Brasília – O coordenador da Frente Parlamentar da Terra no Congresso Nacional, deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), afirmou nesta quinta-feira (4/6) que a polícia e o poder Judiciário paranaenses “estão devendo” no que se refere à investigação e à punição das milícias armadas que atuam ilegalmente em áreas rurais do Estado.
Conforme dados relativos a 2008 divulgados esta semana pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), 855 famílias foram ameaçadas e intimidadas por grupos armados contratados por fazendeiros. Esse dado coloca o Paraná na terceira posição entre os Estados com o maior número de vítimas das milícias, geralmente disfarçadas sob a fachada de empresas privadas de segurança.
“Esse levantamento precisa ser analisado com cuidado e prioridade tanto pela polícia quanto pela Justiça do Paraná, que estão devendo e muito nessa área”, avalia Dr. Rosinha. “A autoridade policial em geral não investiga as denúncias e, nas vezes em que há investigação, o Judiciário simplesmente não pune.”
O estudo da CPT lembra o assassinato do trabalhador rural Eli Dallemole, 42, morto em março de 2008 no assentamento Libertação Camponesa, em Ortigueira, região Central do Estado. Ameaçado de morte havia mais de dois anos, Eli foi executado por dois homens encapuzados que invadiram sua casa e o mataram na frente de sua família.
“Infelizmente, a ação do poder público tem sido tardia, em via de regra ocorre quando a situação de violência previsível pelas inúmeras denúncias apresentadas já ocorreu”, registra a CPT.
No último mês de abril, Dr. Rosinha e o deputado estadual Professor Lemos (PT), na companhia do ouvidor estadual do Incra, Vinícius Oliveira, estiveram em Guairaçá, onde cinco barracos de um acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foram totalmente destruídos.
O relatório da CPT mostra ainda que foram registrados ao longo do ano passado 54 conflitos no campo no Paraná, que envolveram 23,4 mil pessoas. Em 2007, haviam sido 89. O total de ocupações de terra no Paraná em 2008 foi de 14. E o número de famílias despejadas pela Justiça chegou a 648.
Das 5.266 pessoas em situação de trabalho escravo libertadas em 2008 no país, 391 estavam no Paraná. O dado triplicou no Estado em relação a 2007, quando foram libertados 130 trabalhadores.
Marcha e debates em Curitiba
Após duas semanas de caminhada, chegaram nesta quinta-feira (4/6) em Curitiba os cerca de 400 trabalhadores do MST que, em conjunto com a Via Campesina e a Assembleia Popular, há algumas semanas promovem um mutirão de debates sobre a crise econômica e a construção de um projeto popular para o país.
No último dia 18 de maio, 200 militantes da chamada “Coluna do Norte” iniciaram debates na cidade histórica de Porecatu. No dia seguinte, outros 200 militantes da “Coluna do Oeste” partiram de Foz do Iguaçu. As duas colunas percorreram dezenas de cidades paranaenses.
Além de debates sobre a crise econômica e a reforma agrária, os manifestantes também divulgam a campanha “O petróleo tem que ser nosso”, em defesa da Petrobras e do controle público das reservas petrolíferas descobertas no país.
Até sábado, os militantes do MST participam de uma série de debates em Curitiba. “Esses debates com o restante da sociedade são importantes para que os sem-terra quebrem o preconceito que ainda existe contra o movimento”, avalia Dr. Rosinha. “A defesa da reforma agrária, da agricultura familiar e do cultivo de alimentos sem agrotóxicos devem ser bandeiras de todos.”
Atualmente, há cerca de 100 mil famílias sem-terra acampadas em todo país. Cerca de 7 mil delas estão no Paraná, sob barracas de lona, em latifúndios improdutivos e na beira de estradas.