22/08/2023
Cotidiano

Engraxate: uma profissão quase esquecida no tempo

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“O tempo mudou”. Foi com essa frase que o engraxate, Albino Vaz, iniciou a conversa para explicar a queda no movimento. A antigamente chegava a engraxar 30 pares de calçados por dia. Atualmente, para atingir esse número é preciso trabalhar a semana inteira. O senhor de 67 anos engraxa sapatos na barraca da XV de Novembro em Guarapuava, espaço construído pelo ex-prefeito Cesar Franco para abrigar os engraxates.

 

“Seo” Albino começou vendendo laranjas, depois sorvete, bilhetes de loteria, e por fim, ganhou uma caixa de engraxar de um militar. “O militar via que eu andava toda a cidade vendendo bilhete de loteria e não ganhava bem. Então, ele me deu a caixa de engraxate, a cadeira e os equipamentos para eu começar a engraxar, pois assim, ele disse que eu não precisaria andar tanto e ganharia mais dinheiro”, relembra.

 

E Albino não só começou a ganhar mais dinheiro como se apaixonou pela profissão. “Você quer me ver feliz, é me ver engraxando”, fala. Felicidade que não diminuiu nem com a mudança de hábito das pessoas. Ele lembra que agora os jovens usam só tênis e antigamente o costume era usar sapato, bota e botina. “O jovem tinha que usar mais sapato para ajudar na nossa profissão”, brinca Vaz.

 

Mesmo engraxando cinco pares de calçados por dia, cobrando R$ 5 por par, Albino ainda consegue se sustentar. “ As pessoas que vêm aqui são clientes antigos. Muitos nem precisam de uma engraxada mas vêm só para ajudar”, comenta o senhor.

 

Um desses clientes é Luiz Carlos Dias, que pelos menos uma vez por mês vai à engraxataria deixar seus sapatos mais bonitos e com uma aparência de novos. “Há mais de 20 anos conheço o seu Albino. Sempre quando venho aqui ficamos lembrando o passado. E como as coisas mudaram!”, observa Dias.

 

Apesar da redução de cerca de 500% no número de pessoas que procuram seu serviço, Albino lembra que outra mudança trazida pelo tempo foi a formação de uma nova clientela. “Hoje eu tenho mulheres que vêm engraxar suas botinhas. Antes eram só os homens”.

 

Entre 40 anos de profissão e com tantas mudanças, o que mais “seo” Albino gosta de lembrar são as amizades feitas ao longo do tempo. “Meus clientes se tornaram amigos. O mais bacana é sem dúvida a convivência com o povo”, diz sorridente. Mas antes de terminar a conversa ele sugere com muito bom humor: “da próxima vez venha de sapato”.

Cristina Esteche

Jornalista

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