22/08/2023
Blog da Cris Guarapuava

Uma viola e um grito por incentivo na ‘Terra do Talento’

A fala do coordenador do grupo Viola Musa expõe o paradoxo. Há uma flagrante falta de reconhecimento e incentivo na própria terra

Grupo de Viola Musa

Guarapuava não é apenas um polo econômico em expansão; é um celeiro cultural onde a arte brota espontaneamente dos bairros e das comunidades. Essa efervescência reforça uma máxima essencial para o desenvolvimento social: iniciativas culturais populares devem ser não apenas acolhidas, mas ativamente incentivadas pelo poder público. No entanto, a realidade local, exemplificada pela luta de talentos genuínos, sugere que essa máxima ainda está longe de ser plenamente concretizada.

Basta participar das festas populares e comunitárias de Guarapuava para testemunhar a riqueza que nasce do povo. A comunidade se torna o palco, e é nesse ambiente que grupos como o Grupo de Viola Musa florescem. No último domingo (28), na Festa da Igreja Santos Anjos, no Bonsucesso, o grupo ofereceu um espetáculo de lavar a alma, preservando o autêntico som caipira.

Formado por artistas de diversas idades, oriundos dos bairros o grupo Viola Musa é um guardião de uma tradição que evoca o romantismo da roça, as noites de lua cheia e as histórias simples e profundas do interior. É a cultura em sua forma mais pura: orgânica, agregadora e profundamente identitária.

LEGISLATIVO É SENSÍVEL À CAUSA

É louvável que o poder legislativo demonstre sensibilidade a essa causa. Na semana passada, a vereadora Rita Felchak (MDB), reconhecida por representar a cultura em sua essência, teve um projeto crucial aprovado. Anualmente, 13 de julho destina-se ‘Dia da Viola e da Música Caipira’ em Guarapuava. Essa é uma vitória simbólica que formaliza a importância do gênero e abre portas para o reconhecimento.

Contudo, a formalização não se traduz, automaticamente, em apoio efetivo. A fala do coordenador do grupo Viola Musa expõe o paradoxo. Há uma flagrante falta de reconhecimento e incentivo na própria terra. O grupo se apresenta e é valorizado em outras cidades do Paraná, mas encontra dificuldades para ter espaço e apoio logístico na “casa de origem”.

O PAPEL CRÍTICO DO PODER PÚBLICO

O caso da Viola Musa é um termômetro. Onde há talento autêntico e esforço popular, o Poder Público tem o dever de ir além do reconhecimento protocolar. Mas para isso, se faz necessário olhar as iniciativas culturais de modo abrangente. Afinal, incentivar a cultura popular não é apenas dar ‘vitrine’ aos artistas; é um investimento social estratégico. Isso porque se trata da preservação da identidade; é inclusão social; assim como, economia criativa que gera fluxo e renda, integrando a cultura na cadeia produtiva local.

Se Guarapuava não conseguir acolher e potencializar os talentos que nascem nos próprios bairros, corre o risco de ver sua riqueza cultural migrar para onde há maior apoio. O desafio agora é claro: transformar a sensibilidade legislativa em políticas públicas robustas, garantindo que o ‘Dia da Viola Caipira’ seja celebrado não apenas com um calendário, mas com palcos abertos, editais acessíveis e o apoio logístico que a paixão e o talento do povo merecem. Afinal, a cultura popular é o lastro da cidade, e negligenciá-la é desperdiçar o ativo mais vibrante e sustentável da comunidade.

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Cristina Esteche

Jornalista

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