Em um contexto político global cada vez mais polarizado, onde figuras como Donald Trump pregam discursos de discriminação e intolerância, a nomeação de ‘Ainda Estou Aqui’ ao Oscar 2025 ganha um peso simbólico relevante. O filme, uma adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, traz à tona a história de uma mulher comum. Uma dona de casa dos anos 70, que se transforma em uma ativista pelos Direitos Humanos após o brutal assassinato do marido.
Rubens Paiva, um ex-deputado, torturado e morto pelas mãos do regime militar brasileiro. Esse episódio é emblemático, não apenas pelo sofrimento e pela dor impostos a uma família. Mas também pela revelação das atrocidades cometidas durante a ditadura. Trata-se de um período sombrio da história brasileira que ainda carrega marcas profundas na memória coletiva do país.
A obra, dirigida por Walter Salles e estrelada por Fernanda Torres, tem o mérito de reviver uma narrativa de resistência e luta pela justiça. E isso ocorre justamente em um momento histórico em que os direitos humanos são ameaçados globalmente. A nomeação de ‘Ainda Estou Aqui’ ao Oscar 2025, em categorias tão relevantes como Melhor Filme, Filme Internacional e Melhor Atriz (Fernanda Torres) representa um marco importante. Não apenas para o cinema brasileiro, mas também para a forma como a história de opressão e resistência segue sendo contada e lembrada. Vale destacar que é a primeira vez que um filme brasileiro compete na principal categoria do Oscar. Esse fato, por si só já é um feito significativo.
CINEMA COMO REFLEXÃO
No entanto, essa indicação também nos leva a refletir sobre o impacto da história da ditadura militar brasileira. Principalmente em um cenário político internacional em que se observa um retorno de discursos autoritários e extremistas. A morte de Rubens Paiva, um ato brutal de um regime que usava a repressão como ferramenta de controle, encontra paralelos perturbadores nos tempos atuais.
As atrocidades que Paiva e tantos outros sofreram durante aquele período não podem ser esquecidas. Portanto, a indicação ao Oscar de um filme que resgata essa memória é uma forma de denúncia. Assim como de preservação da história e, por que não, de resistência. Em tempos em que figuras como Trump e outros falam abertamente contra a diversidade e os direitos humanos, a escolha de um filme que trata da dor de uma família dilacerada pela ditadura e da luta por justiça é, em si, uma afirmação do poder do cinema como ferramenta de reflexão e de transformação social.
No Brasil, onde o legado da ditadura ainda é fonte de debates polarizados, ‘Ainda Estou Aqui’ traz à tona a importância de lembrar, questionar e aprender com o passado. Especialmente quando as ameaças à liberdade e à dignidade humana continuam a ser uma realidade em muitas partes do mundo.
VITÓRIA SIMBÓLICA
Ainda que o Brasil nunca tenha ganhado uma estatueta do Oscar, a indicação de ‘Ainda Estou Aqui’ representa uma vitória simbólica. Uma validação da importância da memória histórica e da resistência. Em um momento em que a história parece estar sendo reescrita e distorcida, a nomeação de um filme que retrata uma das páginas mais sombrias do país é, talvez, uma maneira de reafirmar que, mesmo nos tempos mais obscuros, a verdade e a justiça ainda encontram espaço para brilhar.
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