Maria Gomes de Oliveira, só veio a ser conhecida como ‘Maria Bonita’ depois de morta. Chamada de ‘Rainha do Cangaço’ por ter sido companheira do líder do movimento, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o nome de uma das personagens mais famosas da história brasileira ganhou destaque nos últimos dias. Isso porque em uma fala, uma das participantes do reality show Big Brother Brasil, foi encorajada com a frase: “Você tem sangue de Maria Bonita!”.
Para entender o significado da fala e a representatividade adquirida ao longo das décadas que Maria Bonita passou a exercer no ideário do país, a Rede+ conversou com a historiadora Rosemeri Moreira. Ela pesquisa teoria feminista, história das polícias, história das mulheres, corpo, masculinidades e violência.
Segundo a professora do departamento de história da Unicentro, “para muitas pessoas está naturalizado a ideia de que o feminino é fraco”.
E quando vê uma mulher assim, tipo a Maria Bonita é como se fosse uma exceção. Existem muitas ‘Marias Bonitas’. E dentro, às vezes da mesma mulher, podemos ter muitas coisas. Nós podemos ser fortes e também podemos ser frágeis. Todos os seres humanos na verdade.
Quando Fred disse “Você tem sangue de Maria Bonita”, ele se referia a Marília como uma mulher forte, combativa. Como no momento a participante do reality chorava pois havia perdido uma prova, o médico quis dizer que ela deveria agir com uma mulher forte, como foi a primeira mulher a se inserir oficialmente no cangaço.
Porém Rosemeri esclarece que Maria Bonita se tornou um símbolo que remete a força e braveza de um grupo de mulheres devido a questões da geração atual. “A Maria Bonita, ela não estava preocupada com representatividade feminina. Essa é uma questão da nossa geração”.
Por meio do mito criado a partir dos relatos ao longo da história construiu-se uma imagem da cangaceira, porém quem cria essa construção, “ah você parece uma Maria Bonita” é o participante do BBB.
Ela era uma mulher pobre. Então não importa se você é homem, se é mulher, quando você é pobre naquele Brasil, pós-republicano miserável, eles só podiam fazer isso. Maria Bonita é a mais famosa por ser a companheira do Lampião e da maneira que eles foram mortos, capturados e executados. Mas havia mais mulheres no cangaço.
Portanto, a partir do ótica atual em que vê mulheres no cangaço como eventos disruptivos, para as pessoas da época o fato não era tão extraordinário assim. “Porque se você é miserável naquele nordeste, acabava sendo uma reação de muitos grupos miseráveis entrar para o banditismo para sobreviver”.
MARIA BONITA
Conforme o perfil biográfico divulgado pela Fundação Joaquim Nabuco, Maria Bonita era muito respeitada pelos demais cangaceiros. “Respeitavam-na muito, referindo-se a ela como Dona Maria, Maria de Lampião ou Maria do Capitão. Era o ano 1931 e ela tinha 20 anos”.
A partir de então, outras mulheres também entraram para o cangaço. Contudo, segundo a Fundação, elas não participavam dos combates, mas colaboravam nas brigadas cuidando dos feridos, cozinhando e lavando. Porém a vida das mulheres era bastante difícil.
MORTE
Maria Bonita acabou baleada na vila de Serrinha, próximo ao município de Garanhuns (PE). Como estava perdendo muito sangue, o Capitão Virgulino encerrou a luta e a levou ao município de Buíque, onde ela tratou os ferimentos na vila de Guaribas.
Em 27 de julho de 1938, o bando estava acampado em uma fazenda quanto policiais abriram fogo com metralhadoras. Os cangaceiros não tiveram chances durante os vinte minutos de ataque. Lampião ficou gravemente ferido, assim como Maria.
Ainda assim, ela rastejou até o companheiro e pediu que o poupassem, o que foi inútil. Após isso um soldado, José Panta de Godoy, arrastou Maria Bonita pelos cabelos e a degolou ainda viva. Por fim, as cabeças cortadas de Lampião e Maria Bonita foram expostas como troféus de vitória.
Mesmo em adiantado estado de decomposição, as cabeças percorreram uma parte do Nordeste do Brasil, sendo exibidas à população. Elas atraiam multidões, onde quer que fossem expostas.
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