*Reportagem com vídeo
Eu sou Tauana Oliveira, tenho 33 anos, sou doutoranda e mestra em educação. Funcionária Pública há 12 anos no município de Pinhão, atualmente trabalhando com coordenação esportiva na Secretaria de Esportes. Minhas inspirações de vida sempre foram minha mãe e minhas avós.
Tauana, que tem como inspirações mulheres fortes, humildes e de uma família batalhadora, sempre esteve buscando ascensão social, mesmo com todas as barreiras estruturais do sistema. Ela conta que a infância foi bem vivida e sempre teve habilidades para o esporte. “Desde cedo desenvolvi habilidades que me levaram a jogar futebol ou futsal. Acredito que a primeira vez que fui impactada pelo machismo foi justamente por ser menina, gostar e ser boa no futsal”.
Como criança, não compreendia o motivo de ser tão questionada por querer jogar. “Sempre tive apoio incondicional de minha família e foi isso que me fez continuar. Com o passar do tempo, em competições escolares fui vista jogando e convidada a participar da seleção do município de futsal, desde então não parei mais”. Assim, conta que o esporte foi fundamental e faz parte de muito de quem é.
Fiz muitos amigos pelo mundo inteiro e vem do esporte a profissão que exerço. Durante a trajetória como atleta fui atravessada por muitos ataques de machismo, homofobia e racismo, mas a rede de apoio familiar e esportiva sempre foi um escudo diante de tudo isso.
Tauana também relata que descobriu a negritude propriamente dita na universidade. “Sempre soube que vinha de família negra, mas não compreendia o que, de fato, isso significava enquanto sociedade. Após a universidade novamente o machismo, homofobia e racismo estiveram presentes em minha carreira profissional, por ser um ambiente dito masculino e por ser referência em um esporte também dito masculino, a presença de uma mulher sempre foi motivo de incômodo”.
Desse modo, para ela as imposições sociais a fazem refletir sobre o poder da sociedade frente aos corpos das mulheres. E, mesmo sendo campeã paranaense como técnica de futsal e atleta, mesmo já recebendo prêmios entre os melhores técnicos de futsal do Paraná e mesmo sendo uma das únicas mulheres a conduzir um equipe masculina no Campeonato Paranaense de Futsal, muitas vezes sabe que há pessoas que duvidam do potencial feminino.
Quem vê (ou lê) esses desabafos de fora pode pensar que resistir a tudo isso esteja somente baseado em ter força de vontade. As mulheres estão tendo força de vontade desde sempre e não é sempre que temos saúde mental para lutar por nossos direitos.
Tauana foi a primeira mestra da família e possivelmente será a primeira doutora.
Enfim, não somente ser mulher, mas ser mulher, negra e lésbica, não é simplesmente ser. É saber que pra percorrer um caminho que poderia ser simples, torna-se pelo menos três vezes mais difícil por ser atravessada por essas intersecções. Tenho plena consciência que as possibilidades que tenho hoje, somente existem por causa de muitas mulheres fortes que vieram antes de mim. Apenas gratidão eterna pelas minhas ancestrais que lutaram e resistiram para que eu e outras pudessemos ser tudo que somos hoje.
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