Ele viu casarões ser construídos, mas também os viu ser derrubados em nome do progresso, da modernidade. Vê gerações nascerem e crescerem. Afinal, não é qualquer um que tem o privilégio de comemorar 100 anos de idade, um século de uma vida muito bem vivida, compartilhada com filhos, netos, bisnetos, tataranetos e amigos.
Isso mesmo! Eurico Lustosa de Siqueira, neto do primeiro prefeito de Guarapuava, o coronel Pedro Lustosa de Siqueira, comemorou 100 anos no dia 1º de abril festejando também 77 anos de casamento com dona Maria do Belém Lustosa de Siqueira, que no dia 27 fará 96 anos de idade. Neste Domingo de Páscoa a família se reúne para festejar essas datas.
Da feliz união que entrelaçou ainda mais a família- ambos eram primos, resultou em quatro gerações que somam 132 descendentes. São 11 filhos, 32 netos, 39 bisnetos e 17 tataranetos.
Se dona Maria do Belém, apesar de menos idade, está acometida por arteriosclerose, uma doença degenerativa, seo Eurico possui uma lucidez que encanta e surpreende quem o cerca.
Ele sabe de tudo o que acontece, ouve rádio diariamente para saber quem nasceu e quem morreu, conta a neta Viviane Siqueira Ribas.
Segundo Viviane, Eurico é uma pessoa atualizada e que se preocupa com a política do País. Ele sempre comenta de onde o Lula (presidente) surgiu e agora é presidente, numa demonstração de que conhece a história e a trajetória política do Lula, comenta Viviane.
O centenário desse homem cuja história se confunde com grande parte da origem política de Guarapuava, é marcado pelas imagens do desenvolvimento e da transformação de Guarapuava. Eu vi Guarapuava mudar. Antes só tinha carroça e cavalo. Eu morava na fazendo e tudo era muito difícil. Nasci e me criei na fazenda e não saía de lá. Até o professor ia lá para nos ensinar, relembra.
Para ele, hoje tudo está mais bonito e tudo mudou, até as pessoas. Eurico morava na Fazenda Taguá, no Jordão, cuja construção ainda mantém vivas lembranças da escravidão. Há taipas por todos os lados.
Se Eurico teve a sua origem nas lidas da terra é justamente essa atividade que move o seu cotidiano. Ele mantém uma horta nos fundos da casa em que vive com Dona Maria do Belém, ali no Núcleo Rocha Loures, cuja área pertenceu à sua família.
Entre causos, história de vida e lembranças, o que mais chama a atenção nesse ancião é o amor que nutre a dona Maria do Belém.
Ele penteia os cabelos dela e coloca fivela. Preocupa-se com o lanche da tarde, preparando e dando a ela leite com bolacha todos os dias, conta Viviane, para quem esse amor é uma coisa divina.
Foto: Eurico Lustosa e dona Maria do Belém: 77 anos de casados e 132 descendentes