22/08/2023
Segurança

PR discute medidas contra obesidade

Em um país onde 49% da população está acima do peso, de acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, são várias as estratégias pensadas por governos, associações médicas e até parlamentares para tentar barrar a epidemia de obesidade. No Paraná, um projeto de lei que está em votação na Assembleia Legislativa quer exigir que os restaurantes tragam em seus cardápios informações sobre a quantidade de calorias de cada alimento. O objetivo é dar ciência aos consumidores sobre o quanto de energia estão consumindo e, por tabela, até mesmo convencêlos a comer menos e melhor.

 

Entre os restaurantes, a medida foi criticada. No meio médico, ela é vista com reserva, já que, para alguns, a informação não é suficiente para impedir alguém de comer mais se não estiver aliada a uma educação alimentar. Pesquisas conduzidas nos Estados Unidos, onde 164 milhões serão obesos até 2030, mostram que a medida, que já é observada na cidade de Nova Iorque, não tem surtido efeito. Um estudo conduzido pela NYU School of Medicine mostrou que 9% dos jovens pensam em comprar alimentos menos calóricos após notar os números, mas mesmos esses acabam cedendo à tentação. E mais de 50% garantem nem notar os avisos.

 

 “Não podemos desprezar nenhuma medida no sentido de melhorar a qualidade de vida das pessoas, mas a informação sozinha não trará grandes resultados. É preciso, mais do que informar, educar a pessoa, desde criança, a ter uma dieta saudável, com pais que dão o exemplo”, alerta a chefe do Setor de Nutrição e Dietética do Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba, Rosangela Teodorowicz. “Se a pessoa não entender o quanto aquilo faz mal, ela vai tomar conhecimento e continuar comendo o que sempre comeu. Não se deixará convencer”, completa.

 

Para o endocrinologista do Hospital Vita Fabiano Lago, será difícil fazer com que a medida seja cumprida. “É difícil fiscalizar isso. Uma porção geralmente é contada por gramas, com a quantidade de calorias a cada cem gramas, por exemplo. Mas a comida pode ter mais ou menos do que isso. É complicado calcular de maneira precisa, e isso acaba não convencendo a pessoa. E como fiscalizar cada porção vendida, e cada novo prato que é incluído no cardápio?”, indaga o médico, que propõe alternativas à proprosta, como diminuir o tamanho das porções.

 

Médicos apostam na diminuição de porções e embalagens

 

Em meio à discussão sobre se a medida de informar as calorias no menu é ou não eficaz, especialistas citam pesquisas que mostram uma maneira mais convincente de fazer comer menos e melhor: informar sobre quanto exercício seria preciso fazer para perder as calorias contidas no alimento ingerido. Uma pesquisa da Texas Christian University (EUA) com 300 consumidores entre 18 e 30 anos de idade mostrou que pessoas que são informadas a respeito de quanto tempo de caminhada precisarão fazer para perder as calorias consumidas comem menos. Não houve diferença entre o grupo que recebeu um cardápio apenas com a quantidade de calorias em cada alimento e aquele que não recebeu qualquer informação.

 

Para o endocrinologista Fabiano Lobo, a medida ajuda a restringir o consumo desenfreado de alimentos industrializados, mas, no final das contas, comer demais e depois correr atrás do prejuízo não é a melhor solução. “O poder engordativo desses alimentos é infinitamente maior do que a capacidade do corpo de queimar calorias com exercícios. Sempre digo que o exercício que mais emagrece é afastar o prato e comer menos”.

 

Hábitos importados

 

Para os médicos, uma medida mais eficiente já adotada em algumas cidades norte-americanas e que poderia ser copiada pelo Brasil é diminuir o tamanho das porções, aliada sempre à educação alimentar. Em Nova York, uma medida que passou a vigorar no mês passado proíbe redes de fast food, bares e restaurantes de vender copos, latas ou garrafas superiores a 470 ml. A discussão também avança para embalagens de comidas, como pipoca e salgadinhos. “A pipoca de cinema, por exemplo, era um saquinho pequeno, que quase cabia na palma da mão. Hoje são vendidos baldes de pipoca. As redes de fast food vendem refrigerantes em embalagens enormes, e a pessoa pode repor o conteúdo do copo várias vezes. É um exagero”, afirma a nutricionista Rosangela Teodorowicz.

Cristina Esteche

Jornalista

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