22/08/2023
Saúde

Terceira idade: medo de perder a independência é muito comum entre idosos

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A intransigência de alguns idosos “enlouquece suas famílias”. Os filhos presenciam, algumas vezes, um idoso cair inúmeras vezes, e querem intervir, mudando o piso da casa, melhorando o projeto de luminotécnica ou transferindo-o para um ambiente mais seguro. Mas ele insiste que não… Afinal, não há nada de errado com ele ou com a casa em que ele vive.

Em outros casos, os parentes percebem que o idoso, que mora sozinho, está perdendo peso porque se esquece de comer ou porque não pode ir com facilidade ao supermercado e cozinhar para si mesmo. Os familiares tentam intervir, contratando uma diarista que faça este serviço ou um cuidador de idosos por algumas horas por dia… Mas o idoso rejeita todas as sugestões e diz que não precisa de qualquer ajuda, obrigado!

“Estamos generalizando, é claro. Os exemplos mencionados não representam fielmente todos os idosos, mas incluem muitos deles. E o que mais a família pode esperar do idoso? Crescemos numa cultura ocidental, onde ouvimos, desde crianças, que a independência é um bem supremo, uma conquista maravilhosa. O sinônimo de ser um adulto independente não é se sustentar e morar sozinho? E quando falamos ou pensamos sobre envelhecer: não aplaudimos o maratonista de cabelos prateados, o senador de 90 anos de idade e aqueles que não têm que parar de fazer o que sempre fizeram, como Oscar Niemeyer, por exemplo? Pois é, isto tudo é porque valorizamos muito nossa independência, os idosos também”, explica a médica Renata Diniz, que dirige a VRMedCare, empresa especializada em cuidados domiciliares na terceira idade.

No entanto, a maioria dos idosos – cerca de dois terços deles, uma projeção comumente utilizada – chegará a um ponto de dependência numa fase, no final da vida, em que terá de depender dos outros para realizar tarefas cotidianas, como tomar banho ou se vestir. “Em algumas culturas, onde a família multigeracional permanece normativa, talvez esta fase pareça mais natural. Mas não por aqui, onde passamos anos e anos tentando ser auto-suficientes”, diz a médica Vanessa Morais, que também dirige a VRMedCare, empresa especializada em cuidados domiciliares na terceira idade.

Avessos à dependência…

Dependência gera raiva, vergonha, desafio. “É aceitável apenas para crianças e adultos muito jovens. Mas para adultos – e é aqui que os idosos se incluem – depender de alguém não é apenas uma realidade desconfortável, é impensável. Estamos sempre dispostos a pensar que somos capazes de cuidar de nós mesmos. E, de preferência, para sempre”, observa a médica Renata Diniz.

“Racionalmente, podemos argumentar com nossos parentes idosos que esta certeza de independência absoluta e infinita é um absurdo, que todos nós somos dependentes, dentro de uma teia global de outras pessoas, todos os dias de nossas vidas. Mas isso não ajuda muito a um membro idoso da família a acatar a sua sugestão: ‘está na hora de parar de dirigir…’; ‘o melhor é usar o ônibus e o metrô’; ‘ está na hora de contratar um cuidador de idoso para te ajudar nas suas atividades cotidianas’…”, destaca Vanessa Morais.

“Todas essas mudanças implicarão em negociações difíceis e dolorosas dentro de algumas famílias. Nós todos crescemos tendo a independência como um valor fundamental. Abrir mão dela, parcialmente ou totalmente, não é um processo fácil. É preciso compreender isto para agir com tato, visando assegurar que as ‘medidas restritivas de autonomia’ não arrasem os sentimentos de quem queremos ajudar”, aconselha a médica Renata Diniz, diretora da VRMedCare.

Quando um cuidador é necessário…

“Há muitas formas de envelhecer, mas algumas provocam mudanças que geram um excesso de trabalho ou responsabilidade para um dos membros da família. É neste momento que a família deve pensar em contratar um profissional habilitado para cuidar do idoso”, defende a médica Vanessa Morais, diretora da VRMedCare.

Apesar dos esforços despendidos para garantir uma velhice cada vez mais ativa e saudável, muitos idosos experimentam algum grau de dependência e fragilidade nessa fase. “Há indivíduos que envelhecem com algum prejuízo, mas mantém certa independência. Nestes casos, o cuidador profissional pode auxiliar nas atividades cotidianas que o idoso não é mais capaz de realizar sozinho, além de participar do processo de reabilitação. Exemplos de idosos nesta condição são diabéticos com complicações, pacientes em tratamento de câncer, em pós-operátorio, com fraturas ósseas”, explica Renata Diniz.

Mas há também idosos que apresentam-se totalmente dependentes, com pouco ou nenhuma autonomia. “Nesta situação estão os indivíduos com Alzheimer e Parkinson, em estágios avançados, com sequelas de isquemia cerebral (derrames) e os acamados. Para estes pacientes, o cuidador profissional presta um auxílio valioso, visando manter as melhores condições físicas possíveis. E para isto, o cuidador realiza uma grande gama de ações relacionadas à higiene íntima, à alimentação e à administração de medicações”, diz Vanessa Morais.

Cristina Esteche

Jornalista

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