Josué tem 26 anos e há sete vive pelas ruas de Guarapuava. Assim como outros ele é apenas um dos guarapuavanos que se encontra na invisibilidade social. “Olha moça, o céu é o nosso teto. De dia ficamos por aqui na avenida [Moacir Silvestri]. Mas quando a noite cai a gente se empilha um no outro e dorme nuns mocós que tem por aí”.
Josué, como ele diz que se chama, contou que a família o colocou para fora de casa. ” É a ‘mardita’. A gente fica desempregado, perde a ‘muié’, enche a cara e dá nisso”.
Assim como a história do homem que apesar da idade, perdeu os dentes – pra não dizer a dignidade -, o enredo se repete. Outros ‘companheiros’ de infortúnio também estão fora de casa por causa de vício. “Olha moça, antes a gente morava ali naquela esquina. Mas agora virou depósito e a gente teve que sair de lá. Mas aqui da rua ninguém nos tira”, diz uma jovem , enquanto sorve um gole de ‘camelinho’, uma espécie de cachaça barata. “Ih! se eu contar vêm aqui e me ‘queimam’. Melhor deixar quieto”.
OUTRO ÂNGULO
Passar durante o dia e, principalmente, nas primeiras horas da noite, ali pela avenida, é se deparar com uma triste realidade. São homens e mulheres, muitos dos quais, jovens que pedem um ‘ trocadinho’ nos semáforos. Outros ficam deitados debaixo de árvores no canteiro da avenida. Doentes, são usuários de drogas e de bebida alcoólica.
Entretanto, se para eles estar na rua é bom, e resistem ao acolhimento, para quem passa, a viseira da invisibilidade é a melhor solução. “Não gosto de nem olhar esses viciados que vivem por aí. Alguém órgão tem que fazer alguma coisa”, disse um motorista parado esperando o sinal verde abrir. “Dê uma enxada pra um vagabundo desses pra ver se quer ir trabalhar”, diz outro, arrancando o carro.
ENTIDADES AJUDAM
Entretanto, Igrejas, entidades não governamentais fazem a sua parte junto as pessoas em situação de rua. O projeto Amor e Atitude da Igreja Quadrangular da Vila bela, distribuiu sopas e roupas uma vez por semana. A entrega é feita nos pontos onde essas pessoas ficam.
Outro projeto que atua com essa camada da população é o ‘Vidas por Vidas’. Na sede localizada na rua Padre Ivo Petry, 786 na Vila Carli, há o acolhimento de pessoas que estão em processo de saída das ruas. Além disso, também se trabalha na reinserção social, profissionalização de quem deseja sair desse submundo. Há ainda o encaminhamento e para tratamento de uso de álcool e drogas, e quem passa pela instituição recebe atendimento social e psicológico.
PROJETO-PILOTO
Embora em Guarapuava ainda não exista um cadastro que mostre quantas são as pessoas que vivem em situação de rua, o Paraná já tem. Atualmente o Cadastro Único do Governo Federal informa que o Paraná tem 8.659 Pessoas em Situação de Rua. Conforme o cadastro, destas 2.669estão em Curitiba, segundo dados de 13 de junho de 2020.
Assim, com base nesses números, o governo do Paraná vai implantar um projeto-piloto do Moradia Primeiro (Housing First), voltado à essa população. O Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos será parceiro.
De acordo com o governo serão destinados R$ 820,69 mil ao projeto. Conforme o projeto, a iniciativa proporcionará o acesso direto deste segmento da população à uma habitação permanente, a ser mobiliada também com verba do projeto, além de equipe dedicada ao acompanhamento dos beneficiários.
O Moradia Primeiro vem se consolidando ao redor do mundo como porta de entrada das políticas públicas para a população em situação de rua. O modelo, desenvolvido ao longo dos anos 1990, nos Estados Unidos, tem como objetivo promover a alocação imediata de pessoas em situação de rua em um local estável, seguro e individual.
Leia outras notícias no Portal RSN.