O endividamento dos brasileiros bateu recorde em 2021 registrando valores jamais vistos. De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em novembro o número de famílias endividadas chegou a 75,6%. A taxa mostra um aumento preocupante levando em conta que o levantamento, iniciado em janeiro de 2010, não tinha superado a marca de 70% até julho de 2021.
A pesquisa inclui todo tipo de dívidas como cartão de crédito, cheque pré-datado, cheque especial, crédito consignado, carnê de loja, parcelas de pagamento de carros ou casas e empréstimos pessoais. O endividamento cresceu mais um ponto percentual se comparado com o mês anterior, e 9,6 pontos em relação a novembro de 2020.
O panorama reflete que, ainda que os serviços financeiros ofereçam juros mais elevados, a necessidade de crédito dos consumidores se mantém elevada. No total foram cerca de 12 milhões e 327 mil famílias que registraram contas por pagar. Na verdade, contratar um empréstimo não é necessariamente ruim, mas o problema acontece quando o orçamento familiar não consegue cobrir as despesas mensais e pagar as dívidas ao mesmo tempo. Lamentavelmente o percentual de inadimplência (ou seja de dívidas em atraso) alcançou o seu maior nível desde setembro de 2020, atingindo 26,1% dos lares brasileiros. Ainda mais: o número de famílias que expressaram não ter condições de pagar aquelas contas em atraso e que, portanto, permanecerão inadimplentes, manteve-se estável com 10,1%.
APESAR DA ALTA NOS JUROS, A DEMANDA POR FINANCIAMENTO CRESCEU
Provavelmente pela falta de dinheiro que a pandemia provocou na casa de muitos trabalhadores, assim como o aumento constante da maioria dos itens e serviços básicos, a procura por financiamento, especialmente por empréstimos pessoais, cresceu 173% em outubro passado. A comparação foi feita com relação ao mesmo período de 2020 segundo o relatório mensal elaborado por uma conhecida fintech de empréstimos on-line.
Para obter esses resultados foram monitorados dados dos bancos e entidades financeiras, e até o próprio Google mostra como, ao longo do ano, a procura das palavras “empréstimo pessoal” foi crescendo até superar o seu dobro.
No início de 2021 contratar um crédito, do tipo que for, era mais conveniente pois as taxas de juros tinham ficado no seu patamar mais baixo da história, e é bem provável que isso tenha favorecido o crescimento dos níveis de endividamento. Acontece que, até janeiro passado, a Taxa Selic registrava um dos seus menores valores históricos: 2%. Ela é a chamada taxa básica de juros, e é a ferramenta de política monetária utilizada pelo Banco Central para controlar a inflação ou estimular o consumo.
A Selic é utilizada pelos bancos para estabelecer os juros cobrados nos seus serviços financeiros. Desse jeito, quando ela desce, como aconteceu até começos de 2020, tomar dinheiro emprestado fica mais barato, estimulando o consumo, pois as pessoas têm mais capital disponível para isso. Pelo contrário, quando a taxa Selic é aumentada, os juros cobrados ficam mais caros, o que desincentiva o consumo favorecendo a queda da inflação.
Com a última decisão do Comitê de Política Monetária, 2021 registrou sete incrementos consecutivos na Selic, que atualmente está em 9,25%. Segundo a maioria dos economistas do mercado financeiro, a projeção é de novos aumentos para 2022, esperando uma taxa de 11,25% para o fim do ano conforme o Relatório de Mercado Focus. O panorama indica que os juros para os consumidores continuaram a subir, sendo preciso tomar decisões inteligentes e pensar se for verdadeiramente preciso a contratação de algum tipo de crédito.
COMO AS TAXAS DE CRÉDITOS TÊM FICADO ATUALMENTE?
A principal característica dos créditos pessoais é que eles podem ser contratados por pessoas físicas, sem ter que justificar o motivo ou o destino que será dado ao dinheiro, ao contrário do que acontece, por exemplo, com os créditos hipotecários. Muitas pessoas o utilizam para quitar dívidas anteriores, para fazer viagens ou até mesmo para investir em algum empreendimento.
Ainda assim, o crédito pessoal, como todas as opções financeiras do mercado, tem registrado um forte incremento nas suas taxas de juros. No final do ano, a taxa média de juros cobrada pelo sistema financeiro do Brasil nos empréstimos cresceu como forma de controlar a inflação e chegou aos seu maior índice desde novembro de 2019, atingindo 34,14%.
Só entre janeiro e o último mês do ano, as taxas médias do cheque especial, por exemplo, passaram de 127,7% para 140,3% ao ano, e os juros cobrados nos crediários do comércio passaram de 72,7% para 80% ao ano. O caso do cartão de crédito é mais preocupante, as suas taxas passaram de 257,1% no início do ano para 340,8% aproximadamente de acordo com os dados apurados pela Associação Nacional de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
No caso do crédito livre para pessoas físicas (ou crédito pessoal), passou de 43,8% para 45,2% ao ano. Portanto, apesar do incremento, as suas taxas continuam sendo mais convenientes do que outras opções. Além disso, para alguns analistas, o motivo da evolução crescente na procura pelo empréstimo pessoal tem a ver com as facilidades que essa alternativa oferece, pois nenhuma garantia é exigida, por exemplo.
Tal vez por esse mesmo motivo, muitas pessoas com o “nome sujo” utilizam os créditos pessoais para quitar dívidas em atraso. Embora pagar uma dívida adquirindo uma nova não seja a melhor estratégia, torna-se uma alternativa viável quando a taxa de juros do crédito atual for mais econômica do que a anterior, pois desse jeito, mesmo que conservando uma dívida, é possível dar um fôlego ao orçamento familiar.
Levando em conta o crescimento geral observado nas taxas de juros, e as estimativas apoiando a tese de que elas continuarão a crescer ao longo de 2022, um dos primeiros objetivos financeiros do ano precisa ser eliminar, ou pelo menos diminuir, a quantidade e volume de contas em atraso, para assim “limpar o nome” e oferecer um perfil mais atraente perante os bancos conseguindo acessar a créditos com melhores condições.
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