Carli apela ao desespero para “mostrar serviço” no ano eleitoral

Uma cena inusitada, que desafia a racionalidade, foi divulgada por comunicadores ligados à própria Prefeitura de Guarapuava, com o objetivo de convencer a população de que a Administração Municipal finalmente resolveu trabalhar. A foto (veja nesta página) é de operários trabalhando com máquinas pesadas, debaixo de uma chuva forte, na restauração de asfalto num bairro da cidade.

O pessoal da propaganda do prefeito Fernando Ribas Carli queria passar a ideia de que a "Prefeitura trabalha até debaixo d´água". O que as imagens provocam é uma sensação de que a Administração Carli age no desespero, ignorando normas técnicas de engenharia, pois a chuva em quantidade afeta a qualidade do material usado para fazer o pavimento. Um flagrante desperdício do dinheiro público, empregado agora, em ano eleitoral. Sem contar que os operários foram forçados a trabalhar na chuva, desrespeitando as condições de saúde e dos direitos trabalhistas.

É incompreensível que isto esteja ocorrendo no apagar das luzes da Administração Fernando Ribas Carli, que teve tempo de sobra para executar as obras, e não o fez mesmo diante de seguidos apelos e do descontentamento generalizado do povo guarapuavano.

Durante os últimos anos, Guarapuava ficou conhecida nacionalmente como a "cidade dos buracos". Os prejuízos para os motoristas eram enormes, com verdadeiras crateras, causando avarias nos veículos e lentidão no tráfego. Ruas e avenidas estratégicas, ligando bairros e vias de acesso, estavam intransitáveis. Sem alternativa, o motorista tinha que enfrentar a buraqueira, os gastos com amortecedores, pneus e lataria, e sair mais cedo de casa para não chegar atrasado ao trabalho ou à escola.

DEVAGAR QUASE PARANDO

A sensação de abandono não é um produto da fantasia da população guarapuavana. As reclamações se estendem ao setor de saúde, educação, em meio a uma série de irregularidades administrativas (entre elas, concursos públicos) e outras situações escandalosas que ganharam repercussão no País inteiro.

Com exceção de alguns jardins de flores, o restante da cidade ganhou um aspecto feio, de desleixo. Mais que as aparências, o morador sentiu na carne o peso do abandono. O atual mandato de Fernando Ribas Carli está se aproximando do fim com outros saldos negativos: faltam creches para milhares de crianças, médicos nos postos de saúde, os servidores são desvalorizados, a tarifa do transporte coletivo é uma das mais caras do Brasil, os projetos sociais e econômicos (os badalados pólos de jóias, do tênis, e a criação de frango) não decolaram, apesar do volume de dinheiro investido.

Após este extenso período de hibernação, agora a Prefeitura decidiu espalhar máquinas em diversos cantos da cidade, coincidindo com a abertura do período eleitoral (as eleições municipais serão em outubro deste ano). Até então, as máquinas das empreiteiras ligadas a Carli funcionavam na mesma velocidade dos carros que trafegam pelas ruas esburacadas – devagar quase parando, ou estavam paradas de fato.

Para os cientistas sociais, os políticos que querem mostrar trabalho em época de eleição estão apostando na "memória curta" do eleitor, atitude que vem mudando muito com a influência das redes sociais (onde o debate é intenso), que nem sempre chega às populações mais carentes. Neste caso, quando um cidadão consciente percebe a intenção eleitoreira de um político, os especialistas recomendam o diálogo com outras pessoas menos esclarecidas, que é um legítimo exercício de cidadania.

As eleições servem para escolha do novo prefeito, mas também para julgar o comportamento do prefeito que está deixando o mandato – se ele foi honesto ao fazer suas promessas, investiu e cuidou corretamente o dinheiro do povo e se suas atitudes condizem com a boa conduta do administrador municipal e o trato da coisa pública.
Além das realizações ou do que deixou de ser feito, as intenções do prefeito estarão colocadas em provação pelo eleitor.