Jocelize Souza Santos, ou apenas Jojo, surpreende na descrição. Multiartista e produtora independente, ela é graduada em Psicologia, especialista em Gestão Cultural Contemporânea, e técnica em Direção Cinematográfica pela Academia Internacional de Cinema. E para além disso, também taróloga e astróloga.
Sentada na poltrona do estúdio onde ocorrem as lives do Portal RSN ela aguarda pela conversa amistosa. Antes de ouvi-lá, a equipe da Rede+ se apresenta e fala um pouco sobre o conteúdo produzido pelo portal digital. Atenciosa, Jojo apenas ouve. Após formalidades, ela começa a contar sobre o trabalho dela e todos na sala ficam admirados com tamanho talento. Jojo é serena, mas representa força de mulher que aprendeu a ressoar com a astrologia.
A astrologia é importante para quem ressoa com ela. Nesses casos em que há uma sintonia com a astrologia, se convidar a olhar o céu acima da sua cabeça traz um momento para olharmos pra nós, para o que estamos fazendo, como estamos nos relacionando no mundo. Nos coloca em uma observação e disposição ativa aos acontecimentos da vida e de como vamos reagindo psíquica e emocionalmente a eles.
Tudo começou em 2010 quando um astrólogo interpretou o mapa dela. Um mapa astral, ou mapa natal, mostra a posição exata dos astros no momento de nascimento de uma pessoa. Cada ser humano possui um mapa único, é como se fosse uma espécie de DNA. Jojo conta que ficou muito impressionada com a qualidade das informações que ele passava.
“Fiquei me perguntando como ele sabia questões tão específicas e particulares sobre mim, sobre meu contexto e família, sendo que nunca havíamos nos falado antes”. Além disso todo o contexto da ‘leitura’ chamou a atenção da artista. O astrólogo olhava “umas linhas dentro de um círculo com uns símbolos planetários e interpretava tudo aquilo”. O mistério daquilo a fascinou e a atraiu aos estudos, primeiro como um hobby de leitura, depois, no fim de 2016 como um compromisso.
EXERCÍCIO PARA PENSAR A REALIDADE
A Astrologia é um campo de estudo muito antigo que atrai a curiosidade de estudiosos há milhares de anos com registros que remontam ao período Antes de Cristo (A.C.). O ser humano sempre observou o céu e logo descobriu como a posição dos astros e estrelas interferiam no dia a dia. Com o tempo as observações deram espaço a um sistema padronizado, que repartia o céu em 12 faixas, correspondentes aos 12 signos do zodíaco conhecidos até hoje.
Conforme o texto da Revista Super Interessante, “o esquema cruzava os ciclos da Lua e do Sol com os dos demais astros, anotava repetições e assim marcava a passagem do tempo”. Isso mais tarde viria a ser o calendário detalhado, com os 365 dias. Inicialmente as culturas se valiam da astrologia especificamente para interagir com o trato da terra e das plantações. Mas posteriormente a área evoluiu para a análise do lado comportamental/social também.
Segundo Jojo, a astrologia é um exercício para se pensar a realidade, já que contribui para o desenvolvimento das habilidades interpretativas e analíticas do ser humano. Além disso, contribui no desenvolvimento de um pensamento simbólico, criativo, narrativo, imagético. “Estar mais atento aos movimentos subjetivos, a história que o céu está nos contando naquele momento e observar isso sincronicamente se apresentando a nossa frente é uma das contribuições da astrologia, ao meu ver”.
A astrologia, bem como outras áreas simbólicas de conhecimento, fornece estruturas conceituais para um “experimentar a si”. Porém a taróloga ressalta que é preciso se atentar com a tendência cultural do ocidente em esvaziar os sentidos e alçar estereótipos deterministas. Por isso, “justificar comportamentos, emoções e ideias imaturas ou irresponsáveis por causa de um signo, é encarcerar a si e estancar o próprio desenvolvimento”.
A astrologia não serve para dar rótulos e estereótipos, esse nunca foi o objetivo dessa área. Ela contribui com o nosso momento histórico. Isso ocorre a medida que nos permite ampliar nossa visão de mundo e de nós mesmos, fornecendo um caminho, uma linha de entendimento, de interpretação, mas que não exclui nenhum outro tipo de observação ativa de si.
POPULARIDADE
Cada vez mais pessoas têm acompanhado os trânsitos dos astros e de como eles interferem na vida cotidiana. O acesso a isso também tem sido facilitado. Hoje em dia há vários sites que geram mapas astrais. Basta inserir o dia, hora exata e local do nascimento e pronto, está feito.
Para Jojo a popularidade da área mostra como as pessoas têm buscado por mais significado e sentido para a vida. Porém ela destaca que a astrologia ou outros sistemas simbólicos não substituem tratamentos, como a psicoterapia. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Você não deixa de ir ao médico só porque assistiu um filme em que o personagem tinha uma história parecida com a sua”.
Estar atento ao que os astros dizem é estar atento a nós mesmos, e estar atento aos movimentos coletivos dos astros (como os períodos de planetas retrógrados e aspectos muito significativos). É estar atento a tudo que está acontecendo a nossa volta.
Desse modo a astrologia pode ajudar a construir uma conexão íntima consigo mesmo, mas deve, ao mesmo tempo, conectar ao coletivo “pois não há uma sem a outra”. Importante entender que a astrologia sempre vai estar falando sobre tendências. Uma tendência é sempre algo que em determinados arranjos tende a se repetir.
AUTOCONHECIMENTO
Assim, a astróloga explica que se atentar aos astros significa criar sinalizações sobre automatismos de pensamento, ações, ou situações coletivas. “Criando essas sinalizações fica mais fácil perceber quando estamos sendo levados por automatismos e repetições de ciclos desafiadores, ou ainda, de perceber habilidades, potências e oportunidades não vistas anteriormente”.
A astrologia se tornou uma área de interesse particular porque achei interessantíssimo o quão sincrônico podem ser os símbolos ali apresentados. A astrologia me forneceu “conceitos guarda-chuva” que criam paisagens, histórias, insights, imagens que desvelam faixas moduladoras em nós, num sentido arquetípico. Percebo na Astrologia e no Tarot formas de acessar gramaturas de percepção sobre mim, sobre a vida.
E nessa experimentação dela mesma, Jojo passou a usar a astrologia e o tarot para compor músicas, escrever contos, poesias, roteiros, trabalhar com sonoplastia entre outras várias atividades. Tanto que no fim do ano passado a artista teve um curta veiculado pela Globo Play.
As várias histórias que um mapa astral pode simbolicamente contar, convida a uma reflexão e espelhamento de questões particulares. Entretanto, como destaca Jojo, sempre é importante carregar uma boa dose de desconfiança saudável para que aquilo não enrijeça a pessoa, mas se torne uma das ferramentas para experimentar a si.
“A astrologia é uma linha de [auto]conhecimento. A astrologia não é ciência e nem pretende ser, ela é uma área de conhecimento simbólica, mitológica, interpretativa”.
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