22/08/2023
Cotidiano

Evento internacional em Faxinal do Céu discute crescimento das árvores

Pinhão – Está acontecendo em Faxinal do Céu, região Centro-sul do Paraná, a 5a. Semana Sul-Americana de Campo em Dendrocronologia. Pesquisadores e estudantes de diversos países latino-americanos participam do evento, que já aconteceu na Argentina, Chile e Brasil em versões anteriores.
O objetivo do evento é familiarizar pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação com os estudos de anéis de crescimento de árvores e suas inúmeras possibilidades de aplicação em ciências ambientais. Os participantes, de diversas áreas do conhecimento (Biologia, Agronomia, Engenharia Florestal, Geografia, Arqueologia, Ecologia e disciplinas correlatas) vão participar de trabalhos de campo e laboratório para resolução e entendimento de tópicos particulares de pesquisa, envolvendo discussões durante essas atividades. Palestras temáticas a serem proferidas por palestrantes convidados brasileiros e estrangeiros também estão programadas durante essa semana.
As informações contidas nesses anéis de crescimento, como registro da história de vida da planta, podem fornecer informações importantes para a compreensão das condições e/ou alterações de crescimento dessas árvores durante o seu ciclo de vida, podendo subsidiar atividades de pesquisa voltadas aos estudos de Conservação, Manejo, Clima, Dinâmica florestal, Ecologia, entre outros.
Em regiões de clima temperado, os anéis de crescimento representam, geralmente, o incremento anual das árvores. A cada ano é acrescentado um novo anel ao tronco, razão pela qual são denominados anéis anuais. Sua contagem permite determinar a idade da árvore. Em um anel distinguem-se normalmente duas partes: lenho inicial (ou primaveril) e lenho tardio (outonal ou estival). O lenho inicial corresponde ao crescimento da árvore no início do período vegetativo, normalmente a primavera, quando as plantas despertam do período de dormência e reassumem suas atividades fisiológicas com todo vigor. Com a aproximação do fim do período vegetativo, normalmente o outono ou quando as condições ambientais tornam-se mais restritivas ao crescimento das plantas, as células diminuem paulatinamente a sua atividade fisiológica. Em consequência, suas paredes celulares tornam-se gradualmente mais espessas e suas cavidades menores. Isso dá ao lenho tardio uma tonalidade mais escura que permite distingui-lo do inicial ou primaveril. É essa alternância de cores que evidencia os anéis de crescimento de muitas espécies.
Do estudo dos anéis de crescimento desenvolveu-se a ciência denominada Dendrocronologia. Ela pode ser conceituada como a ciência que possibilita a datação dos anéis de crescimento do lenho das árvores e/ou de peças de madeira, incluindo a aplicação das informações obtidas para estudos ambientais e históricos.
Com a Dendrocronologia é possível determinar a idade e a taxa de crescimento das árvores e o efeito das variações ecológicas e ambientais na formação dos anéis de crescimento, sejam naturais ou oriundas de ações do homem. Como ciência pluridisciplinar, atingiu um elevado nível de especialização, importância e aplicação, ao incorporar os conhecimentos e as técnicas de diversas áreas com as quais têm estreita conexão como anatomia, química, fisiologia, genética florestal, silvicultura, climatologia, hidrologia, estatística, entre outras. Além de trazer referências valiosas sobre a vida do vegetal, a aplicação das informações contidas nos anéis de crescimento tem sido de grande relevância na análise da ocorrência de fenômenos ecológicos e ambientais. Os anéis de crescimento permitem a identificação e reconstrução das condições climáticas do passado, assim como das alterações ambientais naturais, da dinâmica das populações florestais e dos recursos hídricos e dos processos geomorfológicos. Também possibilitam avaliar o efeito dos ventos, a ocorrência de ataque de insetos e microorganismos, os processos tectônicos, as atividades vulcânicas, os incêndios, as operações silviculturais, a presença de metais pesados no ambiente e de ações antropogênicas.
O conhecimento da idade das árvores e das informações que podem ser inferidas do estudo dos seus anéis de crescimento são de suma importância para a otimização do uso da floresta. Entretanto, isto só se conseguirá pelo maior conhecimento e envolvimento de diferentes áreas da pesquisa florestal. O estudo sobre o passado das florestas pode fornecer informações indispensáveis sobre como utilizar, manejar e preservar esse recurso para o futuro.
A cerimônia oficial de abertura do evento acontece no dia 16/01/2009, na sede da Companhia Paranaense de Energia Elétrica – Copel, em Curitiba, e vai contar com a presença de autoridades e de palestra magna a ser proferida pelo pesquisador argentino Dr. Fidel Alejandro Roig, do Instituto Argentino de Nivología y Glaciología, Departamento de Dendrocronologia e Historia Ambiental (Mendoza).
O expressivo número de estudantes e profissionais interessados em participar da Semana de Dendrocronologia, em sua quinta edição sul americana, reflete o crescente interesse, em todo mundo, pela Dendrocronologia aplicada em regiões tropicais e subtropicais. Os ecossistemas tropicais constituem uma parte essencial para o equilíbrio global do planeta, com forte interferência nas mudanças climáticas, intercâmbio de carbono com a atmosfera e nos processos envolvendo o ciclo global da água. Ambientes complexos como esses demandam cada vez mais ações de pesquisa, formação e de capacitação com caráter multidisciplinar, no sentido de tentar compreender o conjunto dos processos desempenhados nesses ambientes, além da necessidade de preservar eou mesmo manejar a biodiversidade existente, procurando mitigar os impactos das mudanças climáticas globais – sejam elas de origem natural ou decorrentes de ações do ser humano.
O evento é uma promoção da Embrapa Florestas (Colombo/PR), Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), Laboratorio de Dendrocronología e Historia Ambiental, IANIGLA-CONICET (Mendoza, Argentina), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e Secretaria de Estado de Educação do Paraná. Conta com apoio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Petrobras, Rigesa, CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico, Inter-American Institute for Global Change Research (IAI) – Project IAI-CRN005, Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IP-JBRJ), Centro de Ilustração Botânica do Paraná (CIBP), Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Secretaria de Estado do Turismo do estado do Paraná e Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (FUPEF).

Cristina Esteche

Jornalista

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