22/08/2023
Cotidiano

Alagamento deixa famílias desabrigadas na Vila Carli

Insegurança, fragilidade, abandono, revolta. Estes são alguns sentimentos que envolvem famílias que moram em regiões ribeirinhas na periferia de Guarapuava e que a cada chuva precisam deixar as casas em busca de abrigo junto a parentes e amigos. A causa principal de tudo isso, segundo os moradores prejudicados, é a ausência do Poder Público, a falta de atenção por parte da Prefeitura.

Dona Cione do Rocio Dino, 58 anos, passou a noite em claro ouvindo o barulho da chuva e a cada trovoada se preocupava ainda mais com a filha e com os netos. Nem bem o dia amanheceu, ela deixou a casa onde mora na Vila Carli para ir socorrer a filha. “Atravessei essa água a nado pra poder chegar até a casa dela. Minha filha está de dieta e com um nenê de oito dias, além dos outros dois pequenos”, disse à mulher enquanto deixava o barco do Corpo de Bombeiros que retirou a família na manhã desta sexta-feira (19).

“Não sabemos mais o que fazer. É prejuízo em cima de prejuízo. A gente é pobre, já não tem quase nada e o pouco que temos a água leva”, reclama Eliane Aparecida Dino, 23 anos, enquanto tenta proteger o bebê recém-nascido. “Será que não somos pessoas, não merecemos a atenção da Prefeitura?” questiona a mulher que mora na Alameda Barroso, na Vila Carli.
O drama de Arnaldo Moreira dos Santos, 61 anos, é igual. O senhor que possui doença pulmonar crônica obstrutiva e que precisa do auxílio de um balão de oxigênio para respirar sofre ainda mais por causa da umidade provocada pela água que invade a sua casa. “Moro aqui há 26 anos e todo ano isso se repete. Quando o Cesar Franco era prefeito fizemos um protesto, queimamos pneu, fomos pra Avenida Pedro Carli com picaretas e nada adiantou. Já fizemos abaixo-assinado e nada resolve”, reclama.

Se os técnicos da Surg ou da Secretaria de Obras desconhecem o problema que assola o Rio Cascavelzinho e que provoca alagamento, Arnaldo sabe a lição na ponta da língua. “Quando o prefeito Fernando Carli fez essa avenida em 1988, não fez galerias, e esse rio não tem manilhas suficientes para captar e dar vazão à rua que recebe. Tudo vem pra cá, desde o Núcleo Padre Chagas, o Albergue, essa região aí de cima, a bacia de água dessa região toda cai nesse rio e por falta de manilhamento, de planejamento, provoca os alagamentos. Isso sem falar dos lixos que descem com água”, afirma. Segundo Arnaldo, nas últimas chuvas o nível da água atingiu mais de um metro de altura cobrindo o contador de luz da casa.

“O pessoal da Surg veio aqui e mandou a gente agüentar mais seis meses”, disse.
Paulo Padilha tem 20 anos, e há duas décadas vê o mesmo problema invadir a casa da sua avó. “Isto aqui não tem jeito, porque as autoridades não fazem nada para resolver”, afirma.

A avó de Paulo, dona Rosalina Pereira de Souza, 68 anos, mora na Rua Ernesto F. de Queiróz, também na Vila Carli, e já não sabe mais o que perdeu. “Tudo estraga, não adianta levantar as coisas. Isso repete há 40 anos e ninguém toma nenhuma providência. Os bueiros não vencem a água. Por isso, quando se apronta pra chover já me dá uma angústia e não adianta ir pra casa dos filhos porque você sabe que a água está engolindo a tua casa, as tuas coisas. É muito triste”, afirmou.

De acordo com os moradores, a última informação da Surg é que os serviços são executados conforme um cronograma e que somente no ano que vem está prevista alguma ação naquela região da Vila Carli.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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