22/08/2023
Cotidiano Em Alta Guarapuava

Terra de pinheiros, lutas antigas e inovação

Que este aniversário sirva para renovar o pacto coletivo de lutar por um futuro mais justo, coeso e sustentável, no qual as conquistas da inovação alcancem a todos

O pôr do sol mais bonito do Brasil (Foto: Thiago de Oliveira/RSN)

Guarapuava, cujo nome ressoa a força ancestral do termo agûarápuaba, o “lugar do barulho dos lobos-guarás”, celebra mais um aniversário da rica história diante dos desafios do presente. Esses 206 anos são a soma de eras, desde os tempos em que era o coração dos povos Guarani e Kaingang, e o Cacique Guairacá advertia que esta terra tinha dono (co ivi oguereco iara). A cidade, carinhosamente apelidada de “Pérola do Oeste”, carrega a identidade, a resistência e a determinação de sua gente.

A fundação oficial remonta à instalação da Freguesia de Nossa Senhora de Belém em 9 de dezembro de 1819, após a chegada da Real Expedição de Conquista e Povoamento em 1810, comandada por Diogo Pinto de Azevedo Portugal. Para efetivar a posse do território, a Coroa Portuguesa chegou a enviar condenados a degredo, transformando a localidade em uma espécie de “prisão sem muros” no século XIX, ao mesmo tempo em que recebia imigrantes e colonos.

Desde então, múltiplas mãos moldaram a terrinha. Influência dos tropeiros, a presença da mão de obra africana (que fundou o quilombo Paiol de Telhas), e as ondas imigratórias do século XX, como os suábios do Danúbio. O Distrito de Entre Rios é um legado desses refugiados de guerra. Da partilha do chimarrão, herdado da tradição indígena, aos atuais festivais gastronômicos que celebram o soquete de carneiro com paçoca de pinhão, e nos eventos como a Festa da Cevada, Guarapuava segue construindo a própria história.

POLO REGIONAL

Guarapuava orgulha-se de ser um polo regional em desenvolvimento, figurando entre os 10 municípios mais ricos do Paraná, com um Produto Interno Bruto (PIB) que alcançou R$ 8,3 bilhões e um crescimento de 185% na última década. O setor de serviços e comércio (41% do PIB), juntamente com a indústria (34% do PIB), sustenta a economia.

O município é o maior produtor nacional de cevada, abrigando a maior maltaria comercial da América Latina. Essa vocação agroindustrial projeta a cidade, que recentemente conquistou o título de Capital Nacional da Cevada e do Malte. O progresso também aparece na inovação, com a cidade consolidando-se como um polo de tecnologia e economia criativa, impulsionado por instituições de ensino superior e pelo parque tecnológico na Cidade dos Lagos.

Há, claro, as belezas naturais que emolduram esse progresso. A menina radiante, como diz o hino, ostenta o imponente Salto São Francisco, uma queda-d’água de 196 metros que se destaca no Sul do Brasil, e outros tesouros como o Salto das Pombas e o Parque do Jordão. No coração urbano, o Parque do Lago e a lendária Lagoa das Lágrimas oferecem refúgio e lazer, e às margens da BR-277 há a mata exuberante do Parque Municipal das Araucárias, que protege uma importante reserva em área urbana. O patrimônio histórico, como a Catedral Nossa Senhora de Belém e a Casa do Visconde de Guarapuava (hoje Museu Municipal), preserva memórias de séculos de ocupação.

As sombras no caminho

Apesar do desenvolvimento e das conquistas históricas, a gente guarapuavana enfrenta problemas que exigem constante atenção. O crescimento urbano rápido e desordenado levou à ocupação de áreas de perigo de inundação, como em bairros periféricos, expondo a população a riscos e à vulnerabilidade socioambiental.

Nesses bairros, como o Jardim das Américas e o Industrial, há muitos desafios, a começar pela deficiência na infraestrutura urbana, como a falta de pavimentação asfáltica e bueiros para escoamento de águas, o que agrava os problemas de inundações. Além disso, o município lida com um déficit habitacional que ultrapassa as três mil famílias.

A infraestrutura logística da cidade, essencial para o escoamento da produção que gera grande parte de sua riqueza, ainda é vista como aquém do necessário, operando com estruturas que remontam ao século passado. A BR-277, uma via vital, ainda carece de solução para o crítico trecho da Serra da Esperança. Entre outros exemplos.

No campo social, há preocupação com a segurança pública, pois o município tem sido listado entre as cidades brasileiras com alta taxa de violência contra a mulher e registra um índice de homicídios acima da média estadual. Os indicadores de educação básica também mostram a necessidade de melhorias, com notas no IDEB abaixo das metas estipuladas e desempenho inferior à média estadual.

A história de Guarapuava é um eco constante entre a vocação para o progresso e o dever de olhar para as necessidades urgentes de seu povo. Que as celebrações do aniversário da menina radiante sirvam não só para honrar o passado glorioso e a beleza de sua natureza, mas também para renovar o pacto coletivo de lutar por um futuro mais justo, coeso e sustentável, no qual as conquistas da inovação alcancem a todos, desde o centro até os bairros mais distantes.

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Thiago de Oliveira

Jornalista

Jornalista formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. @tdolvr

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