“O que você diz de um plantão com 17 pacientes (pcrs) e quatro óbitos? Diz que está cansado? Que não aguenta mais? Achar em quem por a culpa? Eu só tenho a dizer que nesses 10 anos de profissão hoje foi o pior dia da minha vida”. Esse é o depoimento emocionado de uma enfermeira do Hospital Regional de Guarapuava.
A postagem em rede social emociona. Entretanto, ainda não é suficiente para pessoas entenderem a gravidade da pandemia da covid-19. Durante o desabafo, a enfermeira diz que nunca viu nada igual a esses dias.
Sei o quanto fizemos o nosso melhor. Porém, mesmo assim, mais uma vez, não foi o suficiente. Eu só escutava a voz dos meus colegas dizendo o que paciente deles estava em parada. E eu não conseguia ajudar. O meu também estava em parada e grave. Entre uma parada e outra me encontrava com eles chorando pelo corredor. Isso quando não estavam massageando e chorando em cima do paciente.
Entretanto, a profissional de saúde diz que se orgulha do que faz e de trabalhar ao lado de quem atua. “São pessoas comprometidas. Quando um cai, outro levanta. Ninguém solta a mão de ninguém”. E ela faz um alerta: “Se cuidem que a situação vai piorar”.
“NO LIMITE DAS FORÇAS”
Depoimento, agora de outra enfermeira, também confirma a situação de desespero e de cansaço que envolve os profissionais de saúde. Eles estão há um ano na ‘guerra’ contra a doença.
Chegamos ao limite das nossas forças e da capacidade de resposta do sistema de saúde. E não me venham dizer que não nos preparamos. Realmente não nos preparamos para ver tanta negação de uma doença nova e grave. Não nos preparamos para ver o descaso das pessoas e o deboche em relação a todas as orientações dos cuidados para evitar o contágio. Não nos preparamos para ver uma sociedade auto referida e egoísta que só pensa em si.
Conforme o relato, ela observa que o Brasil é o único lugar onde as medidas restritivas não funcionam. “Porque aqui não há disciplina nem respeito. Aliás se houvesse não precisaríamos de medidas restritivas. É avassalador ver a quantidade de pessoas que chegam aos serviços de saúde, o vírus se tornou democrático. Não importa mais se você é pobre ou rico, não vai ter UTI”.
E vai além.
E para os que pedem mais UTIs e hospitais de campanha, não há mais profissionais de saúde e com saúde, para atuar nesses lugares. Nossos profissionais de saúde chegaram à exaustão. E um aviso aos incautos, 25% das pessoas que internam morrem. Se for para UTI e for intubado há 50% de óbitos. Fizemos do Brasil um covidário. Um lugar perfeito para a proliferação do vírus e das suas novas variantes. Deus nos ajude!
MÉDICOS ESTÃO MORRENDO
Muito mais do que desabafos, os relatos das enfermeiras soam como um pedido de socorro. Afinal, todos se deparam com a morte, diariamente. Somente nesses últimos dias, dois médicos já aumentaram o número de mortes pela doença.
Dessa forma, nessa segunda (15), o médico Luís Filipe Fantinati Lazanha de 30 anos morreu em um hospital de Curitiba. Ele era residente do 1º ano de Radiologia no Hospital de Clínicas/Universidade Federal do Paraná. Já o pediatra Mualmeri César Kasesmarki Silva de 71 anos, morreu no sábado (13) no Hospital Geral Unimed de Ponta Grossa.
Entretanto, em Guarapuava, os médicos Clóvis Górski e George Karam, também morreram pela doença. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, até o momento, ocorreram 48 mortes de médicos, entre 241 trabalhadores de saúde. Todavia, a Sesa indica que 1.404 médicos já foram infectados pela doença.
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