Um dos efeitos da alta do dólar vai provocar reflexos no bolso do consumidor, desde o mais simples até o mais capitalizado. Na primeira condição, o sagrado pão nosso de cada, o pão francês, terá aumento já no início de outubro. Na outra, para quem exporta, a perspectiva de negócios é boa.
No caso do trigo, principal matéria-prima do pão, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o aumento será entre 5% e 10%. Já o macarrão e o pão de fôrma terão na próxima semana alta de 5%, informou a Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima).
O Brasil importa hoje 60% do trigo que consome. Cerca de 70% do custo da farinha de trigo vem de sua principal matéria-prima. Das 10 milhões de toneladas de trigo consumidas por ano no Brasil, metade é usada para a fabricação do pão francês. Os 30% restantes vão para macarrão, biscoitos e pão de forma.
De acordo com o economista, Carlos Alberto Gomes, de Guarapuava, a valorização da moeda americana observada nos últimos dias chegando a fechar a R$ 1,95 na quinta-feira (22), atinge diretamente a região de Guarapuava por causa da exportação da produção agrícola e vai além da mesa do brasileiro. “Temos produtores que negociam a produção nas bolsas de mercadorias. Para eles, a perspectiva é boa, pois vendem em dólar”, diz. Já para quem importa a situação não é cômoda e pode desestimular a produção nos próximos meses. Este é o caso, em especial, de máquinas e implementos agrícolas. “São os dois lado da mesma moeda”, diz o economista. Para quem está em viagem no exterior a situação também não é confortável.
ATUAÇÃO DO GOVERNO
Para amenizar a valorização do dólar no País o Banco Central interviu ao vender contratos de “swap” tradicional. Segundo Carlos Alberto Gomes, essa prática é quando os bancos (ou empresas) no Brasil têm alguma desconfiança quanto à variação do preço do dólar, eles tentam proteger-se dessa variação “trocando”: reais por dólares, se acharem que o dólar irá subir, ou dólares por reais, se acreditarem que o dólar irá desvalorizar-se.
Para Gomes, o pico na valorização da moeda americana acontece porque o Banco Central não estava conseguindo fazer essa troca. “O governo não tem condições de atuar em duas pontas ao mesmo tempo.
Hoje a grande preocupação é o controle interno do consumo para conter a inflação, pois o alto consumo pressiona os preços dos produtos e a inflação sobe”, explica. De acordo com Gomes, o governo já tinha demonstrado essa preocupação com o aumento do IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) quando elevou de 3% para 6% em relação os juros do cartão de crédito.
Mesmo assim, a probabilidade é que o BC faça uma nova intervenção para evitar que o dólar atinja os R$ 2,00. “Uma desvalorização muito grande em pequeno espaço de tempo pode preocupar e afastar investidores externos e isso não interessa ao governo”, observa.
Outra conseqüência da atual situação, segundo Gomes, reside nas crises americana e européia que estão provocando a desvalorização também de outras moedas, além do Real. “Isso acontece porque os investidores procuram comprar ativos com maior garantia que, no caso, é o dólar”, afirma o economista.