22/08/2023
Guarapuava

Apesar da desigualdade, mulheres brilham no mercado de trabalho

Reportagem especial traz histórias de uma piloto de avião, uma mecânica e uma empreendedora. Mulheres que conquistaram o mercado de trabalho

WhatsApp-Image-2022-03-08-at-11.44.32

Stephany é uma das mulheres que estão ‘voando’ no mercado de trabalho (Foto: Josias Celoni Cionek)

Além de todas as profissões que há na terra, as mulheres também dominam o céu. Os múltiplos espaços com a participação feminina mostram que a mulher pode ser e estar onde ela quiser. O Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta terça (8), relembra que a luta feminina começou pelo gênero, que também quer se posicionar no mercado de trabalho.

Apesar de diversas conquistas, a igualdade ainda parece um cenário distante. De acordo com um levantamento feito em 2021 pela Fundação Getulio Vargas (FGV), as mulheres ganhavam 19% a menos que os homens. Entre os trabalhadores com ensino superior completo, elas ganhavam 36,4% menos do que os homens com o mesmo grau de ensino.

Contudo, cada dia é mais uma oportunidade de lutar por igualdade. É nisso que a Stephany Celoni Cionek sonha na aviação. Com apenas 20 anos, ela já é piloto de avião em Arapongas no Paraná.

(Foto: Josias Celoni Cionek)

Desde pequena, ela andava em meio aos aviões e acompanha as viagens do pai, que também é piloto. “Eu não tive um momento em que decidi me tornar piloto, eu sempre soube que eu queria ser piloto”. Mas para chegar nas alturas, ela teve que ouvir que não seria possível.

Meu pai sempre foi muito feliz no que fazia e aquilo transbordava. Para mim, era óbvio que eu viveria daquela forma também. Mas não era todo mundo que apoiava. No colégio, ninguém levava a sério. E quando tinha 13 anos, uma pessoa me disse que eu não conseguiria entrar na aviação executiva por ser mulher, que empresários não me escolheriam por ser mulher. Naquele momento, eu foquei que ia provar o contrário!

Assim, ela se aplicou para trilhar a carreira que sempre sonhou. Até agora, Stephany já voou para mais de 13 Estados do Brasil junto com o irmão mais velho. Em meio a essa jornada, ela descobriu que também pode exercer a parte da mecânica.

Estou buscando me tornar mecânica de avião também. Este é outro sonho que carrego dentro de mim. Mesmo sabendo que é um mercado com pouquíssimas mulheres e que vou enfrentar desafios semelhantes, eu estou ‘afim’ de me arriscar. 

Além disso, a estudante também ‘voa’ com os pés no chão. Stephany é bailarina e diz que em breve vai viver o melhor dos dois mundos. “Recebi uma proposta para dar aulas de ballet infantil. Vai ser muito incrível, sair de uma oficina cheia de graxa, tomar um banho e entrar no estúdio, fazer um coque”.

(Foto: Reprodução/ Instagram)

No entanto, para ela, o espaço pode mudar. Mas no fim, tudo se une. Isso porque, ela afirma que voar é bem parecido com uma apresentação de dança. “Aquele frio na barriga, sensação que tudo depende de você e não poder errar”. Porém, seja no palco, no céu ou dentro da oficina. A Stephany tem certeza de uma coisa.

Me vejo a vida inteira na aviação. Não posso ficar sem voar! Como piloto ou não, eu tenho que voar pelo resto da minha vida. 

DESAFIANDO A SOCIEDADE

Quem também carrega a certeza dentro de si, é a Mariane Bernardini Abramoski, de 36 anos. Ela tem a própria oficina mecânica em Guarapuava e exerce com orgulho o título de mecânica. Ela começou como funcionária no escritório da oficina do pai. Mas não gostava do administrativo e ficava cada vez mais encantada com a oficina.

