O aumento do incentivo à pesquisa, ações imediatas de redução da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e o uso racional dos recursos naturais serão fundamentais para conter os efeitos que as mudanças climáticas poderão causar sobre os setores de energia, agropecuária e floresta nas próximas décadas.
A adoção destas medidas está no projeto de Simulação dos Impactos das Mudanças Climáticas globais sobre os setores de Agropecuária, Floresta e Energia (SimCafe) apresentado, nesta terça-feira (23), em Curitiba, pelo Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas.
"Hoje não se admite mais utilizar os recursos naturais de forma predatória, pois eles refletem diretamente no potencial produtivo e na qualidade de vida da população", afirma o coordenador do projeto de pesquisa, Paulo Henrique Caramori.
Pioneiro no país, o estudo permitiu a criação de um sistema capaz de simular os impactos das mudanças climáticas globais em 2040, 2070 e 2100. As previsões foram feitas utilizando 40 anos de dados das estações meteorológicas do Simepar e Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), considerando cenários propostos pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas. Um deles prevê o aumento da temperatura da Terra em 2 graus e, o outro, em 4 graus.
"O projeto mostra uma tendência, a longo prazo, de alteração no clima. As temperaturas mínimas estão ficando mais elevadas, indicando que as noites estão ficando mais quentes", explica. Segundo Caramori, a onda de frio presenciada hoje é normal devido à região geográfica em que o Paraná se localiza. "O que nos preocupa é o aumento da temperatura para as próximas décadas, devido à crescente emissão de gás carbônico na atmosfera", completa.
PREJUÍZOS – Entre as consequências apontadas pelo estudo estão o desaparecimento de importantes biomas, podendo chegar à diminuição do potencial produtivo agrícola do Paraná. "Esse aumento da temperatura pode ter impacto em algumas culturas agrícolas por alterações na adaptação de espécies que necessitam de conforto térmico, como as aves e bovinos". Outra consequência do aumento da temperatura e da perda de florestas, é a alteração do balanço hídrico e da fisiologia das culturas, causando doenças em plantas.
"As florestas protegem o solo da chuva, evitam o transporte de poluentes, a erosão, o assoreamento de rios e nascentes. Além disso, a falta de florestas também muda o balanço de energia, já que o calor do sol é amortecido pelas árvores", menciona Caramori. Ele explica, que a falta de vegetação faz com que os raios solares atinjam diretamente o solo, elevando a sua temperatura para até 50o em algumas regiões do Paraná. "A temperatura elevada provoca a degradação da matéria orgânica, reduzindo o potencial produtivo do solo e emitindo gás carbônico na atmosfera", completa Caramori que é pesquisador e agrometeorologista do Iapar.
Os resultados da pesquisa foram apresentados para técnicos de diferentes instituições com o objetivo de alertar os tomadores de decisão no Estado sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas para os próximos 100 anos no Paraná.
MEDIDAS – De acordo com o secretário do Meio Ambiente e presidente do Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas, Luiz Eduardo Cheida, o Governo do Estado já está desenvolvendo ações para reduzir a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera e minimizar os impactos futuros das mudanças climáticas.
"Aliado a pesquisas como esta, estamos produzindo um inventário dos remanescentes florestais do Paraná e também um levantamento do volume de Gases de Efeito Estufa emitido por diferentes fontes e setores para proposição de medidas de redução, em âmbito privado ou público", destacou Cheida. O secretário lembrou que os municípios contam com o apoio do Estado para elaboração dos inventários municipais de Gases de Efeito Estufa.
O governo estadual está investindo R$ 800 mil no inventário de GEE do Paraná, que será concluído em setembro de 2014. No Brasil, apenas cinco estados já fizeram seus inventários.
“Com o levantamento concluído, o Governo poderá propor metas de redução das emissões de GEE de forma setorizada, assim como políticas públicas de mitigação e adaptação alinhadas ao Plano Nacional de Mudanças Climáticas”, explica Cheida.
Entre as medidas que podem ser adotadas para reduzir os impactos das mudanças climáticas estão o emprego de sistemas mais equilibrados na agricultura e na pecuária, a manutenção permanente da cobertura do solo e a adoção de fontes de energia mais limpas. "Os cidadãos também podem contribuir, adotando práticas mais sustentáveis como a reciclagem, o uso de transporte e combustíveis menos poluentes e utilizando a água e a energia de maneira racional", finaliza Cheida.
Participaram da abertura do workshop o presidente do Instituto de Agronômico do Paraná do Paraná (Iapar), Florindo Dalberto; o presidente do Simepar, Eduardo Alvin; o chefe-geral da Embrapa Florestas, Edson Tadeu Iede; o assessor da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aroldo Messias de Melo Junior; a secretária-executiva do Fórum de Mudanças Climáticas, Rosana Castella; o coordenador de Mudanças Climáticas da Secretaria do Meio Ambiente, Carlos Garcez, e representantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Unicentro, Universidade Estadual de Ponta Grossa e Fundação ABC.