Foram 102 dias de prisão num espaço dividido com homicidas, assaltantes e outros presos por vários delitos. Entretanto, a primeira coisa que David Gonçalves fez tão logo deixou a cadeia foi ir até o Portal RSN. Era por volta das 15h30 desta sexta (25) quando ele chegou acompanhado pelo advogado Acyr Neves.
David está liberado por meio de ‘habeas corpus’ concedido pelo Tribunal de Justiça do Paraná. De acordo com a sessão do colegiado nessa quinta (24), o empresário vai aguardar o julgamento do processo em liberdade. Ele está sendo julgado por fraude financeira e lavagem de dinheiro. Trata-se da operação Damna desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A mesma operação que também prendeu Kelvyn e o pai dele Valdecir Baltokoski, em tese, pela prática do mesmo crime.
Entretanto, David nega que tenha feito qualquer operação ilegal. “Minha empresa tem quase seis anos. Mas comecei a atuar na área de investimento há cerca de dois anos e meio. Nunca lesei nenhum cliente. Não pratico pirâmide financeira”. Conforme a defesa na segunda instância, isso ficou comprovado pelo TJ. “O David trabalha com operação financeira de investimento econômico. Isso está comprovado pelo Tribunal de Justiça. Já com a BTK não há nada que comprove. Não se sabe se era um esquema de pirâmide ou não”.
CONTATO ERA DIRETO COM O CLIENTE
Diferente da BTK, empresa de Kelvyn, conforme David, ele “nunca” prometeu ganho mensal em percentual a nenhum dos cerca de 400 clientes. “O meu contato era direto com cada cliente, por WatsApp. E qualquer um deles podia ir ao escritório e me ver operando. Não fiz nada sem a permissão deles”. Ele disse que tudo consta numa planilha.
De acordo com o empresário, o volume total de valores colocados em suas mãos gira em torno de R$ 18 milhões. “Das operações que eu fazia 40% era pra mim e os 60% restantes ficavam com o investidor. Só quatro entraram com ação, mas depois que fui preso e por medo”.
Desde o dia em que ficou preso, contudo, David deixou de trabalhar. “Somei 102 dias sem poder trabalhar. Meus clientes, portanto, deixaram de ganhar. Tudo está parado”.
COMO TUDO OCORREU
Eram 5h50 da manhã de 14 de dezembro de 2021. David se preparava para ir à academia quando policias ligados ao Gaeco chegaram na casa dele. “Eles [policiais] disseram que tinham um mandado de busca e apreensão. Entraram na minha casa, mas não encontraram nada”.
De acordo com David, em seguida, se dirigiram até o escritório. Fica em frente a Lagoa das Lágrimas. Lá, segundo o empresário, pegaram HD do computador, planilhas, R$ 500 mil em espécie, e outras anotações. Depois, ele foi levado à sede do Gaeco onde ficou sabendo que tinha mandado de prisão contra ele.
No entanto, Vinicius Patrocínio de Souza, que tem parceria com David, ficou em liberdade. “Ele não foi preso porque a Mercedes que ele tem está no nome dele. A minha caminhonete está em nome de terceiro porque ainda encontra-se financiada. Só posso passar para o meu depois de quitar. Por isso, o Gaeco achou que se trata de ocultação de bens e me prendeu”.
A ROTINA NA CADEIA
David contou que acordava às 5h da manhã. Três horas depois tomava café e comia um pedaço de pão. O passatempo, conforme o empresário, era a leitura da Bíblia. “Sempre li a Bíblia, mas lá eu passei a ler mais”. Depois, voltava para cama, conversava com outros presos e às 12h serviam o almoço. “Depois a gente ficava esperando a janta”.
Tempo, portanto, é o que não faltou para David. “Refleti muito sobre a minha vida. Passei a dar mais valor às coisas simples. Saio da prisão sendo outra pessoa. Vou valorizar mais pessoas; mudar de atitudes. Respeitar mais a minha esposa, os poucos amigos. Lá [na prisão] tive um filtro de tudo. Mas a liberdade não tem preço”.
Tão logo deixou o Portal RSN, o empresário retornou para a casa. “Quero passar o fim de semana com a minha esposa. Depois, a partir de segunda vou reorganizar a minha vida. Me redescobrir como uma pessoa livre. Pensar em reorganizar a empresa e voltar ao trabalho”.
De acordo com Acyr Neves, David terá que cumprir restrições. “Ele não poderá ficar fora de casa das 19h às 7h pelos próximos 90 dias. Depois disso não terá que cumprir nenhuma outra exigência”. Ele, no entanto, está sendo monitorado por tornozeleira eletrônica.
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