Um dia, ele saiu e chegou um dos clientes dele com um probleminha no carro. Eu expliquei que meu pai não estava, mas eu sabia como arrumar e perguntei se podia ser eu. Ele falou que não tinha problema, arrumei o carro e ele foi embora. Porém, dois dias depois ele voltou, quase morri do coração achando que tinha feito besteira. Mas ele veio me elogiar para o meu pai, que o carro nunca tinha ficado tão bom!

Mas ao contrário dos homens, não foi somente a qualificação que era exigida para atuar na profissão. Isso porque, ela conta que enfrentou muito preconceito para ser reconhecida, especialmente de mulheres. “Eu ouvi “você entende mesmo?”, “credo esse serviço é pra homem”, “ficar suja, cheirando gasolina” e já tive que escutar “você é tão bonita, vai estragar teu cabelo e tua pele”.

Entretanto, Mariane bateu de frente e mostrou que a profissão não a faz menos mulher, só fortalece. “Lógico que me sujo, fico cheirando gasolina. Mas para isso existe água, sabonete e muito ‘Boticário’ (risos). Sempre trabalho com lápis no olho, batom, perfumada e muito creme na mão.

Não deixei de ser mulher por ter escolhido ser mecânica!

(Foto: Arquivo Pessoal)

Inclusive, Mariane também relata que os desafios de ser mulher em uma oficina, também fazia os clientes duvidarem da capacidade dela.

Já arrumei carro pra mostrar que realmente sabia o que estava fazendo e estraguei novamente pra provar que sabia o que estava fazendo. Já dei banho de gasolina em cliente de propósito pra saírem de perto, fiz levar choque no carro para parar de tentar me ensinar meu serviço.

Aliás, este é um problema ainda maior. A desigualdade mostra que o Brasil não está avançando em termos de gênero, já que, o País figura em 78ª posição no ranking que mede igualdade de gênero em 144 países. O dado faz parte do Índice de Gênero dos ODS 2022, desenvolvido pela Equal Measures 2030.

Só que para Mariane, não importa o cenário. Ela conquistou o espaço dela e incentiva outras mulheres a fazerem o mesmo. “Corra atrás dos seus sonhos, a única pessoa que pode colocar limites na sua vida é você mesma”.

CONQUISTANDO SONHOS

Parece que a Luciane Santos Hanchuck Bordinhão estava no mesmo lugar e ouviu a frase da Mariane. Só que não, ela mesma decidiu que queria ser empreendedora e conseguiu. A empresária tem uma loja de confecção de roupas há três anos em Guarapuava. E entre viagens de negócios e o ritmo agitado do cotidiano, ela também é mãe de três filhos.

Era meu sonho ter uma loja de roupa. Amo mexer com moda, ver os olhos das pessoas brilharem quando colocam uma roupa no corpo e se acham linda. Isso não tem preço!

(Foto: Arquivo Pessoal)

Por outro lado, para Luciane, a maternidade também não tem preço. Por isso, devido as crianças, ela teve que adiar o sonho de empreender.

Foi frustrante! Só que eu também sonhava em ser mãe de uma menina. O maior desafio é vencer a culpa. Sinto culpada por estar pouco tempo ao lado dos meus filhos. Então o desafio é saber priorizar funções, já que tudo é importante, desde levar e buscar o filho na escola, como divulgar a marca, fazer pesquisas e administrar.

(Foto: Lays Vieira)

Assim, a empreendedora começou a buscar formas do sonho dar certo. E hoje, ela vê como todo o esforço, valeu a pena.

No começo era triste eles choravam e eu também. Mas consegui vencer e agora, eles já entendem! Como valeu a pena! Tenho meu sonho realizado em todas as áreas, ser mãe, empresária e esposa.

Leia outras notícias no Portal RSN.

Vallery Nascimento

Jornalista

Jornalista formada desde 2022 pelo Centro Universitário Internacional - Uninter. Além do amor pela comunicação, ela também é graduada em Letras com habilitação em inglês. Apresenta o Giro RSN de segunda a sexta, às 18h nas redes sociais do Portal RSN.

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.