22/08/2023

Uma vista, um ponto, um sentimento qualquer

Escolhi o nome “Ponto de Vista” para este blog por um motivo especial: sou um apreciador de paisagens; se me deparar com uma visual que me encante eu fico plasmado até me enebriar. Na neurolinguistica poderia ser definido como visual, embora me ache sinestésico, o fato é que uma paisagem diz muito, é marcante. São coisas que marcam a vida da gente, os lugares, e um lugar em particular, que pode ser único, aqueles que despertam nossas lembranças sem serem convidados.

De Guarapuava, o ponto de vista do Alto da Santana, da capela dos freis, de onde se descortina o Vale do Jordão. O lugar tem um ar místico e uma energia vibracional fortíssima. Ideal para quem curte meditação, ou simplesmente contemplação. O silêncio diz tudo e você ainda ganha o cheiro agridoce das matas.

Também tem o Salto São Francisco, que chama atenção pela imponência. Acima do São Francisco, tem a cascata dos Cavaleiros, é mais suave e a corredeira é maior. Dá para deslizar de “esquibunda” ou ficar debaixo de uma queda d’água. Aproveita-se mais. É o que grava na memória.

O Morro do Chapéu, visto à distância na BR-277, bem antes de chegar no trevo do Relógio, é um “visu” que me conforta. Venha de onde vier, quando chego neste ponto e me deparo com o Morro do Chapéu e a escarpa da Serra da Esperança, é como se estivesse chegando em casa após uma longa viagem. Se for perto do horário do lusco-fusco, o sol se despedindo e abrindo alas para a lua, paro o carro, desço e ponho-me a respirar o frescor do fim da tarde.

O Rio Hipólito é um recanto praticamente intocado na Encosta da Serra Geral de Santa Catarina. Foi colonizado por imigrantes italianos há mais de 100 anos, que esculpiram a picareta uma estrada de chão batido, serpenteando um rio com o nome de Hipólito. Imagine as cordilheiras nos alpes suíços, sem neve, morros com picos altos e rochosos, em diferentes formatos. É lá que me ponho a viajar no tempo, impressionado com o fato de o ser humano conseguir viver, como viveram esses imigrantes italianos, longe de tudo, extraindo da terra o necessário para sobreviver. Digo isso, porque há dezenas de famílias que ainda vivem assim lá, casas de madeira com tábuas enceradas no lugar da tinta, portas e janelas só na tramela, as mulheres que usam “perneiras” para proteger as pernas na roça (calça é utensílio de homem). Come-se queijo curado e polenta cozida no fogão à lenha, da farinha de milho das tafonas do próprio lugar.

“Ponto de Vista” é o nome de um bar e de um mirante no alto do morro da Lagoa Conceição em Florianópolis. É deslumbrante, seja de dia ou de noite. Nas luas cheias, nenhuma mulher resiste. E nenhum homem esperneia para ceder à beleza e sutilidade da natureza. Se fechar os olhos, pior ainda: o ar que vem do oceano, com a pureza dos sais minerais, faz brotar o sentimento de conexão com o espaço. É cosmopológico por essência.

Ponto de vista também é uma abertura para falarmos sobre política. Mas, convenhamos, está tão bom assim, não acham?

Cristina Esteche

Jornalista

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