Lançado em Guarapuava, o Mesa Brasil vai recolher doações de alimentos e redistribui-los após seleção a instituições cadastradas. É uma rede de solidariedade que evita que produtos bons para o consumo, mas já sem valor comercial, vão parar no lixo
Guarapuava agora conta com o Mesa Brasil SESC, um programa de segurança alimentar e nutricional sustentável, que redistribui alimentos excedentes adequados ao consumo. É uma rede nacional de solidariedade contra o desperdício, evitando que alimentos de qualidade, mas sem valor comercial, sejam jogados no lixo. Esses produtos são retirados das empresas doadoras e encaminhados às instituições cadastradas e supervisionadas sistematicamente por nutricionistas.
O presidente do Sistema Fecomércio Sesc-Senac, Darci Piana, esteve na cidade para o lançamento do programa na última terce-feira, 10. Durante entrevista, explicou como funciona o Mesa Brasil. Visa a utilização de produtos não comercializados, como por exemplo cenouras que não chegam ao comércio por algum fator como alguma perfuração ou alteração na cor. De cada 10 cenouras colhidas, quatro não são comercializadas, mesmo sendo boas para o consumo. Então nós recolhemos esses produtos, fazemos uma seleção técnica sobre isso, recuperamos e entregamos às instituições cadastradas, explicou.
As instituições são avaliadas, levando-se em conta sua credibilidade, o volume de pessoas beneficiadas e a idade. Uma nutricionista acompanha regularmente a instituição para ensinar a fazer a utilização desses alimentos e os processos de higiene. A aquisição de novos hábitos alimentares, além de práticas corretas de manipulação e higiene são favorecidas através de cursos e treinamentos realizados com as pessoas envolvidas.
Até o momento, são 41 doadores e 26 instituições cadastrados no programa em Guarapuava. A cada oito dias, um veículo próprio passa nas empresas e pessoas cadastradas na doação para recolher os produtos que, depois selecionadas, são novamente embalados e distribuídos para o consumo. Caso a oferta seja maior, a equipe passa recolhendo dentro de um tempo menor.Ajudamos o produtor a recolher o produto, ensinamos a embalar corretamente para que as perdas sejam menores, pegamos os produtos um pouco danificados, cortamos ou separamos e colocamos em câmara fria para a etapa final, a alimentação. Recebemos também alimentos não perecíveis como feijão, farinha, chocolate.
Se, por exemplo, um supermercado recebe um lote de bolachas e parte vem esmagada, fato que as deixa impróprias para a comercialização, o Mesa Brasil recolhe essas bolachas, retira as partes quebradas, embala de novo e leva até as instituições cadastradas. Além de ser um suplemento alimentar para as instituições, é uma ajuda contra o desperdício, completou Piana.
Parcerias
Uma das bases de sustentação do programa é a parceria, seja com empresas ou com pessoas dispostas a ajudar. O Mesa Brasil SESC permite que as empresas, indústrias, produtores e comerciantes tenham a sua agenda social facilitada, oferecendo condições para que possam exercer sua cidadania empresarial. A participação pode ser feita por meio da doação de utensílios, equipamentos, material de consumo e, principalmente, produtos alimentícios próprios ao consumo.
Não podem ser doadas refeições prontas, doces e pães com recheios cremosos, alimentos com embalagens danificadas, fora do prazo de validade e das condições normais de uso. Podem ser feitas doações de frutas, verduras, legumes, frios, laticínios, grãos e cereais, enlatados, conservas, carnes e derivados, embalagens próprias para o transporte de alimentos, materiais de higiene de limpeza, combustível, entre outros.
Bons frutos
No Brasil, a segurança alimentar, tema amplamente discutido hoje, começou a receber atenção quando o sociólogo, médico e político Josué de Castro (1908-1973) relacionou as toneladas de alimentos lançadas no lixo às dezenas de milhares de pessoas que vivem em situação de miserabilidade. Castro, que presidiu a FAO, escreveu Geografia da Fome (1946) e Geopolítica da Fome (1951) e foi pioneiro em denunciar e mapear esse problema no Brasil.
Vinte anos após sua morte, outro sociólogo retomaria a luta contra a fome no país. Em 1993, Herbert de Souza, o Betinho, como ficou conhecido, lançou a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, que entre outras ações promove a campanha Natal sem Fome.
Durante um evento denominado Vigília Musical contra a Fome, cujo objetivo era juntar produtos para posterior distribuição no Natal, o Serviço Social do Comércio (Sesc) deu início à implantação do sistema de colheita urbana e banco de alimentos no Brasil. A proposta seguia o princípio de buscar onde sobra e entregar onde falta.
Em seis anos de atuação em mais de 300 municípios atendidos, o programa já distribuiu mais de 83,4 milhões de quilos de alimentos, 8 mil ações educativas realizadas, 4,4 mil entidades sociais atendidas, 2,8 mil empresas doadoras e 910 mil pessoas beneficiadas.
Só em Curitiba, no último ano, foram arrecadados 1,3 milhão de quilos de alimentos que proporcionaram cerca de 15 milhões de refeições complementares. Agora, com a entrada das cidades de Guarapuava e Maringá no programa, a arrecadação deve aumentar para 1,8 milhão de quilos.