22/08/2023


Guarapuava Segurança

Condenado pela morte do pai, Gean diz que vai pedir revisão criminal

Gean cumpriu três anos de prisão, estudou o processo e agora cursa Direito. "Vou provar a minha inocência e quero novo júri"

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Gean disse que também quer deseja a reconstituição do crime por falta de perícia no local (Foto: Divulgação)

Gean Salles de 46 anos, sentou no banco dos réus durante cinco dias. Entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro de 2020, ele protagonizou o júri mais longo da Comarca de Laranjeiras do Sul. Ao fim do júri popular, Gean acabou considerado culpado pelo assassinato do próprio pai, Tadeu Abel Salles, em 2015. O veridicto dado pela juíza Cristiane Dias Bonfim o condenou a 18 anos e três meses de prisão em regime fechado. Além da acusação pelo assassinato, ele também ‘pegou cadeia’ por ocultação de cadáver. Conforme os autos, o corpo de Tadeu foi carbonizado.

Entretanto, após cumprir um sexto da pena, Gean está em liberdade, mas com uso de tornozeleira eletrônica. E a meta é uma só. “Comecei a estudar Direito e vou provar a minha inocência” Ao Portal RSN, ele disse também que está pedindo a revisão criminal. “Também quero outro júri”. Sabendo os detalhes, o que ele chama de trama para culpá-lo, Gean passou três anos preso estudando o processo. Ele também disse que levantou provas e que sabe quem é o autor da morte do pai. “As investigações tiveram três versões: herança x briga por um trator x desavença com um dos meus irmãos”.

“FALSO TESTEMUNHO”

De acordo com Gean, ele foi vítima de “testemunho falso” de um funcionário da loja de conserto de celular que ele tinha. Ali ele também vendia produtos importados do Paraguai. “Ele disse que no dia em que meu pai morreu eu fui na casa dele. Eu estava sujo de sangue e de barro. Disse que eu pedi pra ele dirigir o meu carro. Eu nem fiquei sabendo desse testemunho antes”.  Outra desconstrução levantada por Gean é que numa busca e apreensão feita na loja, encontraram cassetetes, celulares, máquinas de choque. “Esses objetos constaram como prova. Mas eu tinha esses objetos para vender. E os celulares eram de clientes”.

Muito nervoso, tremendo e tossindo muito durante mais de uma hora de conversa, Gean atribui a ‘armação’ a um familiar. “Ele é uma pessoa influente”. O motivo dessa acusação seria por causa de uma briga que Gean teve com o pai. “Eu bati nele [pai] porque ele ia agredir minha mãe que estava recém-operada. Mas depois conversamos e tudo ficou bem”. Ele também acusa a omissão do delegado de polícia à época em Laranjeiras do Sul. “Levei as provas do verdadeiro assassino, mas ele não deu bola. Tem 70 falsidades no relatório dele [delegado] e provo uma a uma”.

ESTUDOU O PROCESSO NA CADEIA

Conforme Gean, ele foi preso no dia 1 de dezembro de 2017. Além de estudar o processo após ter acesso a uma cópia, ele também escreveu cartas a um juiz e a um promotor. “O juiz apontou erros no processo, mas em vez de corrigir, saiu do caso. Entrou uma juíza que também saiu. E trocaram o promotor por três vezes”.

Outro ponto é que ele disse ter pedido 32 provas a seu favor. Todavia, apenas duas foram concedidas. “Houve muitas contradições de provas. Não chamaram o IML e nem a perícia para buscar o corpo do meu pai. Colocaram o corpo dele na caminhonete do meu irmão. Também pedi a reconstituição do crime que me negaram. Só isso já prova que não sou culpado. E também tenho provas de que quando meu pai morreu eu estava em Foz do Iguaçu e no Paraguai”. Gean disse também que toda essa trajetória envolve registros policiais entre ele e um dos irmãos por causa de bens.

No entanto, Gean foi a júri popular que durou cinco dias. “Mais de 50 pessoas testemunharam. O meu depoimento começou às 9h30 e só terminou à 1h da madrugada. Fui absolvido de quatro qualificadoras. Fui condenado por homicídio, ameaça à testemunhas e ocultação de cadáver. Mas deixei a cadeia no dia 22 de dezembro de 2020, após depoimento de agentes de segurança da cadeia de Guarapuava. “Antes de eu sair o promotor pediu uma avaliação criminológica, mas não tinha quem fizesse. Então os agentes falaram muito bem a meu respeito”.

“O CULPADO”

Em tese, segundo Gean, o motivo que levou à morte violenta de Tadeu foi ciúme. “Ele [Portal RSN se reserva ao direito de não divulgar o nome do acusado por Gean] pegou meu pai com a ex-mulher dele num bar. Riscou o carro do meu pai com facão. Mas no depoimento disse que não conhecia o meu pai, porém confirmou que deu faconada no carro. Disse também que tinha trabalhado com meu pai em Nova Laranjeiras. Mas meu pai nunca trabalhou lá”.

De acordo com Gean, uma das testemunhas afirmou que viu o suspeito saindo de Laranjeiras do Sul um dia após o crime. “No depoimento ele disse que foi colher maçã em Santa Catarina e que depois disso não lembrava para onde tinha ido”.

O CRIME

Tadeu Abel Carvalho Salles, desapareceu no dia 4 de dezembro de 2015 em Laranjeiras do Sul. Porém, dois dias depois, no dia 6, o corpo foi encontrado carbonizado. Estava na propriedade rural da família na Localidade de Cachoeira da Aparecida, interior do município de Marquinho.

Entretanto, no dia 8 de janeiro, o veículo foi encontrado. Todavia, após cerca de dois anos de investigações e depoimentos, além de provas periciais, Gean foi preso. Porém, pelo porte ilegal de arma de fogo e permaneceu na cadeia até ir a júri popular e ser condenado. Entretanto, ele diz que a partir da reconstituição do crime, o laudo pericial vai comprovar que ele é inocente.

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Cristina Esteche

Jornalista

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