
A denúncia feita pela travesti guarapuavana, entretanto, leva a uma outra reflexão. Além da invisibilidade, da marginalização da sociedade, a violência predomina em todos os sentidos. Entretanto, a ONG Transgender Europe cita a exclusão do mercado de trabalho como como uma das causas que levam grande parte dessas pessoas à prostituição.
BRASIL É O PAÍS QUE MAIS MATA
Além do problema de invisibilidade, de exploração dentro da própria classe, as travestis enfrentam a transfobia que leva ao extremo. Isso está evidente em dados divulgados pela Agência Brasil, em janeiro deste ano. Assim, os índices revelam uma triste realidade. O Brasil continua no posto de país que mais mata travestis e transexuais no mundo.
Dados levantados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) revelam ainda um agravante: o número de vítimas da violência transfóbica no ano passado foi o maior no país nos últimos 10 anos. Ou seja, em 2019, pelo menos 124 pessoas transgênero, entre homens e mulheres foram assassinadas no Brasil, em contextos de transfobia.
De acordo com o relatório da Antra, em apenas 11 dos casos, os suspeitos de terem cometido os crimes foram identificados. Os dados mostram ainda que, a cada dia em 2019, 11 pessoas transgênero sofreram agressões.
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