O desejo anunciado pelo conde Chiquinho Scarpa de enterrar o seu carro preferido, um Bentley avaliado em R$ 1,5 milhão, tomou conta das redes sociais e críticas não foram poupadas ao excêntrico playboy milionário. O Brasil aguardou o momento em que o “tesouro” seria colocado num buraco e coberto com terra, no jardim da mansão na capital paulista. Até que no último instante veio a revelação: era chegada a hora de sepultar o preconceito contra valores religiosos que impedem a doação de órgãos e que presta um desserviço à ciência e à humanidade.
Toda a encenação não passou de uma campanha publicitária. Aliás, uma das melhores que já vi nos últimos anos, para tirar a venda da sociedade que criticou o milionário por anunciar o enterro de um carro, quando se enterram bens mais preciosos que são os órgãos, fios de vida que podem recompor a esperança de quem está a um passo da morte. A campanha de doação de órgãos e tecidos acontece de 23 a 27 de setembro, em uma parceria entre o governo federal e a Associação Brasileira dos Transplantes de Órgãos. “Tem gente que enterra algo bem mais valioso, coração, rim, seus órgãos. Isso sim, é absurdo”, disse Chiquinho.
A campanha idealizada pelo publicitário Christian Fontana, da agência de publicidade Leo Burnett Tailor Made, mostra que ideias criativas não são para qualquer um. Assim como o jornalismo, a publicidade também é uma arte, ou seja, um dom. São esses profissionais que fazem a diferença no mercado com ideias originais que despertam desejos e os tornam incontidos, que chamam à reflexão, que chocam, que emocionam, que revelam, que incluem, mas que também podem excluir, que atingem objetivos e que, se mal planejado pode derrubar. Quem não lembra da infeliz campanha que espalhou outdoors pelos principais pontos de Guarapuava em que o ex deputado Fernando Carli Filho agradecia as orações recebidas pelo seu restabelecimento quando a revolta pelos crimes de trânsito cometidos e que interromperam a vida de dois jovens estavam no auge? Ao contrário dessa, a campanha protagonizada por Chiquinho Scarpa, com certeza, passou a ter no lugar da indignação inicial, a simpatia e a aprovação da sociedade brasileira nessa ação que visa contribuir com a continuidade da vida.