‘Precisamos falar de assédio no meio acadêmico?’ Essa pergunta pautou o projeto de iniciação científica, vencedor do prêmio do X Seminário de Pesquisa e Extensão da Faculdade Guarapuava. A pesquisa envolveu as alunas Gabriela Oliveira Martins e Mariza Waczack. Ambas são do quarto período do curso de Direito. Conforme as acadêmicas, elas tiveram a orientação da professora de Direito Penal e Criminologia, Fernanda Bugai.
De acordo com o resultado, das 42 pessoas pesquisadas em cinco instituições de Guarapuava, 40,5% responderam que sofreram pelo menos uma situação de assédio. E todas as instituições constam como espaços dessas ações. “Isso demonstra que se trata de uma violência que não privilegia espaços”.
Além desse, outro dado alarmante é que mais de 50% das respostas apontaram que os crimes ocorreram mais de uma vez. No entanto, cerca de 70% das vítimas não buscaram auxílio das instituições de ensino por vários motivos. Surgiram como causa da omissão, vergonha, constrangimento, ausência de provas materiais e medo de retaliação. Todavia, 60% de quem buscou amparo institucional, não tiveram retorno. E ainda, mais de 65% dos autores de assédio são homens, segundo a consulta.
A PESQUISA
De acordo com a professora Fernanda Bugai, a iniciativa partiu dela, e teve a aceitação das acadêmicas. Isso, por envolver um tema recorrente, mas que ainda é velado nos corredores institucionais. Conforme a advogada, a prática de assédio acadêmico é histórica. Alcança, em sua maioria, mulheres, embora não isente homens e pessoas não binárias.
“Trata-se de um fator que está associado ao machismo cotidiano e naturalizado em nossa sociedade. Conforme o Atlas da Violência de 2021, o Brasil registra um feminicídio a cada seis horas e meia. Das quais 66% são mulheres.
Conforme a pesquisa das acadêmicas, além das mortes de mulheres por questão de gênero, uma a cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência no Brasil. Entre estas, destacam-se as violências físicas, sexuais, psicológicas, morais e econômicas. Partindo do pressuposto de que o assédio é também uma forma de violência que se traduz em ações capazes de alterar a capacidade da vítima no desenvolvimento de atividades cotidianas, produzem um sentimento de vergonha e impotência.
Por isso, o trabalho científico das alunas, além do levantamento bibliográfico, envolveu a distribuição de um questionário. Dessa forma, as perguntas on-line foram para acadêmicas e acadêmicos de cursos de ensino superior de pelo menos cinco instituições de Guarapuava.
PELAS REDES SOCIAIS
Segundo a professora Fernanda, o questionário foi difundido nas redes sociais e a participação foi voluntária. O sigilo dos dados pessoais e de identificação de todas as participantes foi resguardado. Assim sendo, as 13 perguntas se voltaram para situações de assédio vivenciadas no meio acadêmico, cuja autoria fosse por estudantes ou professores. Em nenhum momento houve a identificação de eventuais agressores.
“Também se questionou acerca da possibilidade de compreensão sobre os tipos de assédio. Além das percepções da situação e sobre a procura de auxílio nas respectivas instituições. E ainda a possibilidade de colaboração para pensarmos em como os ambientes universitários podem oferecer maior segurança nessa temática”.
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