22/08/2023
Blog da Cris Brasil

A PEC da Blindagem é mais que um voto

Deputados progressistas foram encurralados pelo Centrão, que usou a polêmica PEC da Anistia como moeda em para aprovar a blindagem política

Câmara Federal (Foto: Luiz Macedo/Câmara Federal)

Nas últimas semanas, a cena política brasileira tem sido palco de uma intensa indignação popular. Nas redes sociais e nas ruas, o sentimento é de perplexidade e, para muitos, de traição. A razão? O voto de deputados do campo progressista a favor da ‘PEC da Blindagem’. O que a população viu foi a aprovação de uma medida que, à primeira vista, parece proteger políticos da fiscalização, e a revolta contra os parlamentares que a apoiaram foi imediata.

No entanto, para entender o que de fato aconteceu, é preciso ir além da indignação inicial e mergulhar nas complexas e muitas vezes obscuras negociações que definem o jogo do poder em Brasília. A votação não foi um ato isolado de má-fé, mas sim o resultado de uma tática audaciosa de uma das forças mais influentes do Congresso: o Centrão.

O Centrão, uma articulação de partidos sem ideologia fixa, joga um xadrez político com um único objetivo: acumular poder e influência. Eles não se preocupam em defender princípios, mas em ditar as regras do jogo. A aprovação da PEC da Blindagem foi uma jogada mestra para reafirmar esse domínio.

A GRANDE JOGADA

A grande jogada do Centrão foi colocar em pauta duas propostas controversas ao mesmo tempo: a PEC da Anistia, que perdoaria os envolvidos na tentativa de golpe do 8 de janeiro, e a PEC da Blindagem, que restringe a atuação do  Judiciário. O Centrão, então, se posicionou como o único mediador capaz de resolver o impasse, oferecendo um acordo direto: “Nós ajudamos a barrar a PEC da Anistia, desde que vocês votem na PEC da Blindagem”.

O governo, sentindo a pressão de evitar um mal maior, aceitou a barganha. Afinal, o Centrão sabia que o governo e o campo progressista consideravam a anistia uma ameaça direta à democracia. Ao apresentar essa pauta, eles criaram um cenário de crise e pânico.

DILEMA

Essa negociação forçou deputados a um dilema impossível. Eles não votaram a favor da PEC da Blindagem por convicção, mas por obedecer a uma orientação partidária que buscava evitar um cenário político ainda pior. Foram, na prática, sacrificados como ‘bodes expiatórios’ de uma negociação opaca. A sociedade, sem acesso aos detalhes, os julga pelo voto isolado, sem entender a complexa trama por trás dele.

O resultado final foi uma vitória esmagadora para o Centrão. Eles não apenas conseguiram aprovar uma medida do interesse deles, mas também reafirmaram o papel como a força que controla o Congresso. A aprovação da PEC da Blindagem, portanto, não foi uma traição individual de deputados, mas a prova do poder do Centrão em ditar as regras do jogo e a fragilidade do sistema político brasileiro. Ou seja: provaram que qualquer avanço ou recuo político depende da aprovação deles.

O JOGO

Em resumo: a política, nesse cenário, é um jogo de xadrez em que os peões são sacrificados para proteger a rainha. A sociedade, sem acesso aos detalhes das negociações, julga o voto isolado, sem entender a complexa trama por trás dele. Essa falta de transparência é o combustível da desconfiança popular e a razão pela qual os políticos são frequentemente vistos como traidores.

O voto na PEC da Blindagem não foi uma traição individual, mas o resultado de um sistema político que exige acordos opacos, onde os parlamentares são bodes expiatórios de negociações que eles não controlam.

Leia outras notícias no Portal RSN.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

RSN
Visão geral da Política de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.