Entre fraldas, amamentação, noites mal dormidas, nova rotina e um ser novo no mundo, há quem poderia imaginar que não sobra espaço na vida dos pais. No entanto, a culpa sempre toma conta como um alerta de que nem tudo é suficiente. Assim, a parentalidade se torna mais difícil e sobrecarregada.
Um levantamento mostrou que o sentimento é comum entre os pais, especialmente as mães. De acordo com a pesquisa ‘Parentalidade Real’, 51% das mães brasileiras sentem culpa na maternidade. O estudo ouviu 1.010 mães e pais de 25 a 40 anos de todo o Brasil em 2022.
Conforme os dados, elas se sentem culpadas em relação aos bebês, por acharem que poderiam fazer mais por eles. Assim como, elas desejam voltar à vida anterior ao nascimento das crianças. Além disso, o estudo mostrou que a sensação de culpa é ainda mais intensa em 45% das mães solo.
O SENTIMENTO
Dentro desse número, está a Amanda Alice Brix Regiani de 24 anos que mora em Guarapuava e tem o pequeno Murilo Brix Regiani de um ano e três meses. Ela contou que enfrentou momentos de autocobrança sobre tudo que envolvia a maternidade. Isso porque, Amanda sempre estava em busca de fazer mais e ser a melhor mãe que o filho poderia ter.
A culpa posso dizer que sempre existiu. Desde o início da gravidez, sempre me cobrei demais. Você estuda, faz planos e coloca em prática segundo a minha realidade, aí vem os julgamentos das decisões por parte de outras pessoas e também por mães, por incrível que pareça. Se você faz de uma forma é errado, se faz de outra também é. Então a culpa é achar que está falhando como mãe, que não está fazendo o suficiente. Mas a realidade é que a insegurança te acusa de coisas que não são verdades. Como estamos tão frágeis e com os sentimentos à flor da pele, acabamos acreditando nisso.
PSICOLOGIA
Os pensamentos que passavam pela cabeça da Amanda são comuns, conforme a psicóloga Gabriella Brustolin. A profissional explica que a culpa surge quando as ações não correspondem à cobrança, podendo vir da própria pessoa ou da sociedade em relação ao maternar/paternar perfeito. Esse sentimento costuma ser externalizado nas tentativas desgastantes em alcançar a perfeição e em atingir as expectativas.
O que resulta em pais constantemente cansados, insatisfeitos, muitas vezes tristes e desapontados com a parentalidade. Há casos que até progridem à uma depressão. Todo esse cenário afeta negativamente a saúde física e mental dessas mães e pais, que carregados por todo esse sentimento de culpa deixam de aproveitar e viver a parentalidade. A saúde mental dos pais afeta diretamente os filhos, porque uma mãe esgotada emocionalmente não tem a mesma disposição, por exemplo, para interagir com os filhos e até mesmo os ajudarem a estimular o desenvolvimento.
A Amanda viveu isso na pele quando precisou passar pelo desmame do filho. De acordo com ela, este foi o momento de maior culpa que sentiu, pois estava no auge da exaustão física e emocional, além de conflitos internos.
Meu filho estava na fase de procurar o peito o tempo todo e como optei por trabalhar em casa, todo o meu dia era dedicado a ele. E ainda tinha noites sem dormir que me fizeram tomar essa decisão de encerrar esse ciclo. Me senti culpada e me julguei por pela primeira vez em muito tempo pensar em mim em primeiro lugar. Mas foi para mim, na minha realidade e na dele, a escolha correta. Ele hoje dorme a noite toda, está bem melhor em todos os sentidos, e consequentemente eu também.
IMPACTO
Assim como a Amanda, muitos pais também precisam entender como levar a maternidade/paternidade de uma forma leve, entendendo os próprios limites. A psicóloga Gabriella Brustolin ainda explica que o impacto da mudança de expectativa também envolve os filhos.
“Filhos de pais emocionalmente saudáveis têm maiores chances de desfrutarem da companhia, de receberem atenção, de desenvolverem habilidades cognitivas e emocionais”.
Para isso, é necessário mudar a expectativa de lugar, acolhendo a parentalidade real e vivenciando cada momento. Pedir ajuda também é importante, pois divide o “peso” da culpa sobre os ombros dos pais. Amanda reconheceu isso na rede apoio.
Foi essencial minha família, meu esposo e também construí amizades com outras mães que enfrentam a mesma realidade. A rede de apoio não é luxo, é necessidade! Todas merecem ter essa ajuda e acolhimento, não apenas palavras da boca para fora. Mas palavras sinceras de compreensão, com certeza a maternidade se torna muito mais leve com essa ajuda.
A psicóloga reforça ainda que o acompanhamento profissional ajuda a enfrentar esse momento. Dessa forma, os pais podem se sentir acolhidos e passam a enxergar ‘vida’ na parentalidade.
Há muitos profissionais qualificados em auxiliar nesse processo da parentalidade, oferecendo orientação que tem trazido muitos benefícios à muitas famílias na educação dos filhos. A maternidade e a paternidade não deveriam ser motivos de sofrimento! Caso para você isso esteja muito distante e difícil, recomendo que procure ajuda! Tem sim, vida na maternidade.
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