22/08/2023
Cotidiano Guarapuava

Visibilidade Trans: ocupando espaços e quebrando padrões

A atriz Laysa Machado conta ao Portal RSN como é ser trans e os desafios que os transgêneros enfrentam no cotidiano em sociedade

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O processo de transição foi de desconstrução do meio social em que vivia que afirmava que eu era um menino. Nunca me senti um. Mas ouvi família, igreja, escola que dizia que eu era errada, que eu ia pro inferno ou que para frequentar a escola teria que viver num gênero em que eu nunca me identifiquei. Até chegar o dia que eu iria me libertar dessa performance de gênero. Pois menina, moça ou mulher eu sempre fui.

Hoje (29) é o dia da Visibilidade Trans, data que visa promover reflexões sobre a cidadania das pessoas travestis, transexuais (homens e mulheres trans) e não-binárias (que não se reconhecem nem como homens nem como mulheres). Em entrevista ao Portal RSN, a atriz, produtora, diretora e roteirista Laysa Machado conta sobre como é ser trans e os desafios que ainda enfrenta.

O termo trans é uma abreviação de transgêneros, que se refere às pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído quando nasceram. Apesar do avanço nos direitos conquistados à existência das pessoas trans enquanto cidadãs, ainda tem um longo caminho a percorrer.

Um sinal disso é o Brasil ser o país que mais mata transgêneros no mundo. Conforme o dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) em 2020, foram 175 travestis e mulheres transexuais assassinadas. A alta é de 41% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 124 homicídios.

De acordo com Laysa, isso não é motivo de orgulho. “Primeiro, não se orgulhar em ser um país que mais mata trans e travestis. Segundo, é necessário ter políticas públicas para que nós tenhamos os mesmos direitos que pessoas cisgênero. Enquanto não tivermos espaços na família, em trabalhos formais em escolas, entre outros, continuaremos a ser a margem. Tem uma frase de Bertord Brecht que gosto muito: Do rio que tudo arrasta, se diz violento, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem”.

PRECONCEITO DIÁRIO

As piadinhas, olhares preconceituosos, o medo constante e a falta de respeito acompanham a vida de quem tem a coragem de ser quem é. Laysa relata que passou por diversas situações de preconceito no local em que mora, em Entre Rios. E que isso fez com que ela se tornasse mais forte.

Aprendi na pele o machismo e transfobia em qualquer espaço que eu ocupe. Mas por ter nascida pobre, preta e na colônia eu aprendi bem cedo que ou eu batalharia pelo meu espaço ou não viveria muito. E viveria de um maneira servil e subalternizada. Nada veio fácil. Mas pra quem cresceu em lixão comendo o que os ricos jogavam, aprende cedo que o que não mata, fortalece.

SOBRE VISIBILIDADE

Muitas vezes, apenas a aceitação e o respeito não bastam. Isso porque além da classe precisar lutar pelo direito de existir, ela precisa lutar pelo direito de poder ocupar espaços em nossa sociedade. Laysa relata que já perdeu amigos, mas também que chegou a perder um emprego só por ser quem ela é.

Conforme a atriz, os cisgêneros (pessoas que se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram) precisam escutar mais.

Nós, pessoas trans e travestis sabemos o que nos oprime, ofende, mata, inviabiliza. Temos o protagonismo da nossa história e ela precisa ser respeitada. Precisamos que nos vejam de forma humanizada, pois não somos fetiches nem objetos. Não nos subestimem. Reconheçam seus privilégios. Percebam suas responsabilidades nestes apagamentos de espaços. Não nos vejam como seres exóticos. Quantos amigos e amigas trans você tem? Quantas travestis frequentam suas escolas? E quantas colegas trans tem em seus empregos? Quantas trans tem no poder legislativo de Guarapuava?

OCUPANDO ESPAÇOS

Para colocar em pauta esse debate tão necessário na sociedade. Laysa participará de uma live chamada Transfeto com o produtor e ator Otávio Stolf. Além disso, eles discutirão temas como cultura, educação e administração.  “A live vai falar quais foram as estratégias que usei pra ocupar espaços raramente ocupados por pessoas trans e travestis”.

Por fim, a live ocorrerá hoje (29) a partir das 19h30, pelo Instagram.

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Antunes

Jornalista

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