22/08/2023

Dias de tormenta – Por Ademar Traiano

Recebi do deputado estadual e lider da bancada governista na Assembleia Legislativa do paraná, Ademar Traiano, e compartilho:

Dias de tormenta

Por Ademar Traiano
 
O temporal de manifestações começou com passeatas violentas contra aumento de passagens de ônibus, conduzidas por radicais mobilizados pela internet e insuflados por partidos de extrema esquerda. Parecia mais um caso de polícia que um evento social de relevância.
 Mas esse início lamentável desencadeou o mais importante e surpreendente movimento de massas das últimas duas décadas no Brasil. Uma imensa e insuspeitada represa de descontentamento popular se rompeu e foi para as ruas.
 Centenas de milhares de jovens, a maioria com disposição pacífica, mas determinados a mostrar inconformismo com situações vividas no país, saíram às ruas. Eles sepultaram em cova rasa a lenda, vendida pela propaganda oficial, de um povo cordato e contente com os rumos do país.
 Os radicais violentos, que insistem em derrubar portões, pichar e destruir monumentos ou depredar prédios públicos, em nome de utopias regressivas e agendas delirantes, ainda estão por aí, e podem produzir eventos lamentáveis. Eles são uma minoria e começam a ser contidos por cidadãos que querem apenas mostrar sua indignação.
 O descontentamento teve múltiplas causas, mas ninguém questiona que o estopim da revolta foi a escalada dos preços das passagens de ônibus. Nesse caso, a prefeitura de Curitiba deu exemplo do que não se deve fazer.
 
Enquanto o Paraná conseguia a redução de preços nas passagens de 28 cidades, graças a uma política de subsídios conduzida pelo governo do Estado, a prefeitura da capital se aferrava a manutenção de um aumento cada vez mais difícil de justificar.
 O prefeito Gustavo Fruet (PDT), que recebe o maior subsídio do país (R$ 0,45 por passagem), exigia mais dinheiro para reduzir a tarifa. Mais uma vez tentou terceirizar suas responsabilidades e revelou uma preocupante miopia com relação ao momento que o país vive.
 Os sinais do descontentamento que produziu o movimento de massas que parou o país eram muitos. A popularidade da presidente entrou em queda livre. A vaia no estádio foi outro sinal.
 Reagindo, o governo alimentou a indignação. Mal saiu a pesquisa com o tombo na aprovação de Dilma Rousseff o governo federal tirou da cartola mais uma bolsa. Foram liberados R$ 18,7 bilhões, para a compra de eletrodomésticos. É o bolsa-geladeira, bolsa-televisão-LCD.
 Ninguém é contra atender demandas de consumo da população. A questão é saber por quanto tempo o cidadão não bolsista aceitará que os seus impostos continuem a financiar o populismo, que mira o eleitorado-cliente do PT.  Uma fórmula de turbinar popularidade que começa a falhar.
 O cidadão não-bolsista – que vê sua capacidade de consumo ser corroída pela inflação sem controle, produzida pela condução estabanada da economia, que prejudica mais gente com seus equívocos do que favorece com suas políticas de transferência de renda – está ficando farto.
 Razões para revolta se multiplicam. A Copa do Mundo no Brasil, herança do ufanismo lulista, está se voltando contra o governo petista. Gastos bilionários, denúncias de corrupção, a prepotência dos cartolas da Fifa, transformaram o evento em mais uma fonte de fúria.
 
O brasileiro padece com as frustrações terríveis no campo da ética. O PT, que chegou ao poder em 2003, prometendo produzir uma revolução ética na política, entregou em 2005 o escândalo do mensalão.
 O escândalo só foi a julgamento em 2012. A condenação dos mensaleiros, recebida com júbilo pela maioria da sociedade brasileira, logo se transformou em frustração, quando começaram as manobras jurídicas para livrar os réus da cadeia.
 O ministro do STF Dias Toffoli, egresso dos quadros do Partido dos Trabalhadores, que durante o julgamento demonstrou simpatia para com as teses mensaleiras, proclamou, dias atrás, que as punições poderiam levar mais dois anos para serem aplicadas.
 O fato é que muita água se acumulou antes da represa de indignação se romper. Ainda que a violência e o vandalismo não possam ser tolerados, sob pena de tornar toda a sociedade refém dos violentos e dos vândalos, a indignação dos cidadãos de bem precisa de mais atenção e respeito. A legendária paciência do brasileiro chegou ao seu limite.
 

Cristina Esteche

Jornalista

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