Parintins, cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, no interior do Amazonas, começa, nesta sexta (24), um dos maiores espetáculos cênicos-musicais do país. O Festival Folclórico de Parintins, duelo dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso, que se confrontarão na arena do bumbódromo durante três noites.
O espetáculo
O festival é dividido em três noites, onde cada bumbá tem duas horas e meia, por noite, para representar o tema escolhido para este ano. As apresentações são formadas por atos, parecidos com o de uma ópera.
Quatro partes principais formam o espetáculo da noite: exaltação folclórica, figura típica regional, lenda amazônica e ritual indígena. Para cada parte, alegorias cênicas são montadas para o cenário.
Para cada ato há uma toada (música) composta exclusivamente para ser o fundo musical daquele momento. Os atores dessa ópera cabocla são cantores (levantadores de toada), ritmistas (componentes da Marujada do Caprichoso e Batucada do Garantido), músicos profissionais, os destaques (aqui, chamados de itens porque cada figura é avaliada por um júri), os figurantes e as torcidas (galeras).
A disputa
Os bois concorrem ao título de campeão do festival do ano corrente. Este é 55º ano do festival de Parintins, mas a brincadeira já existe há mais tempo. Os bois consideram oficialmente que Caprichoso e Garantido foram fundados em 1913.
Dentro da arena, os bois concorrem a 21 itens, que são divididos em blocos específicos. Os itens individuais, por exemplo, são: levantador de toada (cantor), cunhã-poranga (a mulher mais bonita), rainha do folclore (representa o folclore brasileiro), porta-estandarte (leva o pavilhão do boi), pajé (encena as partes místicas) e o amo do boi (entoa versos cantados dentro da arena).
Cada item é avaliado com notas de 7 a 10. O corpo de jurados é escolhido por meio de um edital nacional. São profissionais ligados a universidades brasileiras, geralmente com títulos acadêmicos de mestrado e/ou de doutorado na especialidade que vai julgar.
São dez jurados que vêm e ficam isolados, tendo a oportunidade apenas de conhecer o trabalhos dos bois em galpões e a parte social, principalmente com as respectivas escolas de arte onde cada agremiação forma a mão de obra desde a juventude.
Em 55 anos de festival, o boi Garantido leva vantagem de ter 32 títulos, contra 23 do Caprichoso.
O tamanho da festa
Os bois dançavam na rua quando a brincadeira surgiu na cidade, lá pelo início do século 20. Em 1965, um grupo de amigos, ligados à Juventude Alegre Católica (JAC) resolveu criar o festival e reunindo os dois bois em um lugar de disputa.
Em 1975, a prefeitura local assumiu a organização do evento tornando-o parte do calendário oficial do município. Em 1994, a Rede Amazônica de Televisão, afiliada à Rede Globo, fez a primeira transmissão do festival e, a partir de então, o evento só cresceu em projeção nacional e até fora do país.
No ano seguinte, em 1995, a gigante de bebidas Coca-Cola assina um contrato como patrocinadora da festa, o que foi seguido pelo banco Bradesco e, atualmente, a AMBEV, maior empresa de cervejas do Mundo, junto com mais 12 empresas patrocinadoras.
A rivalidade da festa é tão grande que os representantes de Garantido e Caprichoso exigiram que as marcas obedecessem as cores oficiais dos bois. Por isso, Parintins é a única cidade do Mundo onde a marca Coca-Cola é azul e do Bradesco, também. As Americanas têm placas vermelha e azul e assim por diante com todas as marcas que queiram se apresentar como patrocinadoras oficiais do evento.
Além das empresas, o Governo do Estado e o Governo Federal são patrocinadores da festa. Unindo tudo, cada boi-bumbá trabalha com um orçamento em torno de R$ 10 milhões, cada um.
Projeção nacional
Parintins tem cerca de 118 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE para 2020. Para os 3 dias de festival, são estimados cerca de 70 mil visitantes, que chegam de avião ou via fluvial. De Manaus, por exemplo, a viagem dura entre 8 e 14 horas de acordo com o tamanho e velocidade da embarcação. Em avião de grande porte, não passa de 40 minutos de viagem.
Chegar a Parintins não é barato. É uma viagem cara, se comparada a outros destinos. Mesmo assim, a cidade fica superlotada. Pelos cálculos da prefeitura, a economia local fatura em torno de R$ 80 milhões, considerando desde o setor hoteleiro até o prestador de serviço, como os tricicleiros, que dirigem o principal transporte pago da cidade. Parintins não tem ônibus, o povo anda de triciclo, armação de ferro, tracionada por uma bicicleta. O relevo quase 100% plano da cidade, que é um ilha, facilita o tráfego.
Segundo Marinha do Brasil, são esperadas atracar no porto da cidade cerca de 300 embarcações que trazem passageiros principalmente de Belém e Manaus, principais pontos de contato da cidade com o Mundo.
Rivalidade
Em mais de 100 anos de brincadeira, o amor pelos bois de Parintins já tem gerações de torcedores apaixonados de todas as idades, Famílias inteiras torcem por um determinado boi-bumbá. Baseado nas cores básicas de cada um, a rivalidade começa pela roupa que se veste.
Não tente entrar em um reduto, residência ou lugar público, que seja de um vestindo as cores do outro. O comércio aproveita e produz enxoval completo que podem ir desde a roupinha de bebê até toalhas, panos de mesa, calçados, chapéus, uma infinidade de produtos que o farão ser identificado facilmente para qual boi torce.
Essa rivalidade se expande para as ruas da cidade que é dividida em duas partes, a partir do marco central. Para o leste, azul do Caprichoso, e oeste, o vermelho do Garantido tinge as calçadas. Não é incomum, as casas serem pintadas nas cores dos bois, bem como as ruas estarem enfeitadas como bandeirinhas, lembrando também que é mês de junho.
Aqui, uma dica para quem vem de fora. O torcedor apaixonado de verdade sequer pronuncia o nome do outro. Aqui, o rival que vai ser confrontado na arena do bumbódromo é o ‘contrário’, e basta.
Assistir à apresentação no Paraná
O festival começa às 20h desta sexta-feira, com apresentações também no sábado e domingo, a partir das 20h30 nesses dois dias.
O espetáculo pode ser acompanhado ao vivo pelo canal do YouTube da TV Acrítica, emissora oficial do evento. A TV A CRÍTICA transmite ao vivo. Além do Amazonas, a TV A CRÍTICA também é transmitida em sinal aberto nos Estados do Acre, Rondônia, Pará, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Minas Gerais.
Pela TV paga, a TV A CRÍTICA é transmitida no Canal 514 da Claro/NET.
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