22/08/2023


Geral

Padre é afastado por suspeita de violar correspondências

Um padre que atuava na Paróquia de Pinhão foi afastado pela Igreja por suspeita de violar correspondências.

O fato veio à tona no final de semana, quando aproximadamente 50 fiéis da igreja católica de Foz do Iguaçu e da região participaram, na tarde de sábado (09), de um protesto contra as decisões tomadas pelo bispo da diocese, Dom Dirceu Vegini, em afastar três padres e não revelar os motivos. O decreto que determinou a suspensão das funções sacerdotais foi entregue aos religiosos na sexta-feira (1º) e dava prazo para que eles deixassem as paróquias até o fim da tarde de sábado (2). Foram afastados os padres Sérgio Bertoti, Agostinho Gatelli – de Foz do Iguaçu – e Paulo de Souza, que havia sido transferido para a diocese de Guarapuava, onde atuou na paróquia de Pinhão. Agostinho Gatelli atua em Santa Helena e o padre Paulo de Souza, também atuou na paróquia Santo Antônio de Santa Helena até antes de se formar sacerdote.

Os manifestantes protestaram com faixas, balões pretos e rezaram o terço. “Nós organizamos este protesto exatamente para mostrar para o bispo a indignação em relação à sua atitude. E a gente está querendo mostrar para ele que ele pode ficar à vontade para fazer tudo isso em outra diocese, porque aqui não dá mais para ele”, revelou indignada a empresária Márcia Oliveira. Apesar da movimentação, realizada em frente à Cúria – local onde Dom Dirceu Vegini mora e de onde cuida da administração da diocese de Foz do Iguaçu – aparentemente o imóvel estava fechado e ninguém apareceu. “Ele abusou de sua autoridade e fez medidas pesadíssimas, muito fortes, que não precisariam ser tomadas neste momento, expulsando padres da cidade, impedindo que eles celebrem missa, tirando da residência de onde eles moram e que eles não podem ficar aqui. Então, essas medidas são autoritárias e é contra isso que estamos lutando”, relatou o advogado dos padres afastados Álvaro Albuquerque.

Para o advogado, o que está ocorrendo é uma perseguição do bispo depois de ele ter denunciado à polícia a invasão da conta pessoal de e-mail. Em entrevista coletiva, realizada na terça-feira (05), Dom Dirceu afirmou que o afastamento dos padres não tem relação com o caso da violação de e-mails e que não pode revelar os motivos da decisão. Os três padres negam saber o que causou os afastamentos.

SUSPEITA

Mesmo após a Diocese negar, a  suspeita dos fiéis é de que a determinação de afastamento é assinada pela Congregação para o Clero, com sede no Vaticano, e se baseia em denúncias feitas pelo bispo Dom Dirceu Vegine e por fiéis apontando que sete padres tiveram acesso a mensagens eletrônicas confidenciais. O crime virtual envolvendo a Cúria Diocesana vem sendo investigado pela Polícia Civil e internamente pela própria igreja. A distribuição dos mais de 200 e-mails ocorreu em agosto de 2012, mas o caso só foi divulgado no dia 16 de julho de 2013 após o bispo denunciar a invasão de privacidade à polícia. O conteúdo das mensagens está sob segredo de justiça.

Em nota, a Cúria Diocesana informou que a Santa Sé solicitou a investigação prévia dos três sacerdotes conforme exige o Código de Direito Canônico, a qual será feita pelo Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Cascavel, também no oeste. "O Decreto Administrativo do Tribunal Eclesiástico determinou que, durante a investigação processual, os sacerdotes citados fossem afastados de suas funções ministeriais e ofícios. As disposições atuais poderão ser revogadas ou findarão ao cessar o Processo Penal Canônico", diz o comunicado assinado pelo chaceler do Bispado, padre Mariano Venzo.

Na época em que o caso foi divulgado, o advogado Álvaro Albuquerque, que representa os sacerdotes, alegou que um funcionário roubou a senha do bispo e acessou mensagens eletrônicas confidenciais trocadas entre Dom Dirceu e outros religiosos. As mensagens continham críticas a alguns padres, cardeais e até ao Papa Francisco. Nestes e-mails, eles (o bispo e outros religiosos) falam mal das pessoas. O bispo falando mal do próprio Papa (Francisco), que acabou de ser eleito (…). E basicamente xingando, falando pejorativamente, colocando apelidos e denegrindo a imagem de, pelo menos, dez a 20 padres aqui da diocese”, afirmou o advogado dos padres denunciados. Ainda segundo Albuquerque, pelo menos 50 paróquias da cidade tiveram acesso ao conteúdo das mensagens particulares.

No dia 19 de julho, Dom Dirceu falou sobre o caso em uma entrevista coletiva concedida à imprensa. Na ocasião, ele negou que teria falado mal dos sacerdotes e afirmou que não fez denúncia pessoal a ninguém. “Eu não conheço estas críticas e queria dizer mais: a pessoa que teve acesso ao meu correio eletrônico, ela pôde, também, escrever o que ela quis. E, para me incriminar, enviar para as pessoas as quais ela achou conveniente”, defendeu-se ao dizer que só procurou a polícia para esclarecer o caso.

O padre Paulo de Souza atuou na paróquia de Pinhão entre os meses de abril e inicio de novembro deste ano. De acordo com a Secretaria da Paróquia, o padre retornou para Foz do Iguaçu na última semana, tão logo foi comunicado sobre o seu afastamento das funções públicas. O padre Paulo de Souza não foi localizado para falar sobre o assunto.

Cristina Esteche

Jornalista

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