Na Terra Indígena Marrecas, em Turvo, adolescentes se mobilizam para ouvir as histórias contadas pelos anciãos da etnia Caingangue. A ação faz parte da disciplina ‘Projeto de Vida’, implementada desde 2022 no novo ensino médio da rede estadual de ensino.
No Dia Nacional dos Povos Indígenas, celebrado nesta quarta (19), a secretaria estadual da Educação chama a atenção para esta atividade. Conforme a Seed, trata-se de uma forma de promover a tradição oral. Ou seja, como forma de transmitir conhecimento e valorizar a ancestralidade indígena dentro do cotidiano escolar.
Simone Kambé de 15 anos, estuda no Colégio Estadual Indígena Cacique Otávio dos Santos. Ela tem, agora, uma série de matérias que integram o conhecimento científico às especificidades da própria cultura.
Aprendi sobre os remédios do mato, as plantas. Gostei muito de sair para fazer pesquisa com os mais velhos, para não perdermos nossos costumes.
Saúde Coletiva, Filosofia Indígena (para a 2ª série do ensino médio), Ecologia e Agroecologia Indígena e Organização Social, Política e Direitos Indígenas (para a 3ª série). Estes são alguns exemplos de um currículo voltado à realidade dos estudantes. Conforme a Seed, o objetivo passa por mantê-los conectados à escola. Sem, no entanto, levar em consideração as perspectivas de futuro.
De acordo com a Educação, essas disciplinas compõem o “itinerário formativo integrado”. É ofertado em todas as escolas indígenas da rede estadual. Além do itinerário, o currículo também compreende as matérias tradicionais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É a chamada ‘formação geral básica’.
NOVIDADE
Outra novidade nas 39 escolas indígenas trata da disciplina ‘Informática Básica e Robótica’, nas três séries do ensino médio. Neste ano, o professor Luan Felipe de Lima leciona a matéria para 13 alunos da 1ª série do Colégio Cacique Otávio dos Santos.
No primeiro trimestre, a turma já teve introdução à eletrônica. Os alunos fizeram ligações simples de led e aprenderam sobre sensores e atuadores. Conforme o professor não houve dificuldade. “Os alunos encontraram semelhanças entre o funcionamento de mecanismos da robótica e os das armadilhas que já costumavam montar para capturar animais. A força potencial do desarme e os gatilhos, por exemplo, fazem parte da própria realidade do aluno”.
TRADIÇÃO E FILOSOFIA KAINGANG
O professor Ismael Corrêa se preparou para assumir a disciplina de “Filosofia Indígena” por meio de leitura e conversas com os anciãos. Assim, ele procura transmitir aos estudantes o modo de fazer ancestral, a ideia de coletividade, além do conhecimento, mitologia e história do povo.
Um dos temas abordados em aulas é a ideia de ‘duas metades’. De acordo com o professor, o tema permeia a organização social e a visão cosmológica da etnia. Denominadas ‘kamé’ e ‘kairu’, as duas metades classificam dois grupos distintos que formam o povo Caingangue. E eram usadas para evitar o casamento entre parentes. Ou seja, um homem kamé deveria se casar com uma mulher do outro grupo, o kairu, e vice-versa.
“A história conta que dois gêmeos saíram de uma montanha, um pelo lado nascente do sol e outro pelo lado poente. Dessa forma se deu a origem das duas marcas. As duas metades também são usadas para classificar plantas, animais e espíritos”.
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