O Brasil é o 5º país em que mais ocorrem mortes violentas de mulheres. Um dos reflexos da violência, os casos de estupro, ocorrem de forma rotineira. Segundo a 14ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, há um registro de abuso a cada oito
minutos no país. De acordo com estudos internacionais, apenas 10% a 15% dos casos são reportados, o que elevaria para 300 mil a 500 mil o número do crime no Brasil a cada ano.
Isso ocorreu com a guarapuavana Franciele de Fatima, de 31 anos. Na infância, aos 5 anos, ela e o irmão sofriam agressões de um familiar. Conforme Franciele, os dois eram trancados dentro de um quarto nos domingos. “Fui abusada entre os 5 e 12 anos. Eu não podia olhar e nem falar com o abusador”. Aos 14 anos, começou a se prostituir e um homem a chamou para ir até a casa dele.
Eu fui porque precisava de dinheiro e ele ia me pagar, mas quando eu percebi que ele não tinha, pedi para ir embora e ele disse que ia se trocar e a gente já iria. No entanto, quando eu fui tirar um banco que estava na frente da porta, ele me passou uma calça preta no meu pescoço, tampou minha boca e disse que ia me matar porque a polícia estava na porta da casa dele. O homem estava delirando muito, estava drogado, tinha usado crack.
Franciele conta que naquele dia ela foi abusada e temeu pela própria vida. O caso dela se assemelha ao de milhares de crianças. São 95 mil denúncia de violência infantil registradas apenas em 2020. Dessas, 14 mil correspondem ao abuso sexual, exploração e estupro.
Aos 17 anos, ela foi embora de casa com o namorado e viu a vida mudar. Depois de um tempo, teve depressão e passou por tratamento com psicóloga e psiquiatra. “Eu pensava em atentar contra minha vida e desenvolvi síndrome do pânico. Entrava no meu quarto e sentia medo, achava que alguém queria me matar com uma faca. Após muito anos, tive coragem de denunciar o homem que abusou de mim. Guardei isso por 15 anos, mas cheguei ao meu limite e precisei desabafar, fazer a denúncia. No entanto, ele está impune até hoje”.
Muitas crianças, adolescentes e adultos preferem manter silêncio, como Franciele, os casos são notoriamente subnotificados. E assim, como ocorreu com ela, o rosto de um abusador não é esquecido, o assédio deixa marcas para a vida toda. Mas, ela buscou, ao lado do marido, meios de se reerguer diante da dor. Os dois juntos vendem picolé. Ela afirmou que ele é o maior apoiador.
Hoje, eu tenho dois filhos maravilhosos e um marido muito bom, que é trabalhador. Eu amo o que eu faço, todos os dias conheço novas pessoas. Quero conquistar muita coisa, tenho muitos sonhos. Dou valor a cada dia vivido, tentando ser o melhor de mim.
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