Tiques motores simples e abruptos como o piscar de olhos e rodar ombros, movimentos mais complexos como expressões faciais, gestos com as mãos ou dar pulos e tiques vocais, são sintomas da Síndrome de Tourette. Com taxa de prevalência entre 1 a 3% na população em geral, esta doença está presente mais em crianças e adolescentes. Esta patologia comete cerca de três a quatro vezes mais o sexo masculino do que o feminino.
"A Síndrome de Tourette é um distúrbio genético, de natureza neuropsiquiátrica, caracterizado pela presença de tiques motores e de um ou mais tiques vocais, durante pelo menos um ano e com o surgimento anterior aos 18 anos", afirma Rosana Mastrorosa, psicóloga pesquisadora do ambulatório de TOC e TOURETTE da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e colaboradora da Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo (ASTOC).
Na maioria das vezes, os sintomas surgem entre os dois e 15 anos. Os tiques motores e vocais não precisam estar presentes ao mesmo tempo, podendo ocorrer períodos onde só os tiques motores estão presentes, outros momentos só os tiques vocais e, algumas vezes a presença dos dois ao mesmo tempo. "Estes sintomas acabam gerando um impacto importante na vida do portador do distúrbio que, muitas vezes, sofre o preconceito por esta síndrome ser desconhecida na sociedade", revela.
O diagnóstico é realizado através da avaliação da presença de sinais e sintomas característicos e pela história de surgimento desses sintomas. "Não existe, atualmente, nenhum teste laboratorial específico que confirme o diagnóstico desta síndrome. Contudo, exames complementares (EEG, tomografia ou análises sanguíneas) podem ser úteis no diagnóstico diferencial, contribuindo para a exclusão de outros distúrbios que possuem sintomas semelhantes", completa.
Tratamento e importância da família
Segundo Rosana Mastrorosa, até o momento não há cura para esta doença, mas a remissão completa dos sintomas pode ocorrer em até 30% dos casos. "Em um terço dos portadores, os sintomas vocais se tornam cada vez mais raros ou podem desaparecer, e os tiques motores podem diminuir em número e frequência. Para outra parcela dos portadores, a idade adulta pode ser o período no qual os sintomas tornam-se mais graves e debilitantes. Os fatores que influenciam a continuidades da Síndrome de Tourette da infância para a idade adulta não são ainda bem compreendidos", conclui.
O tratamento pode ser realizado por uma equipe formada por multiprofissionais como psiquiatras, psicólogos e neurologistas, entre outros. "Dependendo da gravidade, medicação e terapia deverão ser usadas em conjunto, mas para os casos mais simples, só a terapia tem apresentado bons resultados. A abordagem terapêutica mais recomendada é a cognitiva-comportamental", completa.
A psicóloga Rosana Mastrorosa alerta para a importância do acompanhamento familiar no tratamento e os cuidados com esta enfermidade. "O papel dos familiares é muito importante para a boa evolução do tratamento tanto medicamentoso quanto psicológico. Eles devem inclusive participar de algumas sessões junto com o portador e ajudar em casa na prática de alguns exercícios e, também, no cuidado com o uso da medicação", conclui.