O depoimento de Antonio Marcos Machado, o terceiro a ser interrogado nesta sexta (7), pode ser o ‘peso-pesado’ no julgamento de Luis Felipe Manvailer. Pela primeira vez, uma testemunha conta que presenciou parte dos momentos finais de uma história que ganhou repercussão internacional. Manvailer está sendo acusado de matar a esposa Tatiane Spitzner na madrugada de 22 de julho de 2018.
Algumas versões pairam sobre o caso. As duas pautam embate entre o Ministério Público e a defesa do réu. Feminicídio, defendido pela acusação. E uma terceira linha surge agora: acidente. Depois de ‘patrocinar’ a tese de suicídio, a defesa entende agora que Tatiane como “chantagem emocional” acabou caindo.
Esse novo entendimento da defesa, encontra sustentação em depoimento de Antonio Marcos. Ele mora, e é dono de uma lanchonete, que à época existia em frente ao prédio onde Tatiane e Manvailer moravam. Durante o interrogatório de Dalledone [advogado de defesa do réu preso], o homem de 36 anos, conta que estava assistindo uma série na televisão. No intervalo saiu para fumar.
“Foi quando eu ouvi uma discussão e uma moça sentada na sacada, com uma das perna das para fora, com o peito debruçado na sacada. Como se estivesse ‘montada a cavalo'”. De acordo com a testemunha, o homem [Manvailer] estava no lado de dentro da varanda e ambos discutiam alteradamente. Conforme Antonio Marcos, Manvailer puxou Tatiane e ambos caíram dentro da sacada. “Em seguida, o homem entrou e ela foi atrás”. Ele citou que a moça tinha cabelos pretos e vestia calça preta.
“ESTAVAM DISCUTINDO”
Assim, Antonio Marcos disse que pensou ser só uma ameaça de Tatiane porque ambos estavam discutindo. “Como as mulheres fazem”. Conforme o comerciante, segundos depois Manvailer volta e por cerca de dois segundos olha para baixo e faz sinal negativo com a cabeça. E então retorna para dentro.
Continuando a resposta à defesa, Antonio Marcos diz que entrou, mas logo depois ouviu um “estrondo”. Conforme a testemunha, momentos depois ele ouviu o barulho da porta do edifício abrindo bruscamente.
Vi um homem sair chorando e passando as mãos na cabeça. Então deduzi que poderia ter sido ela. Então corri para auxiliar e voltei correndo para pegar o celular que estava em casa. Pedi que ele não mexesse nela porque estava chamando o Samu, mas ele disse que não adiantava porque estava morta e a levou pra dentro meio abraçado nela
Questionado se viu alguma agressão na sacada, ele disse que não. “Apenas discussão”. Apesar disso, Antonio Marcos disse que enquanto falava com Manvalier tentava informar os bombeiros. Depois ligou para o Samu.
MAUS TRATOS
A testemunha teria sido denunciado no ano passado por maus-tratos à um cachorro. A defesa do réu preso afirma então que há uma mensagem do pai de Tatiane em que ele diz que com uma arma resolveria o problema do cachorro e que eles se incomodavam com o cachorro da testemunha. Assim, Dalledone afirma que mostraria a mensagem.
Advogado mostra então vídeo da audiência de instrução em que Antonio é perguntado pela assistência de acusação e MP sobre maus tratos de animais. Dalledone repete a pergunta de que, até aquele momento, Antonio não tinha sido denunciado, mas que depois, em 2020, foi. A testemunha confirma.
Questionado se perguntou quem denunciou, Antonio diz que sim, e que falaram que foram os vizinhos.
ACUSAÇÃO PERGUNTA
Após cerca de quatro horas de interrogatório da defesa, a testemunha fica à disposição da acusação. Entretanto, o promotor Pedro Papaiz disse que nada tinha a perguntar. Assim, quem assume o interrogatório é o advogado Gustavo Scandelari, assistente da acusação.
Ele pede que Antonio Marcos repita o que ele disse a Manvailer quando estava ao celular. A testemunha repete o que tinha dito anteriormente. Então Scandelari mostra imagens de vídeo com imagens do momento em que Antonio Marcos chegou perto de Manvailer e do corpo de Tatiane. Antonio Marcos repete o que já tinha dito à defesa.
JURADOS PERGUNTAM
Depois dos questionamentos da acusação, algumas das perguntas foram feitas por jurados. “Antes da queda ouviu algum grito?” Ele diz que não. Depois disso, outro questionamento: “Possui outro vício além do tabagismo?”. A testemunha volta a responder negativamente. E ainda, “Recebeu dinheiro de alguém para prestar depoimento?”. Novamente a resposta é negativa.
Ao ser questionado sobre a cor da blusa de Tatiane Spitzner, a testemunha também disse que não lembrava. Depois disso, outro jurado perguntou sobre as luzes do apartamento, e Marcos afirmou que algumas estavam acesas e outras apagadas.
Os jurados ainda questionaram se a testemunha teria tido outros problemas com cachorros antes do ocorrido e a resposta também é negativa. Além disso, afirma que não sabe quem teria feito a denúncia contra ele. E também negou ter sido coagido por alguém da família Spiztner.
Porém, quando um jurado questionou se há relação entre o caso de morte de Tatiane e o problema com o processo de maus-tratos, a testemunha fica pensativa. Por fim, a última pergunta de jurado direcionada a testemunha foi: Conversou com alguém depois do que aconteceu?. Novamente, a testemunha respondeu negativamente.
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