Conforto, segurança, rotina e tranquilidade. Isso foi o que a médica veterinária Karina Pop trocou em Guarapuava para encontrar um cenário caótico no Rio Grande do Sul. Ela se voluntariou para ajudar as vítimas das enchentes no Sul do País, e diz que tudo isso é como um propósito de vida.
Eu vim porque é minha obrigação moral vir, mas se fosse em outro lugar e outra situação eu iria também. Então eu estou atuando nisso porque faz parte do meu estilo de vida. Na verdade, é isso. O meu estilo de vida é esse. Eu me considero, antes de qualquer coisa, uma ativista. Então, eu estou aqui assistindo animais e pessoas também. Há vários abrigos que têm condições e situações diferentes.
Movida pela solidariedade, a voluntária está à frente pelo internamento e enfermaria de um abrigo em São Leopoldo, que conta com mais de 1.400 animais. “Aqui só tem animais, e muitos deles têm tutores. Só que esses tutores estão em abrigos de pessoas ou estão alocados em casas de conhecidos, e impedidos de levar esses animais junto, por falta de espaço. Então, esses animais estão esperando esses tutores pra poderem voltar para casa”.
ESTENDENDO A MÃO
Além disso ela também atua em outros abrigos, sendo alguns deles de pessoas com os próprios animais, e também só de pessoas. Devido a situação, ela não tem um local fixo, a demanda é tão grande que é preciso estar sempre atendendo em diversos locais. Toda a viagem dela está sendo mantida por recursos próprios e doações de amigos para que ela continue prestando a ajuda necessária. Outras pessoas também ofereceram lugar onde ela possa ficar, e assim, ela segue com o próprio estilo de vida.
A demanda é muito grande eu estou ajudando conforme a demanda vai aparecendo, as pessoas vão me dizendo as necessidades delas e aí eu vou agilizando. Porque o pessoal tá recebendo bastante doação de roupa e alimentação tem nos abrigos. Mas tem alguns abrigos que estão esquecidos, são os que não aparecem na mídia e não têm assistência nenhuma ONG. Então o pessoal desses abrigos, eles tão recebendo roupas, mas a maioria das roupas são roupas de verão. Faço a conexão dos abrigos que estão sobrando para os que estão faltando, para intermediar esse esse transporte e distribuição.
Com a situação tão atípica, pedidos simples têm se tornado uma grande ajuda para quem perdeu tudo na enchente. A Karina conta que os abrigados pedem uma garrafa térmica para tomar um café, ou até mesmo uma guia ou uma caixa para o transporte do pet. Ela tem ajudado também na busca por medicamentos para as pessoas e animais, e também na montagem de kits para as crianças. Em outras horas, é necessário vestir o jaleco e atender os pets debilitados.
Têm grupos de resgate que ainda estão tirando animais da água até agora e esses animais eles estão chegando muito debilitados, muitos inclusive quase mortos porque ficaram muitos dias sem água, sem comida. Então estão desidratados, desnutridos e doentes, pois tiveram contato com a água super contaminada. Esta é a situação mais urgente, por isso eu estou mais ativa nesse segmento.
CAOS EM MEIO AS ÁGUAS
Além das enchentes, incertezas, abrigos, doenças e perdas inestimáveis, os gaúchos também estão tendo que enfrentar outros problemas. Karina conta que a criminalidade aumentou bastante e que está difícil até nos abrigos.
As pessoas não imaginam o caos real que acontece aqui. O que aparece na mídia é muito menos da metade do que a realidade. A situação está muito crítica e são coisas horríveis. Vejo a desumanidade, com muito número de crime, assalto e muitas pessoas assaltando barcos de resgate. Muitos casos de abuso dentro dos abrigos, de estupro, uma coisa absurda. Já é um momento dificil e ainda assim tem pessoas deixando pior do que já. Muitas pessoas vieram para cá somente para satisfazer os egos, postaram fotos nas redes sociais, alimentaram as redes sociais com fotos e não teve ajuda efetiva.
O abandono da linha de frente e disputa de palanque não podem ser ignorados no Rio Grande do Sul. A voluntária guarapuavana afirma que muitos políticos se aproveitam da situação para aparecer e gerar material de campanha. O lado preocupante é que quem acompanha pela mídia, acredita que está tudo sob controle no RS, quando as pessoas continuam precisando de ajuda.
Aqui está chovendo bastante e em várias cidades a água já subiu o nível novamente. Em Porto Alegre, por exemplo, tem bairros que não tinham sido alagados antes e agora estão alagados depois das chuvas que foram muito fortes e a tendência é que as coisas piorem. Não tem tendência de melhorar por enquanto. Então as pessoas podem ajudar as ONG’s e instituições que estão ajudando aqui. Vamos precisar de ajuda por um bom tempo. Tomara que o Brasil não esqueça do Rio Grande do Sul.
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