Dizem que o amor ultrapassa barreiras. E, neste Dia das Mães, uma história em específico prova que não há limites para o coração, nem para o amor de uma mãe pelo filho. Poliana Polli mora em Coronel Vivida, no Sudoeste paranaense. Ela se tornou um exemplo de força, cuidado e maternidade para todos que a conhecem ou a acompanham nas redes sociais. Isso porque, mostrou que ser mãe não é apenas gerar e cuidar, mas amar com todo o coração de forma incondicional.
Ela descobriu a gestação com sete semanas. Apesar de ser uma gravidez inesperada, os planos começaram a surgir e ela deu os primeiros passos em direção à maternidade. Para aquelas que já engravidaram, é possível recordar na mente a vontade de comprar as roupas para o bebê e a emoção de ouvir pela primeira vez os batimentos cardíacos. No entanto, quando completou 12 semanas de gestação, Poliana descobriu que o filho, Heitor, tinha uropatia obstrutiva, ou seja, a megabexiga. “É quando o bebê não faz xixi e acaba acumulando o líquido. Então, eu fui encaminhada para um especialista fetal em Curitiba”.
No primeiro horário em que o médico tinha, ele atendeu Poliana e explicou sobre as condições que precisaria enfrentar dali para frente. Entre as indicações do especialista estavam a indução de parto e também o aborto por ser uma gravidez de risco.
Eu falei que não queria. Enquanto o coração dele batesse eu ia lutar pelo meu filho e enquanto ele quisesse viver eu iria viver por ele. O Murilo (companheiro de Poliana) disse que nós não estávamos sozinhos. E, foi nesse momento que eu senti o primeiro milagre de Deus. O médico disse que a bexiga do Heitor poderia não cicatrizar, mas ela cicatrizou.
Posteriormente, iniciaram os procedimentos para que a bexiga fosse esvaziada. Além disso, a mãe precisava passar por esse processo sem anestesia, para preservar o bem do bebê. “Era uma dor muito forte, eu chegava a desmaiar. Geralmente as mães fazem três, quatro vezes e eu passei por mais de 20”. A força de Poliana não acabou e ela seguiu firme gerando a vida que tanto sonhava. No entanto, com 18 semanas a ideia de utilizar um cateter foi frustrada. O que deveria ajudar, drenou o líquido amniótico para o abdômen da mãe, que seguia resistindo pelo filho. “Eu precisei passar por uma cirurgia, porque poderia ter uma infecção generalizada. Foi uma luta e eu voltei a fazer os procedimentos semanais para retirada da urina”.
Com 30 semanas, Poliana entrou em trabalho de parto em Coronel Vivida. Assim, foi para Pato Branco e após estabilizada, os médicos a encaminharam para Curitiba. No hospital, ela precisava passar novamente pelo processo de esvaziamento da bexiga. “Quando cheguei na clínica, a gente não conseguia ver ele. Nós víamos apenas uma bola preta que era a urina. Naquele momento, o médico me dizia apenas vários motivos pelos quais o Heitor poderia não resistir. Foram tirados 865ml de líquido da bexiga dele e depois rompeu minha bolsa”.
Quando chegou ao instituto, a mãe passou por uma cesárea de emergência. Quando nasceu, Heitor foi reanimado e encaminhado para entubação, ele estava fragilizado.
Foi quando começou nossa luta. Ele ficou um dia na maternidade e foi para o hospital Pequeno Príncipe em Curitiba. Com cinco dias ele passou pela primeira cirurgia. Heitor tinha pouco mais de um quilo e foi uma cirurgia depois da outra, mais de 20. Ficamos cinco meses na UTI neonatal, fomos 12 vezes para UTI cirúrgica e geral. Ouvi várias vezes que ele não ia aguentar, a primeira delas em maio do ano passado. Me falaram que ele teria de três a cinco dias de vida. Eu pedi para batizar ele e o batizado ocorreu dentro da UTI neonatal. Foi lindo, foi uma bênção e ele começou a melhorar.
Posteriormente, Heitor voltou a passar por cirurgias. Poliana e Murilo não podiam ficar juntos com o filho, precisavam decidir qual seria a companhia do bebê, seguindo os protocolos do hospital. “A gente acabava não se vendo e trocávamos na catraca para que um subisse e o outro descesse. Nós fazíamos todos os curativos do Heitor para que ele ficasse menos suscetível a infecções. Teve uma época que ele precisou abrir o abdômen e a gente trocava o curativo de meia em meia hora”.
No dia 2 de novembro de 2020, Heitor teve uma infecção grave e generalizada. Poliana viu mais um milagre diante dos olhos dela. “Ele acordou e sorriu para mim. Ele tinha uma força surreal, sabe. Eu fiz o aniversário dele de um ano dentro do hospital, porque foi uma luta e ele merecia”. Em dezembro, o bebê teve outra infecção generalizada e conseguiu melhorar, mostrando o quando estava forte ao lado da mãe. No entanto, em 16 de março, em uma terceira infecção, o pequeno Heitor virou anjo.
Eu não consigo dimensionar tudo o que a gente passou. Fiz amizade com mães que eu chegava no leito e a criança não estava mais e eu sabia que tinha falecido. Eu morei dentro de um hospital infantil, eu sofri pelo meu e pelos outros. Queria poder ajudar cada pessoa.
Antes da partida de Heitor, Poliana pediu a equipe do hospital que o filho pudesse sair do quarto e também que conhecesse os familiares. “Eles montaram um passeio para a gente e foi surreal. Eu senti como se Deus estivesse me mostrando um pedaço do céu. Era um lugar lindo, um jardim lindo e muita paz. Estava fechado por conta da pandemia e eles abriram para a gente. Posso te dizer que essa força veio de Deus e do Heitor”.
No dia em que ele faleceu a irmã do hospital trouxe duas hóstias e disse que a gente tiraria força dali. A gente comungou e a irmã começou a cantar. Os batimentos cardíacos do Heitor foram diminuindo e ele faleceu comigo e o pai dele ao lado, como se fosse um anjo, como se os anjos estivessem buscando ele. Tudo que eu consigo entender é que ele era divino. Eu sempre pedi para Deus que ele não sofresse e ele sorria o tempo inteiro para a gente, mesmo nos momentos mais difíceis. Fomos muito além do nosso cansaço físico e emocional, mas ele era a força. Hoje, quando eu conto a história dele eu fico muito emocionada, eu acredito que esse seja o propósito.
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