22/08/2023
Economia

Antes e depois da Agromalte: Entre Rios e o atual nível de desenvolvimento

imagem-34692

Uma reportagem publicada pelo jornal “O Estado de S.Paulo” sobre Entre Rios traz à tona uma antiga análise sobre os reais motivos que levaram aquele distrito de Guarapuava a se tornar referência em organização social e econômica para o Brasil e para vários países. Com o título “O império brasileiro do malte”, a matéria do “Estadão” (um dos maiores em circulação nacional) sugere que as conquistas sociais e econômicas obtidas pelas famílias de suábios, associadas da Cooperativa Agrária, foram obtidas após a instalação da Agromalte, hoje entre as 10 maiores maltarias do mundo.

Estudiosos de diferentes países – entre eles economistas, historiadores, geógrafos, jornalistas e sociólogos – têm se dedicado ao longo das seis décadas de existência da Colônia Suábia no Brasil para entender o que levou Entre Rios ao seu estágio de desenvolvimento. Todas as conclusões apontam para um único caminho: os suábios souberam administrar os momentos de maiores dificuldades com medidas econômicas criativas e fortalecendo os vínculos daquele com povo com sua própria história.

Os suábios chegaram a Entre Rios em 1951, com 500 famílias, após serem expulsos da terra natal (Iugoslávia) e viverem exílio de 7 anos na Áustria. Até meados da década de 1960, enfrentaram um período de crise tão profunda, que quase a metade das famílias saiu de Entre Rios, muitas delas retornando a Europa.

O impulso para Entre Rios chegar aos dias atuais começou no final da década de 1960, com projetos de reforma agrária interna, aumentando a área de plantio, e investimentos pesados em educação, fomento e pesquisa. A Cooperativa Agrária passou a se relacionar com todas as esferas de governo no Brasil e também no Exterior, especialmente Alemanha. As pesquisas viabilizaram culturas agrícolas altamente tecnificadas, que depois seriam o insumo para indústrias de porte, entre elas a Agromalte (a partir da produção de cevada), fábrica de ração e moinho de trigo.

INVESTIMENTO BÁSICO

O programa sócio-econômico dos suábios seguiu uma estratégia cuidadosamente definida. Num plano, era necessário se abrir para negociações com governos e bancos (financiamentos) nacionais e internacionai. De outro, fortalecer internamente a Comunidade Suábia, preservando o que lhe era mais caro: o conhecimento agrícola do povo que habitou o antigo Império Austro-Húngaro, sua cultura e tradições. Investiu-se pesado em educação, comunicação, e no intercâmbio econômico-cultural com outros grupos.

A meta era industrializar tudo o que a Agrária produzisse, para aumentar o ganho da produção rural e reverter o processo de insolvência que a Cooperativa e a Colonização enfrentavam no início. Uma família atrás da outra estava saindo, e a tendência era de que essa evasão se acentuaria cada vez mais.

Em 1977, foi construída a maltaria Agromalte, uma década depois do grande período de crise que estava levando à desconstrução de Entre Rios. Além da ampliação de terras para plantio entre os cooperados, determinante para o sucesso colonizatório, os suábios passaram a contar com uma infra-estrutura praticamente independente, com escolas, hospital, museu, emissora de rádio, parque de máquinas, com reflexos diretos sobre o fortalecimento individual dos agricultores.

Mesmo sob contínuos planos econômicos, que pegaram a agricultura brasileira de surpresa, a Cooperativa Agrária conseguiu sobreviver e crescer, colhendo os frutos de um passado de dificuldades e superação.

A história de Entre Rios permanece viva, não só em documentos, como também pelo depoimento oral de muitos pioneiros, hoje entre 80 e 100 anos, que foram personagens dessas fases de transição. Esses agricultores guardam profundas experiências, das guerras que enfrentaram, da readaptação em uma nova pátria, dos erros e dos acertos iniciais. E também, de estarem observando seus filhos e netos no comando da Cooperativa Agrária, cujo faturamento hoje é de R$ 1,2 bilhão/ano.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.